Unisinos desenvolve aplicativo de acessibilidade

Da esq. p/ dir., Rosane Falcão, o professor Jorge Barbosa e Renan dos Santos

Acessibilidade, autonomia e liberdade. Na Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), uma iniciativa que alia pesquisa e inovação pode tornar essas três palavras em uma possibilidade real no dia a dia de pessoas com deficiência física ou problemas de locomoção. Trata-se do Projeto Hefestos – nome inspirado no deus grego que é renegado pelo próprio pai, Zeus, por ter deformidades nas pernas -, concebido pelo Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento em Computação Móvel (MobiLab), do Programa de Pós-Graduação em Computação Aplicada (PIPCA) da universidade.

O objetivo do projeto, iniciado em 2009, é viabilizar um sistema de Tecnologia Assistiva à pessoa com deficiência, usando Computação Móvel para facilitar o seu ritual diário de transpor as barreiras impostas pelas infraestruturas dos prédios e cidades. Desde 2011, três protótipos já foram implementados e testados. O resultado de maior destaque, porém, é a cadeira de rodas motorizada integrada ao sistema, como afirma o professor Jorge Barbosa, coordenador do Hefestos.

A ideia é simples. Basta um touch na tela de um dispositivo móvel, como smartphone ou tablet, para acessar o aplicativo do sistema Hefestos. Pelo aplicativo, o usuário é informado sobre os recursos de acessibilidade mais próximos – como rampas, elevadores e banheiros adaptados – à medida que se desloca pelas regiões mapeadas e registradas no servidor.

Em espaços externos, a conexão com o servidor ocorre via internet: os recursos de mobilidade são fornecidos ao aplicativo de acordo com a sua localização determinada pelo GPS. Já para os espaços internos, o funcionamento se dá de forma diferenciada. Além do aplicativo, foi desenvolvido um hardware para a leitura de tags de identificação por radiofrequência (RFID), instalados em diferentes pontos de prédios. Ao passar com a cadeira de rodas sobre as tags, a sua localização é enviada via bluetooth para o servidor que fornece, da mesma forma, as informações de mobilidade ao aplicativo.

“Além de apresentar os recursos de acessibilidade, esse sistema pode fazer um histórico de trilha dos cadeirantes. Tendo informações sobre os lugares mais acessados, por exemplo, pode-se criar uma série de serviços inteligentes para o percurso, favorecendo ainda mais a circulação e o bem estar dos usuários”, explica o professor Jorge.

Ciência aplicada na vida

Rosane Falcão, 34 anos, é auxiliar administrativa na Unisinos. Ela se diz acostumada a investir tempo e disposição além do necessário para seguir sua rotina. “Um dia sem dificuldades é completamente anormal para mim. Tenho uma rotina diária que envolve aula, trabalho, família, lazer e qualquer uma dessas atividades precisa ser detalhadamente planejada, desde o deslocamento até os recursos disponíveis nos ambientes que frequento”, afirma.

“Acreditamos que o principal desafio do projeto é disponibilizar o sistema para uso em larga escala por usuários, por exemplo, criando uma Cidade Inteligente Assistiva”

Jorge Barbosa, professor e coordenador do Hefestos

Rosane também é colaboradora do projeto, testando os protótipos, avaliando e compartilhando suas experiências. Para a auxiliar administrativa, a implementação do Hefestos pode fazer, efetivamente, a diferença na vida de quem tem dificuldade de locomoção. “As pessoas não se dão conta da importância de uma iniciativa como essa, até se depararem com os desafios que enfrentamos. Aos poucos, a sociedade tem se mobilizado e promovido a acessibilidade, mas os obstáculos ainda são grandes e não podem ser limitadores da nossa qualidade de vida e liberdade de ir e vir. O sistema desenvolvido na universidade tem potencial para reduzir nossos transtornos e fomentar nossa segurança”, completa.

O acadêmico de Ciências da Computação, Renan dos Santos, 23 anos, acompanha de perto a evolução do projeto, como um dos três bolsistas de Iniciação Científica (IC) da equipe. Ele não tem dúvidas de que a pesquisa agrega à sua formação profissional, mas também destaca outro papel que considera fundamental: “É muito importante participar desse processo de descobertas, observando o que está à nossa volta e usando os conhecimentos técnicos para melhorar o todo, considerando várias realidades.” Renan avalia que “a computação não é uma ciência que se limita aos códigos. Ela pode ser usada e vista concretamente em projetos como esse, oferecendo novas possibilidades para quem precisa”

Atualmente, entre outras investidas, o projeto encontra-se na fase de aprimorando do suporte ao acompanhamento de cadeirantes em ambientes internos. Mesmo assim, a pesquisa segue ambiciosa. “Acreditamos que o principal desafio do projeto é disponibilizar o sistema para uso em larga escala por usuários, por exemplo, criando uma Cidade Inteligente Assistiva. Para isso, seria necessário o mapeamento dos recursos de acessibilidade disponíveis na cidade e também a criação de um sistema que suportasse uma grande quantidade de usuários”, detalha o coordenador. Além dos três bolsistas de IC, a equipe orientada pelo professor Jorge Barbosa conta ainda com a colaboração de três mestrandos e dois doutorandos.

 

Fonte: Unisinos (Porto Alegre/RS)

Foto: Rodrigo W. Blum

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