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60 anos de Edições Loyola

Na mitologia grega, Pégaso é o cavalo alado que representa a imortalidade. Para a Edições Loyola, ele representa a ousadia e a velocidade

A propagação da fé é considerada uma das missões mais importantes que um jesuíta recebe ao ingressar na Companhia de Jesus. Mas que fé é essa e como difundi-la? Sobre esses questionamentos, o padre Danilo Mondoni afirma que essa fé é, justamente, “a fé em Deus, que ama o ser humano e deseja que ele atinja sua plenitude”. Na busca por essa vida plena, a Ordem religiosa sempre teve nos livros, revistas e outros tipos de publicação instrumentos de apoio para ajudar as pessoas a refletirem e a se reconciliarem com Deus, consigo mesmas, com os outros e com a criação.

No Brasil, nessa missão de ajudar o ser humano a ser plenamente humano, nasceu a Edições Loyola, editora e gráfica que celebra 60 anos de existência em 2018. Atual diretor da instituição, padre Danilo conta que essa tradição dos jesuítas no campo das publicações teve início ainda na época de Santo Inácio de Loyola, fundador da Ordem religiosa. “No último ano de sua vida, Inácio fez questão de erigir uma tipografia para confeccionar e produzir apostilas ou livros de baixo custo para os alunos”, explica.

Com o intuito de que os conteúdos chegassem ao maior número possível de pessoas, os jesuítas permanentemente tiveram o espírito de se lançarem em novos projetos. “Sempre estivemos envolvidos com comunicação de livros e revistas, principalmente, a partir do século XIX. Esta é uma longa tradição, que permeia diversos campos, seja de espiritualidade, de atualidade, de política, de religião, etc. Então, faz parte dessa dimensão da promoção cultural, que é um modo de contribuir para que o ser humano realize sua missão de refletir”, ressalta padre Danilo.

DIVERSIDADE
Esse diálogo com a diversidade presente no mundo contemporâneo ficou evidente durante a participação da Loyola na 25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, realizada entre os dias 3 e 12 de agosto, na capital paulista. No evento, que reuniu as principais editoras, livrarias e distribuidoras do País, a instituição jesuíta marcou presença com estande e vários eventos.

Nesse contexto, como uma das várias obras da Companhia de Jesus, a Edições Loyola carrega consigo a identidade inaciana, reconhecida pela capacidade de estabelecer diálogo com diferentes culturas e áreas do saber. “A Edições Loyola é um grande e poderoso instrumento de evangelização no Brasil. Durante esses 60 anos de sua existência, muitas publicações importantes no campo das Sagradas Escrituras, da Teologia, da História da Igreja, da Filosofia, da Literatura e de outras ciências ajudaram a formar a vida religiosa e o clero brasileiro”, afirma padre João Renato Eidt, provincial do Brasil.

Ele lembra que “muitas gerações de jesuítas estudaram Filosofia e Teologia e se formaram na espiritualidade inaciana por meio dos livros publicados pela Loyola”. Padre João Renato também destaca que a espiritualidade inaciana está sendo vivida cada vez mais por leigos e que isso se deve também graças às publicações editadas pela Loyola. Além disso, ele ressalta que a diversidade de conteúdos (veja ao lado) publicados pela editora ajudou na formação de gerações de brasileiros, sejam eles cristãos ou não.

NOSSA HISTÓRIA

Desde 1972, a Edições Loyola está localizada no bairro do Ipiranga, em São Paulo (SP)

A inspiração para a fundação da Edições Loyola começou em 1958, com a revista Coleção Horizonte, em Belo Horizonte (MG). Dedicada aos jovens, a publicação abordava temas delicados para a época, como namoro, primeiro beijo e conflito entre pais e filhos, além de trazer artigos de psicólogos, sociólogos, educadores, médicos, entre outros especialistas. Em 1961, com o sucesso da revista, o padre espanhol Antonio Matienzo, editor da Coleção Horizonte, decidiu consultar o provincial da época para pedir transferência para São Paulo, onde havia mais recursos para investir na publicação. Autorizado pelo superior, ele e o companheiro jesuíta Fidel Garcia Rodríguez mudaram-se para a capital paulista. “Em São Paulo, com a revista, comecei a visitar vários colégios da cidade e a publicação teve uma aceitação muito grande. Chegamos a conseguir quase 2 mil assinaturas”, lembra padre Fidel, que hoje, aos 79 anos, dedica-se à Espiritualidade Inaciana.

