Para o padre Alfredo Sampaio a solidariedade, a obediência a Deus e o amor ao próximo traduzem-se na vivência da humildade. Sacerdote há 25 anos, ele decidiu comemorar seu jubileu sacerdotal, celebrado no dia 29 de junho, com o lançamento do livro Solidários, Obedientes e Amorosos – As Novas Faces da Humildade para o Mundo de Hoje. Em entrevista ao site do Centro Loyola de Fé e Cultura PUC-Rio, padre Alfredinho, como é conhecido pelos participantes dos retiros que orienta, fala sobre o livro e a relação entre a humildade e a espiritualidade inaciana.
O que motivou o senhor a escrever um livro sobre a humildade? Esse é um valor que está se perdendo no mundo atual?
Foram várias as razões que me levaram a escrever sobre a humildade. As pessoas que me conhecem sempre diziam que eu era uma pessoa humilde, eu não entendia se estavam me elogiando ou me criticando. Aprendi de minha mãe que ser humilde era um valor a ser buscado e conservado a qualquer custo. Sempre tive atração por estar próximo as pessoas mais humildes e, nelas, descobria a alegria que eu tanto perseguia. Ao me formar padre e ser doutor em Espiritualidade, ao ser enviado a Roma, na minha despedida, uma senhora idosa, muito simples, me chamou no canto e me disse: ‘Alfredinho, vá, mas não mude nunca: não perca a sua humildade!’. Emocionei-me com estas palavras e procuro até hoje coloca-las em prática. Certamente, hoje, a humildade não aparece na maioria dos manuais de teologia espiritual e no mundo acadêmico aguerrido não é um valor para nada. Por fim, outra razão que me levou a escrever sobre a humildade foi o meu trabalho junto aos moradores de rua dependentes químicos no Rio de Janeiro (RJ), onde aprendi o quanto não era humilde e precisava me colocar a serviço daqueles mais necessitados.
“[…] uma senhora idosa, muito simples, me chamou no canto e me disse: ‘Alfredinho, vá, mas não mude nunca: não perca a sua humildade!’. Emocionei-me com estas palavras e procuro até hoje coloca-las em prática.”
De que maneira o tema da humildade relaciona-se com a espiritualidade inaciana?
O tema da humildade é central nos Exercícios Espirituais e aparece no momento decisivo da Eleição da Vontade de Deus, no exercício denominado os Três Graus de Humildade que, para Inácio, é sinônimo de Amor, de Amizade. Quem não está no segundo grau de humildade ao menos não pode sequer continuar o retiro inaciano. Daí se entrevê o valor que Inácio dava a essa virtude.
E como o livro pode contribuir para que o leitor reflita sobre o espaço que tem dedicado à humildade e à caridade em sua própria vida?
O livro é escrito em forma dialogal, colocando questões vivenciais a serem meditadas e respondidas à medida que se avança na leitura, pois a escola da humildade é assim: simples, insistente, perseverante, encarnada na vida, desinstaladora. As perguntas ajudam a não ler o livro de forma teórica, descompromissada, coisa impossível aliás na autêntica espiritualidade inaciana, onde o amor se traduz em serviço.
O papa Francisco declarou este como o Ano da Misericórdia e, em diversas ocasiões, as atitudes dele demonstram a preocupação de ser exemplo e agir conforme as palavras que prega. O senhor acha que nós, cristãos, podemos ser sinais da misericórdia de Deus para os outros?
O papa Francisco foi outro exemplo que tomei para escrever o meu livro. Ele irradia humildade em tudo o que faz, diz ou toca. A misericórdia é outro nome da humildade, pois ela é irmã da compaixão e da solidariedade.
O livro está disponível no site da Edições Loyola: www.loyola.com.br
Fonte: Centro Loyola de Fé e Cultura PUC-Rio