FAJE discute relação entre teologia e diversidade

Em novembro, o grupo de pesquisa do Programa de Pós-graduação em Teologia da FAJE (Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia) promoveu o painel Teologia e Diversidade Afetivo-sexual. O público de professores, alunos, pesquisadores, representantes de diversas religiões e entidades da sociedade civil lotou o auditório. O evento ainda contou com as presenças do padre e professor Élio Gasda, orientador do grupo, e do reitor da instituição padre Álvaro Pimentel. Na opinião dos organizadores, a atividade foi um marco na teologia, quebrou paradigmas e atendeu um desejo do Papa Francisco.

O diálogo entre a teologia e a sociologia teve como interlocutores o teólogo André Musskopf, das Faculdades EST, e a socióloga e antropóloga Berenice Bento, da UnB (Universidade de Brasília). Berenice construiu o seu discurso a partir do depoimento da transexual Giovanna Eliodoro. Giovanna, que é estudante de história, narrou a realidade das pessoas excluídas, marginalizadas e violentadas por sua identidade sexual e por sua cor. Lembrou que a violência de gênero, o machismo e a discriminação por razões de sexo não são invenção ideológica; existe em corpos. Negra, da periferia e trans, Giovana concluiu sua fala questionando: “e agora, o que vocês vão fazer com meu corpo? Eu estou aqui, eu sou uma pessoa, eu existo e resisto.”

Os painelistas desconstruíram a narrativa de correntes de perfil conservador que criaram a narrativa denominada ‘Ideologia de gênero’ e apresentaram uma perspectiva política pelo viés de gênero. Berenice, que apresentou aos presentes seu último livro Transvi@dos: gênero, sexualidade e direitos humanos, denunciou o assassinato de mulheres, pessoas trans e travestis no Brasil. A socióloga não hesitou em afirmar que a Lei do Feminicídio deixa claro, que por aqui não se pretende discutir o problema, o importante é encarcerar o homem, pois matar é o seu papel e o da mulher é morrer.

André destacou que toda teologia é um discurso sexual, ou seja, construída sobre compreensões e a partir de “metáforas sexuais” (Althaus-Reid), que expressam e promovem um determinado tipo de práticas e relações em detrimento de outras. Lembrando o massacre de Orlando, nos Estados Unidos, e os recentes casos brasileiros, como o estupro de uma adolescente por 30 homens e o menino negro amarrado ao poste, Musskopf defendeu a necessidade de fazer teologia a partir dos corpos violentados, discriminados e marginalizados. Após abordagens convergentes, dezenas de questões foram apresentadas por escrito aos painelistas, o que demonstrou o interesse e a seriedade dos participantes.

A FAJE, animada pela Igreja em anunciar o Evangelho no mundo da diversidade afetivo sexual, acolheu lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgênero, seguindo assim a dinâmica do Papa Francisco: “Acolher, acompanhar, estudar, discernir e integrar”. A pastoral do século XXI é aquela que vai ao encontro do reconhecimento de todos e todas, pois, “cada pessoa, independentemente da própria orientação sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e acolhida com respeito, procurando evitar qualquer sinal de discriminação e, particularmente, toda forma de agressão e violência” (Amoris Laetitia, 250).

 

Fonte: FAJE (Belo Horizonte/MG)

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