Diretor do Centro MAGIS Burnier, em Brasília (DF), e coordenador do Plano de Candidatos ao Noviciado da Província dos Jesuítas do Brasil – BRA, Ir. Ubiratan de Oliveira Costa é graduado em Comunicação Social, com habilitação em Relações Públicas, pela Unicap (Universidade Católica de Pernambuco), e pós-graduado em Juventude Contemporânea pela FAJE (Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia). “Sou grato à Companhia de Jesus pela formação que recebi. Acho isso fundamental, pois a missão torna-se mais eficiente”, ressalta Ir. Bira, como é conhecido. Em entrevista ao informativo Em Companhia, o jesuíta contou também como tem sido atuar com os jovens: “Desde a minha primeira etapa de formação religiosa, me foi pedido que trabalhasse junto às juventudes”.
Conte-nos um pouco da sua história.
Nasci em João Pessoa (PB), em 28 de janeiro de 1978. Sou o penúltimo de cinco filhos de Severina Saraiva da Costa e Cledson José de Oliveira Costa. De família simples da periferia da capital, cursei o Ensino Fundamental em escola pública e o Ensino Médio na Escola Técnica Federal da Paraíba.
Como conheceu a Companhia de Jesus? E por que decidiu ser Irmão Jesuíta?
Conheci a Companhia por intermédio da minha primeira catequista, Ana Berto, uma ex-religiosa das Irmãs de Santa Catarina de Sena que atuava no colégio onde cursei o Ensino Fundamental. Com ela, fiz minha primeira Eucaristia. Depois, seguindo meu engajamento na igreja local, tornei-me catequista e, posteriormente, coordenador de grupo de jovens. Nesse tempo, a Igreja da Paraíba tinha forte as CEBs (Comunidades Eclesiais de Base) e também a PJMP (Pastoral de Juventude do Meio Popular). Foi por meio desse contato que consolidei minha atuação e compromisso com a causa dos menos favorecidos do meu bairro.
A maior parte do meu tempo era na PJMP nas discussões, reflexões e partilhas. Fui, então, percebendo que poderia me dedicar por completo, por inteiro, a essa causa. Conversei com a Ana Berto, minha primeira catequista, sobre o desejo de me dedicar por inteiro ao Cristo por meio da Igreja. Ela me indicou os jesuítas que viviam em uma paróquia de João Pessoa e, para minha surpresa, era ali que funcionava o Juniorado, uma das etapas de formação na Companhia de Jesus. Naquela época, eu tinha por volta de 18 a 19 anos. E, uma tarde, fui até o Juniorado, onde fui acolhido por um jesuíta, o irmão Vanderlei Backs, que me recebeu de maneira incrível. A hospitalidade, acolhida, atenção ao que eu falava… gastou tempo comigo. Vi que o testemunho e o exemplo do irmão Vanderlei traduziam o que eu buscava: um homem comprometido, espiritual, de reflexão, acolhedor e atento na escuta daquele que buscava algo. Esse perfil de jesuíta me animou a querer ser igual. Depois, esse desejo foi se moldando e se consolidou na Experiência dos Exercícios Espirituais. Ao escolher a vocação de jesuíta irmão, eu responderia ao chamado do Senhor, sendo um no meio dos demais, buscando ser um novo Cristo.
Quais as alegrias e os desafios de lidar com os jovens?
A juventude me fortalece e me faz entender, a cada dia, a minha vocação. Me dá esperança e ânimo aos desafios da caminhada como seguidor de Jesus. Amplia a missão, sempre temos novidades, novas reflexões e muito entusiasmo e alegria quando o caminho fica turvo. As juventudes me acendem a chama para a missão. Penso que o desafio, hoje, é saber como acompanhar, eficazmente, a dinamicidade que o jovem, por excelência, tem; compreender, colaborar e saber escutar a singularidade de cada jovem e de diversos grupos. Saber dialogar com eles e elas na escuta atenta, cultivando e incendiando o coração na esperança de fazer acontecer a civilização do amor.
“A juventude me fortalece e me faz entender, a cada dia, a minha vocação. Me dá esperança e ânimo aos desafios da caminhada como seguidor de Jesus.”
Qual o perfil dos jovens vocacionados atualmente?
Quanto ao perfil, são jovens que estão em busca de sua felicidade e muito bem informados sobre a Companhia de Jesus pelas redes sociais e também pelo exemplo e testemunho do Papa Francisco, que bebeu da espiritualidade inaciana e que transmite, muito bem, o importante legado deixado por Inácio de Loyola. Porém são jovens que têm pouca ou quase nenhuma vivência eclesial, pastoral. Em um primeiro momento, eles trazem fortes ideais de projetos pessoais a que aspiram quando conhecem a formação da Companhia de Jesus. Mas, depois, vão compreendendo que a formação é o meio para atingirmos o fim, que é justamente o seguimento de Jesus pobre, casto e obediente. As motivações vão sendo purificadas, trabalhadas, ordenadas e aí iniciam um processo diferente de encantamento com nosso modo de ser, pela missão, pela espiritualidade inaciana, por Jesus Cristo e seu reino. Tudo isso quando se tem a abertura de coração e o desejo de servir de maneira contemplativa na ação.
Por que a vocação do Irmão é atraente para os jovens de hoje?
Muitos jovens não sabem que existe a vocação de irmão na Companhia de Jesus e conhecem quando têm contato direto no acompanhamento por jesuítas irmãos realizado na Província. Aqui, também conhecem irmãos em missão diversificadas, como coordenador do Plano de Candidatos, sócio do provincial, administradores de colégios, atuantes no Programa MAGIS Brasil e, mais ainda, trabalhando nas periferias, nas fronteiras no trabalho com refugiados, nas visitas a hospitais ou, simplesmente, na presença e vida de oração. Tudo isso facilita bastante a compreensão da vocação específica, principalmente, ao encontrarem homens livres para o ministério a partir da consagração de suas vidas. Pelo desejo de seguir o Cristo pobre, casto e obediente. Para nós, jesuítas, o mais importante é a missão. E o fundamental é apresentar aos jovens a vocação do SER JESUÍTA, isso é o fundamental para nós, Companheiros de Jesus.
Essa entrevista foi publicada na 44ª Edição do informativo Em Companhia (Maio 2018). Quer ler a edição completa? Então, clique aqui!