1º Encontro da Província do Brasil 2019 reúne jesuítas e leigos

Jesuítas e leigos reuniram-se no Mosteiro de Itaici, em Indaiatuba (SP), para o primeiro Encontro da Província do Brasil 2019. Durante três dias, de 24 a 26 de julho, cerca de 340 participantes refletiram a missão da Companhia de Jesus como Corpo Apostólico, sendo orientados por três grandes temas: Preferências Apostólicas Universais; Política de Proteção de Menores de Idade e Pessoas Vulneráveis; e Amazônia: Sínodo e Ecologia Integral.

Na quarta-feira (24), o encontro foi iniciado com um momento de Oração coletiva, seguida pelas boas-vindas dada aos presentes pelo Provincial, padre João Renato Eidt. “Estamos aqui reunidos por razões muito importantes. E a razão mais importante é o próprio Senhor que nos chamou, Ele que nos guia. É por causa Dele que queremos conviver, agradecer e também renovar o nosso espírito como Corpo Apostólico, jesuítas, leigos e leigas que trabalhamos a partir do carisma inaciano”, afirmou o Provincial, acrescentando: “Que seja um encontro celebrativo e de ação de graças”.

Os três dias foram muito intensos, com diversas atividades. Em um dos momentos, padre Francys Silvestrini, professor da FAJE (Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia), e Lucimara Trevizan, diretora executiva do Centro Loyola de Belo Horizonte (MG), conduziram o momento de Memória Agradecida pelos 470 anos da chegada dos jesuítas ao Brasil e também pelos 4 anos e 8 meses da criação da Província do Brasil, refletindo sobre a caminhada trilhada durante esse período e o futuro da missão. “Nós pertencemos a uma história que nos precede há muito e somos também agentes que estamos preparando a história. Se Deus quiser, outros agentes virão. Então, que essa memória tenha a memória remota, do presente e do futuro, o que sonhamos e construímos juntos”, ressaltou o jesuíta.

As Preferências Apostólicas Universais foram tema da palestra do padre Claudio Paul, assistente Regional da América Latina Meridional da Companhia de Jesus, que discorreu sobre o que a Ordem religiosa deseja alcançar por meio dessas orientações e quais os desafios que elas trazem. O jesuíta falou também da importância da colaboração, pois todos somos colaboradores na missão de Cristo. “Não é uma questão de encaixar as Preferências Apostólicas em nossos cotidianos, mas devemos nos perguntar onde queremos chegar daqui a 10 anos, sendo animados, focados e estimulados por essas preferências da Companhia”, afirmou padre Claudio Paul.

O encontro contou, também, com a presença de Dom Erwin Kräutler, bispo emérito do Xingu (PA) e vice-presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), que falou sobre o tema Amazônia: Sínodo e Ecologia Integral. Além de relembrar os fatos que foram fundamentais para a concretização do Sínodo para Amazônia, que acorrerá de 6 a 27 de outubro de 2019, no Vaticano, Dom Erwin destacou as 10 expectativas em torno da assembleia eclesial:

  1. A valorização de leigas e leigos a serviço (ministério) de suas comunidades sem clericalizá-los.
  2. O papel da mulher como evangelizadora não só na família, mas também nas comunidades, e vigorosa defensora dos direitos humanos, com acesso ao diaconato.
  3. O carisma das ordens e congregações religiosas e sua inserção nas comunidades amazônicas.
  4. A busca de alternativas para se enfrentar a ausência da Eucaristia em milhares e milhares de comunidades, quiçá descobrindo ao lado do tradicional um outro modelo de presbítero (não reservado apenas aos homens).
  5. O revigoramento das Comunidades Eclesiais de base como primeiro e fundamental núcleo das dioceses e prelazias.
  6. A inculturação dos sacramentos na vida dos povos originários e integração de expressões culturais autóctones na Liturgia.
  7. A conscientização e sensibilização de toda a sociedade brasileira em relação à defesa da Amazônia diante da voracidade de empresas que golpeiam e arrasam esse macrobioma.
  8. A implementação da Encíclica “Laudato Sì” nas comunidades amazônicas e brasileiras.
  9. Um incentivo especial à pastoral urbana frente ao inchaço das cidades e o êxodo rural.
  10. O escasso uso de meios modernos de comunicação ou a ausência de equipamentos apropriados nas dioceses e prelazias.

Em contribuição à fala de Dom Erwin, o padre Alfredo Ferro, coordenador do Projeto Pan-amazônico da CPAL (Conferência de Províncias da América Latina e Caribe), recordou a caminhada de preparação para o Sínodo. Esse trabalho envolveu a escuta dos povos amazônicos e a sistematização dessas informações pela REPAM, que gerou um documento de 200 páginas, posteriormente enviado ao secretariado da assembleia eclesial.

Padre Alfredo Ferro contou que foram realizados vários encontros na região com o objetivo de levantar quais são os questionamentos, os interesses e os desejos que a população local tem em relação ao Sínodo e à Igreja. “Ouvimos os povos indígenas, migrantes, ribeirinhos, camponeses, quilombolas, afrodescendente e pescadores, ou seja, uma multiplicidade de sujeitos foi consultada para o Sínodo”, contou o jesuíta. Ainda em sua apresentação, ele ressaltou a importância do pós-Sínodo: “Essa caminhada é fundamental, nós não podemos ficar apenas no Sínodo e em seu documento. O que acontecerá depois? Esperamos que a Igreja continue nessa dinâmica e a REPAM continue prestando esse serviço”.

Ao final do encontro, o padre David Hubald Romero, delegado para a Preferência Apostólica Amazônia, lembrou que o Sínodo, que dá continuação à Encíclica “Laudato Sì”, é o grito para se cuidar da Casa Comum, as pessoas e a criação, a natureza. “A palavra Sínodo tem o significado de caminhar juntos e, na Amazônia, tem crescido muito o sentido de rede. Juntos somos mais. Partilhar, somar e unir nossos dons e talentos diante dos grandes desafios. Vamos levar para frente as posturas de escutar, cuidar e caminhar juntos. Nunca podemos nos esquecer que todos nós, cada um e cada uma, somos chamados a ser guardiões da fé, da floresta e da fraternidade para a maior glória de Deus”, lembrou o jesuíta.

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