O que mais se escuta nestes últimos meses que vivemos, tempos difíceis e complicados, é como nossa saúde e nossas vidas estão em risco com a pandemia que assola a humanidade. Todavia, temos consciência que não só há muitos homens e mulheres se doando para cuidar, servir e ajudar a quem sofre com a Covid-19, como também há muita gente que trabalha para não deixar faltar os produtos de primeira necessidade.
Observamos a falta de entendimento das autoridades com políticas claras e harmonizadas para combater a pandemia sem expor a população mais vulnerável aos riscos de contágio e de morte. Entretanto, coloca-se a ideologia e a economia como mais importantes e em oposição à defesa da vida, em vez de garantir a saúde da população para poder trabalhar e gerar renda e sustentabilidade.
A espiritualidade e a visão do homem que Santo Inácio nos apresenta trazem, para nós, o olhar e o modo de como enfrentar as situações e decisões difíceis. Ele nos convida a fazer o exercício de contemplação da encarnação, por meio do qual podemos ver a humanidade, tão diversa em atitudes e culturas na face da Terra, e ver também que a Trindade Santa olha para o mundo e vê tudo o que acontece nele e decide: “façamos a redenção do gênero humano”. Com esse exercício, vemos o mundo e o que acontece nele, e no qual estamos envolvidos solidariamente [EE 102 a 107].
A contemplação nos faz ver com serenidade e lucidez a realidade em que estamos imersos. Produz, em nós, muitas moções que, discernidas, devem nos impulsionar a agir e a colaborar com Deus, servindo aos irmãos e cuidando do mundo que nos é dado.
Esse olhar das Três Pessoas Divinas vai se consolidando em nossos corações, entrando na meditação do Reino, onde, internamente, podemos ver a pessoa de Jesus de Nazaré, que andava por cidades e povoados para pregar e anunciar o Reino de Deus. Outra vez, agora com o Senhor, olhamos a realidade do povo e das pessoas que vivem e buscam mais vida. Esse exercício nos motiva e nos estimula a seguir Jesus no caminho de curar, consolar, acolher e mostrar os novos horizontes por meio dos cuidados que Deus tem para com as pessoas em Jesus Cristo.
Os Exercícios Espirituais nos fazem crescer na confiança no Senhor e, sobretudo, viver a esperança, que nos leva a ser solidários com aqueles que mais precisam de nós. Passar pelo que estamos passando não pode nos levar ao desânimo, pelo contrário, deve nos animar a crescer na esperança. De alguma maneira, nós que gostamos de ir e vir, por e para onde nos apraz, temos que, nestes tempos, colocar em prática outra proposição de Inácio: o agir contra. Seguindo as orientações sanitárias e restringindo os contatos diretos para com os outros por respeito, pelo cuidado e pelo amor. Agir contra o medo, contra o desânimo é encontrar forças na fé, por meio da oração e na confiança de que juntos superaremos tudo o que está acontecendo. É com solidariedade e união que teremos condições de superar todas essas dificuldades. Com nossas orações e ações, levaremos esperança para todos, especialmente, para os mais pobres.
Não tenho dúvida de que Inácio usaria de todos os instrumentos que estão à disposição para enfrentar o drama da pandemia que vivemos. Assim, precisamos agir como se tudo dependesse de nós e, ao mesmo tempo, ter confiança em Deus, sabendo que tudo depende Dele. Por mais que estejamos em dificuldades, os critérios das nossas decisões devem ser a maior glória de Deus, o maior serviço ao próximo e o bem mais universal.
A Província dos Jesuítas do Brasil segue e continuará tendo a vida e a experiência espiritual de Inácio como a fonte e o itinerário místico para a vida e para o trabalho, tomando as decisões com base nas Preferências Apostólicas e apresentando-as como grandes horizontes da missão de Cristo neste tempo de mudanças e desafios de enfrentamento diante do perigo de morte. Sigamos o exemplo de Inácio para, em tudo, amar e servir.