O Coletivo de Acadêmicas Negras (CAN), idealizado pela professora de serviço social da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e coordenadora do NEABI (Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros), Valdenice Raimundo, realizou sua primeira atividade: um debate sobre as presenças negras na Academia, no dia 26 de junho. “Hoje, a atividade tem como objetivo fortalecer a juventude negra que quer se inserir no espaço da universidade, no mestrado, doutorado, na vida acadêmica, como futuros professores”, comentou Valdenice.
O CAN é composto por professoras da Unicap, da UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco), da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), da Uninassau (Universidade Maurício de Nassau) e do ASCES-UNITA (Centro Universitário Tabosa de Almeida). O grupo tem se reunido para pensar sobre o cotidiano, sobre formas de combater o racismo e compartilhar experiências profissionais. E fizeram o convite para a juventude que quer acessar esse espaço. As integrantes do CAN querer contar suas histórias com o intuito de fortalecer esses jovens e incentivá-los a entrar na área acadêmica.
No evento do dia 26, o grupo estava representado por seis mulheres, dentre elas a professora do curso de história da Unicap Maria Emília, que falou sobre a expectativa com os trabalhos realizados pelo coletivo: “Eu imagino que esse coletivo vai inaugurar um movimento dentro da universidade, criar de forma mais sistemática um espaço acadêmico e também de interação entre as pessoas, para a gente discutir essa transversalidade entre vida cotidiana, vida acadêmica, expor nossas pesquisas e experiências como mulheres negras acadêmicas”.
“Eu parto do princípio de que a universidade brasileira foi pensada por uma elite para atender os interesses dessa mesma elite, deixando o povo preto e pobre do lado de fora dos muros da universidade. Isso começou a ser reformulado a partir do ano de 2012, por conta da promulgação da Lei 2711, que é uma demanda histórica dos movimentos sociais negros e que estabelece cotas de 50% para pessoas pobres e pretas entrarem na universidade, o que acaba sendo uma mudança social extremamente importante. Nós estamos aqui porque queremos fortalecer esses jovens, negros e negras”, contou a professora do Centro de Educação da UFPE, Auxiliadora Martins.
Valdenice Raimundo, professora de serviço social da Unicap, coordenadora do NEABI (Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros) e idealizadora do Coletivo de Acadêmicas Negras
Já Ana Paula, professora do curso de Administração, falou sobre suas motivações: “Estou participando desse movimento pela questão que me inquieta, como mulher, como negra, e pela minha própria história de vida. Estou aqui para falar um pouco da minha experiência e, de certa forma, dizer aos meus irmãos de cor, de religião e de fé que eles têm um espaço dentro da academia, mas que não é fácil. Apesar de todos os caminhos que traçamos para chegar na universidade, dentro da própria universidade eles sofrem racismo. O caminho é longo, mas sempre tem pessoas para nos ajudar.”
Natalia Diógenes, professora da Uninassau e doutoranda na área de Psicologia na UFPE, comentou sobre a importância do movimento: “Eu acho que esse movimento representa um processo de reverter o lugar no qual a sociedade racista brasileira colocou a população negra de modo geral. Nesse momento, viemos frisar a importância das presenças negras em todos os espaços. A gente vivencia um racismo que não é a nível comportamental, não é algo que algumas pessoas agem e outras não, mas é um racismo institucional. Ele está atrelado na formação, no histórico social do nosso país e nos atinge a todo momento, em diversos níveis.”
Natália é a única mulher negra de sua turma de doutorado e acredita que a questão vai além de serem apenas poucas mulheres negras na Academia. “Precisamos dizer que esse lugar é nosso por direito. Esse é um momento de denúncia e de fortalecimento”.
A professora da UFPE, Flávia Clemente, deixou o seu registro da importância dessa unificação e fortalecimento de umas às outras: “Gostaria muito de registrar a felicidade de estar compartilhando esse momento com professoras maravilhosas, todas batalhadoras. Tenho certeza de que as nossas histórias vão ter encontros em virtude do racismo e do sexismo que a gente vive na sociedade brasileira, desde sempre.”
Fonte: Unicap (Recife/PE)
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