Nessa época, os dois jesuítas imprimiam a revista na gráfica chamada Tipografia Canísio de Ação Social, que pertencia à FEI, atual Centro Universitário da Companhia de Jesus. “Essa gráfica, localizada na Rua Vergueiro, estava paralisada. Então, o padre Antônio e eu a reativamos e passamos a imprimir a revista lá”, conta o jesuíta. Em 1963, o irmão Fiório Allocchio foi destinado a colaborar na publicação. “Nesse período, começamos a pensar que as coisas estavam muito complicadas, porque editávamos livros, mas não tínhamos editora por trás e nenhum grupo que nos apoiasse. Então, em maio de 1964, fundamos a Loyola oficialmente”, recorda padre Fidel.

25 DE JULHO
Em 2008, por ocasião das celebrações dos 50 anos da Edições Loyola, foi estabelecido que 25 de julho é a data oficial para comemorar a fundação da editora. “Não conhecemos a data precisa da fundação, por isso estabelecemos 25 de julho (Dia do Livro), por ser uma data mais emblemática”, explica padre Danilo.

Em 1969, os equipamentos da Tipografia Canísio foram adquiridos pela Edições Loyola, que “ampliou sua gráfica com novas máquinas tipográficas, linotipos e o setor de acabamento”, explica padre Danilo, atual diretor da instituição. Logo após essas aquisições, no final de 1972, a Edições Loyola foi transferida para a atual sede. O padre Fidel conta que as obras do metrô tinham começado e a Loyola não podia mais permanecer na Rua Vergueiro. “Então, saímos para procurar um local e compramos onde está atualmente, na Rua Mil Oitocentos e Vinte e Dois, no bairro do Ipiranga”, relembra.

Para o padre Danilo, foi nesse período que a Loyola se consolidou. “O ano de 1972 assinala o início daquilo que percebemos como a Loyola atual, ou seja, essa união da editora e da gráfica, que depois começaria a se abrir para trabalhos externos”, explica. Um pouco antes desse período, o jesuíta recorda a chegada do padre Gabriel Corral Galache, que atuou quase 30 anos como diretor da Loyola. “Grande parte daquilo que a editora é hoje deve-se a esse período do padre Galache.  Nessa época, aconteceu o estabelecimento já mais seguro da Loyola e sua expansão”, afirma o jesuíta.

Na década de 1990, o padre Galache deu um grande impulso com a criação da Loyola Multimídia. Inaugurada em 1998, a ideia era produzir conteúdos audiovisuais. “Os programas eram de alta qualidade e os temas eram diversos. Tínhamos programas de entrevistas e chegamos a trazer pessoas como dom Paulo Evaristo Arns, o escritor Rubem Alves, o educador Içami Tiba, além de jesuítas como os padres João Batista Libanio e França Miranda. Eram programas muito bons, muito bem preparados. Tínhamos uma equipe muito boa”, conta padre Fidel.

Segundo ele, um dos programas de mais sucesso chamava-se Terceiro Milênio e era veiculado pela Rede Mulher e pela Rede Vida. “Produzido na Loyola, esse programa existiu até 2004 e tinha uma audiência diária, medida pelo Ibope, de mais de 4,5 milhões de pessoas”, conta o jesuíta.

A Loyola Multimídia funcionou de 1998 a 2005, quando encerrou suas atividades por dificuldades financeiras. “Nesse momento, optamos em nos concentrar naquilo que era próprio e foi a missão original da Loyola, que é a edição de livros”, explica padre Danilo.

Em 2012, com a diminuição das vendas, a Loyola entrou em uma grave crise financeira. Entretanto seu patrimônio cultural e sua contribuição para a formação das pessoas, por meio de suas publicações, foi essencial para a revitalização da instituição. “Nesse momento, perguntaram se eu aceitaria reassumir a função de diretor da Loyola. Sem nenhuma hesitação, aceitei a missão porque já tinha na cabeça o que, mais ou menos, precisava ser feito. Com isso, em vez de substituir pessoas, reestabeleci a direção colegiada, nomeando três diretores e depois os gestores. Nessa mesma semana, nós fizemos reuniões, estudos, reajustamos os preços e os clientes começaram a voltar. Alguns até diziam ‘Eu reconheço que o preço de vocês é um pouco mais alto, mas a qualidade do serviço vale a pena’”, conta padre Danilo.

