Igreja mais antiga de São Paulo, a Capela de São Miguel Arcanjo, em São Miguel Paulista, na zona leste, completou no dia 25 de julho 390 anos. E tem muito para comemorar: depois das obras iniciadas em 2006, a construção de 1622 foi totalmente restaurada, ganhou museu e ainda viu a redescoberta de duas pinturas murais que estavam escondidas atrás de altares havia pelo menos 250 anos.
Para entender a história do local, é preciso voltar aos primeiros anos da cidade. Em 1560, índios guaianás se desentenderam com os colonos da então Vila de São Paulo de Piratininga. Comandados por Piquerobi, irmão do conhecido cacique Tibiriçá – aliado dos padres jesuítas -, eles caminharam 20 km ao leste e criaram uma nova aldeia, batizada de Ururaí.
Receosa de perder esses índios, a Companhia de Jesus delegou ao padre José de Anchieta a missão de reencontrá-los. Um percurso difícil à época, parte por terra, parte pelo Rio Tietê. Quando chegou ao local, o religioso tratou de renomear o povoado como São Miguel de Ururaí. Ali ergueu uma pequena capela, de bambu e sapé. Nascia o bairro de São Miguel Paulista.
A rudimentar construção religiosa deu lugar, décadas mais tarde, a uma nova igrejinha de taipa de pilão. É esta, de 1622, que vence o tempo e resiste até hoje – tombada por Iphan, Condephaat e Conpresp, respectivamente os órgãos federal, estadual e municipal de proteção ao patrimônio.
Restauro
A histórica capela passou por um longo processo de restauração, dividido em duas etapas. Na primeira fase, que durou de 2006 a 2009, a meta foi recuperar o edifício estruturalmente. “Havia problemas elétricos, hidráulicos e de infiltração de água”, lembra o gestor do local, Alexandre Galvão. Foram investidos R$ 3 milhões, bancados pela iniciativa privada.
Paralelamente a esse trabalho, uma equipe de arqueólogos e historiadores se debruçou sobre fatos, documentos e registros para que, pela primeira vez, a história da capela fosse recuperada de forma oficial. “No Vaticano, descobrimos cartas de Anchieta a outros jesuítas que nos ajudaram a entender como o povoado nasceu e como a primeira igrejinha foi feita”, conta Galvão. A carta mais antiga encontrada foi escrita em 12 de outubro de 1561.
Todo esse material fez com que os administradores do templo vislumbrassem a instalação de um museu. Nascia então a segunda fase do projeto, orçada em R$ 2,8 milhões e iniciada em 2009. “Passamos a recuperar as imagens esculturais”, diz Galvão. “Quando restaurávamos os altares, descobrimos, escondidas atrás de dois deles, pinturas murais que estavam ocultas e ao mesmo tempo protegidas”, relata o restaurador Julio Moraes. “Foi uma importante surpresa.”
Essas pinturas estão sendo cuidadosamente restauradas. “O trabalho deve ser concluído em novembro”, estima Moraes. Acredita-se que esses murais tenham sido pintados no século 17. E estavam cobertos pelos altares desde cerca de 1760.
Quem quiser conferir essas obras, entretanto, precisa se apressar. Concluído o processo de restauro, elas deverão ser novamente “escondidas” pelos altares, por determinação dos órgãos de proteção do patrimônio. Mas haverá reprodução fotográfica delas no museu, que está aberto desde 2010 e atrai cerca de 400 pessoas por mês.