10ª Semana Socioambiental da Unicap

A abertura da 10ª Semana Socioambiental da Unicap (SSU) movimentou o campus na noite desta terça-feira (19) com o público sendo recebido no auditório G1 ao som do MPB Unicap. O evento, promovido pelo Instituto Humanitas Unicap (IHU), tem como tema Salvaguardar a vida e o planeta: uma agenda inadiável. A mesa diretora da Universidade fez parte da abertura da programação.

Em tom de agradecimento, o reitor Pe. Pedro Rubens, SJ, relacionou a décima edição da SSU aos dez anos do pontificado do Papa Francisco, que enxerga as crises humanitária e ambiental como uma só: a crise socioambiental. “É muito importante discutir esse problema tão grave dentro de uma universidade para responder ao Grito da Terra e dos Empobrecidos”. Ele ainda destacou a função das Cartas elaboradas ao final do evento contendo propostas de ação. “Que elas possam contribuir de uma forma eficaz para que a gente possa reverter essa situação”.

Na sequência, o coordenador do IHU e do evento, o vice-reitor Pe. Lúcio Flávio Cirne, SJ, voltou a agradecer aos colaboradores e às equipes envolvidas na realização da SSU. Ele chamou a atenção para o tema fazendo uma reflexão ao citar a Laudato Sì. “A natureza é um campo aberto de possibilidades com consistência e autonomia próprias. Pela primeira vez, num documento deste tipo, percebemos um mundo em constante evolução e aberto à transcendência”.

Em outro momento, Pe. Lúcio relacionou as ligações entre as questões ecológicas à pobreza. “Ao realizarmos essa Semana, não podemos esquecer as vítimas da fome, da miséria, dos fenômenos extremos, como por exemplo, incêndios florestais, e demais desastres socioambientias”.

Após as saudações iniciais, a palestra de abertura ficou a cargo do professor Taciano Lemos Milfont. Doutor em Psicologia Social e Ambiental pela Universidade de Auckland, mestre em Psicologia Social pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e ex-aluno de Psicologia pela Unicap, ele falou por meio remoto direto da Nova Zelândia. Desde 2020, o pernambucano de Olinda atua como professor na University of Waikato.

Ele estruturou sua fala em três momentos a partir de perguntas relacionadas aos problemas ambientais globais (As pessoas entendem o problema? Se entendem, por que não estão agindo?); Distanciamento psicológico como paradigma teórico-prático; Como as Ciências Sociais e comportamentais podem contribuir? E os “Otimistas obstinados com visão de futuro coletivo”.

O pesquisador destacou o período geológico chamado de Antropoceno, que é caracterizado pelo comportamento humano que influencia o clima do planeta. Ele citou vários outros estudiosos do assunto, a exemplo de David Artenborough e sua teoria da Síndrome da Linha de Base, em que cada geração define a linha de base (ou norma) em relação ao ambiente natural pelo qual experimenta.

“Na minha infância, nas viagens para o interior, o para-brisa atingia vários insetos na estrada atraídos pela luz do carro. Hoje isso não acontece mais devido ao uso de agrotóxicos. Minhas filhas já veem isso (ausência de insetos) como algo normal. Ou seja, a percepção do impacto ambiental é reduzida a cada geração”, explicou.

Para Milfont, as pessoas estão cientes das mudanças ambientais, mas há barreiras para a não-ação. Uma delas é a desesperança e o distanciamento psicológico “manifestado em sentimentos de que esses problemas são incertos, ocorrerão longe daqui, no futuro e com outras pessoas. Se pensarmos assim, a nossa motivação de ação diminui. É uma barreira para não-ação”.  O pesquisador mostrou dados de estudos que comprovam os efeitos dos problemas ambientais na saúde mental. “A preocupação com a mudança climática tem impacto longitudinal em sofrimento psicológico, independentemente da idade”.

Ainda de acordo com pesquisadores citados por Milfont, o distanciamento psicológico é relacionado ao viés espacial. “Os problemas ambientais tendem a ser percebidos como mais preocupantes quando ocorrem a distâncias geograficamente maiores. A situação está melhor aqui do que lá”.

Outra pesquisa mostrada por ele confirma essa dimensão espacial. O estudo feito a partir da percepção das pessoas em 26 países apontou que a “a gravidade dos problemas ambientais foi classificada como pior no nível mundial do que no nível nacional”.

Sobre como as Ciências Sociais podem contribuir para enfrentar o problema, Milfont ressaltou que as mudanças climáticas são fruto de ações comportamentais humanas e que as ciências sociais têm de estar presentes nos debates ambientais. “As pessoas são motivadas a agir quando pensam que abordar as mudanças climáticas resultará em uma sociedade mais solidária e ética e promoverá o desenvolvimento econômico/social”, frisou.

O evento foi transmitido na íntegra pelo canal da Unicap no YouTube. Confira aqui.

Fonte: Unicap
portal.unicap.br

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