Nessa caminhada da Edições Loyola, os colaboradores têm papel fundamental. Segundo padre Danilo, trata-se de um trabalho coletivo. “Para termos alcançado esse resultado da revitalização da Loyola, os nossos parceiros internos, os nossos colaboradores, foram fundamentais. São pessoas, realmente, comprometidas com a obra e com esse tipo de trabalho. Felizmente, estamos conseguindo e as pessoas se sentem realizadas”, afirma.

Em seis décadas, a Loyola contou com a contribuição de muitas pessoas, jesuítas e leigos. Para o padre João Renato, sem a colaboração delas, não seria possível participar da formação dos brasileiros nas diversas áreas do saber humano. “Sou muito grato por tudo aquilo que os nossos colaboradores nos ajudaram e nos ajudam a realizar em nossa missão de evangelizar e preparar cidadãos para o futuro”, afirma o provincial.

REVISTA MENSAGEIRO
Em 1981, a editora do Coração de Jesus, localizada no Rio de Janeiro (RJ), e também pertencente aos jesuítas, foi associada a Edições Loyola. Por meio dessa fusão, a Loyola assumiu a edição e a administração da revista Mensageiro do Coração de Jesus, que tem 122 anos.

Hoje, a Loyola conta com o empenho de 125 colaboradores, divididos entre gráfica (70%), editora (20%) e a revista Mensageiro do Coração de Jesus (10%). São pessoas como Carlos Arlindo Custódio, 48 anos. Conhecido por todos como Carlão, ele trabalha há 22 anos na Loyola, onde já desempenhou várias funções. “Durante vários anos, eu trabalhei como serviços gerais, atendia telefone, ficava na portaria, atuava na logística”, lembra. Atualmente, no cargo de gestor de Patrimônio, ele é o responsável por zelar pela estrutura física da instituição e pelo gerenciamento das equipes que cuidam da limpeza, da segurança, da recepção e da copa.

Para Carlos, a Loyola lhe proporcionou bem mais do que crescimento profissional. “Aqui, encontrei pessoas muito especiais. A Sandra, com quem sou casado há 20 anos e que me deu duas filhas; o irmão Allocchio, que me marcou muito, pois foi como um pai para mim, uma pessoa boa, que procurava sempre ajudar os outros. Nesses anos, eu convivi com muitas pessoas boas”, afirma ele, que completa: “aqui, eu me sinto em casa e tudo o que faço é com o maior gosto”.

Esse “fazer com gosto”, citado por Carlos, também é sentido por Ronaldo Pereira Lima, 43 anos. Apesar de recém-contratado, ele está há cerca de três meses na Loyola, o coordenador da área Comercial conta que trabalhar em uma instituição jesuíta é uma grande felicidade. “A Loyola é uma obra muito importante. Então, você acaba aprendendo muita coisa. Eu sempre fui apaixonado pelo Pateo do Collegio e é muito bom ver que a Loyola faz parte dessa rede jesuíta”, afirma.

Ele também ressalta o acolhimento dos colegas no ambiente de trabalho. “As pessoas são muito tranquilas, educadas, atenciosas e, de verdade, confesso que minha preocupação em sair do emprego anterior era justamente isso: não achar novamente um local assim. Hoje em dia, é cada vez mais raro encontrar um local onde as pessoas têm esse discernimento, essa tranquilidade e o respeito, que acho que é o mais importante”, conta Ronaldo, que tem grandes expectativas para o futuro. “Em uma reunião de que participei, o provincial falou que ‘somos parte de uma família levando a palavra de Jesus para todo mundo’. Essa fala dele me inspirou e, quanto mais a gente conseguir disseminar isso, mais contente ficarei”, finaliza.

PERSPECTIVAS PARA O FUTURO

Quando o logo da Edições Loyola foi pensado, a ideia era representar a ousadia, ou seja, a coragem de sempre ir em frente. “O cavalo é veloz, tem vigor, e o intuito era a velocidade da notícia, da Boa Notícia”, explica padre Fidel, que participou da idealização do símbolo , que hoje está impresso em todas as publicações da editora. Após 60 anos de história, assim como o cavalo alado, a Loyola continua imbuída de ousadia e ânimo para continuar sua trajetória. “Devemos sempre ter ousadia, procurando tomar iniciativas ousadas que contribuam para a realização da missão”, defende padre Danilo.

