No início do ano, o padre Egydio Schneider completou 70 anos de Companhia de Jesus. Reconhecido por muitos como visionário, o jesuíta deixou um legado significativo pelas obras jesuítas pelo qual passou, dentro elas: a Unisinos e o Colégio Anchieta.
Em outubro, quando completar 90 anos de idade, padre Egydio certamente se recordará do dia 28 de fevereiro de 1948, data na qual ingressou na Companhia de Jesus e, olhando para trás, vai ter a certeza de que tudo o que fez, valeu, sim, muito a pena.
Nascimento em Montenegro e início na Companhia de Jesus
Nascido em 31 de outubro de 1928, na cidade de Montenegro, no Rio Grande do Sul, Egydio Schneider é o terceiro de dez filhos do casal José Schneider e Luiza Bohn. De família católica, o jesuíta diz que, desde cedo, sentia algo diferente dentro de si, que o fez seguir a vida religiosa. “Quando tinha 12 anos de idade, ainda estava me decidindo, mas sabia que havia dentro de mim uma inquietação. Tinha um primo meu, por parte de mãe, que havia se matriculado para o seminário, na cidade de Gravataí. Um dia, minha mãe estava com minhas roupas todas prontas para eu ir para o seminário e eu disse que não queria mais. Meu pai, inclusive, já havia feito minha inscrição em Gravataí. Na época, como o único meio de transporte era o cavalo, meu pai levava três horas para ir e mais três horas para voltar do seminário dos jesuítas, em Salvador do Sul, que foi pra onde decidi ir. Lembro, inclusive, do meu número: 159. Acabei me decidindo por ir para o seminário, no qual fiquei até os 19 anos de idade”, relembra. “Fiquei em Salvador do Sul por seis anos estudando. De lá, fui para Pareci Novo, onde fiz dois anos de noviciado e outros dois anos de juniorado, onde aprofundávamos as línguas como o latim, o grego, o alemão”, diz.
Antes de ser ordenado sacerdote, em 1960, padre Egydio estudou Filosofia, no Colégio Cristo Rei, em São Leopoldo; Magistério, no Colégio Santo Afonso, onde ficou por dois anos, e no Colégio Anchieta, em Porto Alegre, no último ano. Após, fez Teologia, novamente no Colégio Cristo Rei. Dos tempos de Terceira Provação, o jesuíta lembra da rotina acelerada dos finais de semana. “Em 1962 fui para o Rio de Janeiro, em Volta Redonda, onde fiz a Terceira Provação – última etapa da formação jesuíta. Nos finais de semana, pegava trem para a cidade de Rezende, e atendia quatro localidades próximas, que contavam com paróquias. Pela distância e pelo tempo de viagem, acabava ficando na paróquia de Rezende, e só no dia seguinte voltava para casa”, conta.
Um dos idealizadores do campus São Leopoldo da Unisinos
Voltando da Terceira Provação, em 1962, padre Egydio trabalhou na direção espiritual dos alunos da Escola Santo Afonso, em São Leopoldo. Ao mesmo tempo, cursava Administração na Unisinos, que na época contava com aulas na antiga sede, no centro de São Leopoldo. Em 1966, a convite do padre Leopoldo Adami, assumiu a direção do Colégio Cristo Rei, onde ficou até 1970. Três anos depois, surgiu o convite para um novo trabalho, que se transformaria num divisor de águas para a Unisinos: a idealização do campus São Leopoldo. “No fim de 1973, em uma reunião que contou com a presença do padre provincial, soube que a Unisinos contava com reitor, vice-reitor acadêmico, no entanto, faltava alguém para assumir o cargo de vice-reitor administrativo. Aceitei tão logo fui convidado a assumir. Lá, fiquei por 24 anos, de 1974 a 1998”, destaca.
Padre Egydio ainda lembra como eram as aulas da Unisinos no prédio antigo, bem como a área onde se encontra o atual campus no Vale do Sinos. “A Unisinos dividia suas aulas entre o Prédio Histórico, no centro de São Leopoldo, que atualmente é o Centro de Cidadania e Assistência Social – CCIAS e demais colégios na cidade. Lembro que era muito difícil negociar datas e espaços. Quando escolhemos o local para abrigar o novo campus, não havia nada lá: luz, água, não havia nem acesso, que tivemos de fazer. Para se ter uma ideia, a construção contava com 300 homens e tudo era feito por gerador. Mas, mesmo diante das adversidades, em 1974, inauguramos o novo campus São Leopoldo. Em 12 de agosto, começaram as aulas, à noite, e em 12 de setembro, ocorreu a inauguração oficial, com a presença do então Ministro da Educação, Ney Braga, e demais autoridades”, recorda o jesuíta, orgulhoso com o trabalho.
Os anos à frente do Colégio Anchieta
Após 24 anos junto à Unisinos, padre Egydio aceitou outro convite muito especial: ser diretor geral do Colégio Anchieta, uma das mais antigas e respeitadas instituições de ensino de Porto Alegre. “Em 1998, com o falecimento do diretor geral do Colégio Anchieta, recebi o convite do então provincial para assumir o cargo vago na instituição de ensino. Padre João Claudio Rhoden, provincial na época, falou que estavam pensando no meu nome para o Colégio Anchieta. Me perguntou o que eu achava e pedi oito dias para responder. Cinco dias depois, me falou que faltavam dois dias. No sexto dia, liguei para ele e disse: ‘basta indicar o dia e a hora’. Trabalhei sete anos, de 1999 a 2006”, recorda.
“O nosso trabalho tem sempre em vista o bem espiritual. Muito do que fazemos aparece através da dedicação que a pessoa tem, da presença, do exemplo. Por isso, levamos sempre conosco o lema da Companhia de Jesus: Em tudo amar e servir”
Trazendo a bagagem de anos à frente de diversas construções na Unisinos, padre Egydio trouxe nova vida à instituição de ensino, com a manutenção e a criação de novos espaços para a comunidade educativa. “No meu tempo de Anchieta, fiz algumas obras. Falei que precisávamos inovar. Com isso, criamos novas salas, reformamos o prédio principal e também construímos o prédio junto à Rua Tomaz Gonzaga”. As obras trouxeram a assinatura do espírito empreendedor e idealizador do jesuíta. “Na época que assumi, o Colégio Anchieta tinha 2.450 alunos e eu disse que poderíamos aumentar 500 alunos, pelo menos. Lógico, que para construir o prédio para abrigar esses outros 500 alunos, nos custaria um tanto, mas depois de um determinado período de tempo, teríamos o retorno”, relembra padre Egydio.
Ao sair do Colégio Anchieta, padre Egydio ainda trabalhou na antiga sede da Associação Antônio Vieira – ASAV, mantenedora jesuíta, em Porto Alegre, bem como na ABEPARE, no centro da capital gaúcha. No final de 2014, o jesuíta ainda fez parte do grupo diretor das obras do novo campus Unisinos Porto Alegre. Fato curioso é que padre Egydio esteve presente na construção ou “pedra fundamental” dos campi tanto de São Leopoldo, na década de 1970, quanto de Porto Alegre, que foi inaugurado em dezembro de 2016.
A Companhia de Jesus com o passar dos anos
Quando perguntado sobre as mudanças que passou na Companhia de Jesus ao longo dos últimos 70 anos, padre Egydio Schneider deixou claro que toda e qualquer mudança é válida, mas sem deixar de lado as tradições. “É claro que, como em todas as mudanças, a base continua. Mas os canais de relacionamento, por assim dizer, estão mais abertos. A Companhia tem essa intenção de estar presente em todo mundo, na base de muito trabalho em conjunto”, diz. “O nosso trabalho tem sempre em vista o bem espiritual. Muito do que fazemos aparece através da dedicação que a pessoa tem, da presença, do exemplo. Por isso, levamos sempre conosco o lema da Companhia de Jesus: Em tudo amar e servir”, ensina.
Os prêmios e homenagens que nascem do reconhecimento
O espírito visionário e irrequieto de padre Egydio ajudou a mudar a história das instituições jesuítas por onde passou. E o reconhecimento pela importância de suas passagens pelas obras da Companhia de Jesus se traduz em diversas honrarias entregues ao longo dos anos.
Das honrarias recebidas, destacamos nove delas, que se dividem entre agraciamentos prestados pela Unisinos e pelo Colégio Anchieta. Da Universidade, por exemplo, ele recebeu uma placa pelos 24 anos de serviços à instituição, no qual atou como vice-diretor administrativo durante anos. Já a comunidade do Colégio Anchieta – em meio às comemorações dos 120 anos da instituição – lhe entregou uma homenagem pela significativa contribuição do jesuíta ao Colégio, no qual esteve à frente por sete anos.
Das premiações externas que recebeu, uma das mais relevantes foi o Prêmio de Educação Thereza Noronha, que é entregue pela Câmara Municipal de Vereadores de Porto Alegre às personalidades que se destacaram por sua valiosa contribuição à educação na capital gaúcha. Ao ser perguntado sobre qual dos prêmios e homenagens que recebeu ao longo dos anos foi o mais importante, o sacerdote foi taxativo. “Recebi algumas homenagens ao longo da vida, mas não me atrevo a escolher a mais importante delas. Para mim, todas são”, finaliza.
Fonte: Assessoria de Comunicação ASAV
Fotos: Matheus Kiesling/ASAV e Arquivo Histórico