Nesse horizonte, vislumbrando o futuro, recentemente, a Loyola investiu em novos equipamentos. “Estávamos com impressoras com 20, 30 anos de uso. Com esse tempo, muitas peças já não têm reposição, então, você tem de recorrer a algumas adaptações, a mecânicos. Então, daí vem a necessidade também de renovar. Outro fator decisivo foi a queda bem acentuada das tiragens. Hoje em dia, as editoras tiveram de reduzir, drasticamente, seus lançamentos. Nós também estabelecemos como meta cinco ou seis lançamentos por mês, mas, felizmente, com o nosso ritmo, a gente está tendo oito, nove, às vezes, até 10 lançamentos”, conta padre Danilo.

Segundo o jesuíta, com essa redução de tiragem, muitas vezes, é necessário reimprimir livros com quantidade reduzida, 300 ou 500 exemplares, ou até 100, quando se trata de um livro importante que precisa ser mantido em catálogo. “Assim, surgiu o pensamento de recorrermos à impressão digital, as impressoras de baixa tiragem. Nesse sentido, faço questão de salientar os colaboradores que trabalham aqui, realmente, os meus diretores e os gestores, os chefes da gráfica, são pessoas muito sérias. Eles pesquisaram bastante e foram atrás para conhecer os novos equipamentos do mercado. Com isso, já em outubro de 2017, nós contratamos, então, a compra dessas novas impressoras digitais”, afirma.

Esses novos investimentos, que saíram do orçamento da Loyola, confirmam que a instituição está pronta para os próximos 60 anos. “Essas inovações estão sendo feitas de forma muito realista. Nisso, destaco dois aspectos fundamentais: primeiro, o dinheiro próprio da Loyola, ou seja, um investimento nosso; o segundo é que isso não resultou em demissão de ninguém, as pessoas foram realocadas e treinadas para essas novas máquinas e ainda tivemos de contratar mais dois ou três colaboradores. Então, na parte de justiça social, estou muito contente”, ressalta padre Danilo.

“Devemos sempre ter ousadia, procurando tomar iniciativas ousadas que contribuam para a realização da missão”

Pe. Danilo Mondoni, SJ

Atualmente, as vendas da Loyola são feitas pelo site www.loyola.com.br, mas grande parte delas ainda é pelos distribuidores. A editora jesuíta não conta com lojas físicas. Segundo padre Danilo, desde o início, essa foi uma opção. “Como faz parte de uma associação filantrópica, Edições Loyola não pode ter loja. Sendo assim, o trabalho é dividido para os distribuidores, sempre trabalhamos com a colaboração das Paulinas, da Paulus e da Vozes. Mas o parceiro maior, responsável por mais de 40%, é a DLL, a Distribuidora Loyola de Livros. Inclusive, o pessoal confunde pensando que são nossas lojas por causa do nome Loyola”, explica o jesuíta.

A Loyola está entre as maiores editoras do Brasil. O catálogo ativo tem mais de 2 mil títulos dentre os mais de 5 mil já publicados pela editora. “Poucas editoras, no Brasil, têm um catálogo desse tamanho. E temos outra característica, a Loyola atende um público bem diversificado. Tem uma audiência efetiva no meio acadêmico, com as suas publicações na área de Filosofia, Teologia, Educação, Psicologia, Bioética, entre outras áreas, e também atende um público mais focado na área da Espiritualidade, Pastoral e Magistério da Igreja. Nossas publicações propõem, inclusive, um diálogo interessante entre diversas áreas do conhecimento acadêmico e a espiritualidade; por exemplo, temos uma nutricionista (Dra. Gisela Savioli) que agrega a questão nutricional à espiritual. Esse compromisso reforça o nosso objetivo maior de promover os valores cristãos e humanos, em uma combinação atual entre a fé, a cultura e a justiça. Isso permite a Loyola um diálogo bem abrangente com uma diversidade bem grande de público”, explica Paulo Moregola, diretor Comercial e de Marketing.

Com todos esses investimentos e a diversidade de público, a instituição jesuíta pode sonhar com os próximos anos. Para o padre Fidel, que participou da fundação da Edições Loyola, o importante é sempre acreditar. “Eu acredito muito na importância de veicular conteúdos que ajudem a florescer a vida, a fortalecer os vínculos das famílias, a educar em valores. Eu acredito muito nos meios de comunicação quando são ideias que vêm somando para, realmente, enriquecer as pessoas, para uma vida mais digna e, consequentemente, fortalecer os vínculos humanos, para o exercício pleno da cidadania”, finaliza o jesuíta.

Para saber mais sobre a Loyola, assista ao vídeo que preparamos para você!

 

*Essa matéria foi publicada na 47ª Edição do informativo Em Companhia (Agosto 2018). Quer ler a edição completa? Então, clique aqui!

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