Profundo pesquisador da Pedagogia Inaciana, Pe. Luiz Fernando Klein esteve em Goiânia para assessoria no Seminário “Pedagogia Inaciana e Educação Popular”, na Caju (Casa da Juventude Pe. Burnier). Na entrevista a seguir, ele fala da atualidade a Pedagogia Inaciana, dos desafios atuais da educação e das características de um bom educador.
A Pedagogia Inaciana é atual?
Sim. A Pedagogia Inaciana tem sido aplicada em muitas instituições educativas, sejam aquelas dirigidas pelos jesuítas ou por outros grupos dentro da sociedade, da Igreja. E ela tem mostrado seus valores dentro da cultura, com todos os impasses que ela traz, mas tem mostrado seu potencial.
Quais são esses valores? Quais as prioridades da Pedagogia Inaciana?
Primeiramente, a crença fundamental no protagonismo da pessoa, baseado na dignidade humana, que tem sido a possibilidade de mudanças. É preciso também acreditar que este mundo pode ser mudado, ele não é dado. É uma pedagogia baseada em uma espiritualidade muito aberta, que é a espiritualidade de Santo Inácio de Loyola, de comunhão com o mundo de hoje e de estabelecimento de redes de parceria com vários outros atores da transformação do mundo. E a educação como formação de pessoas competentes, compassivas, conscientes e sintonizadas com as transformações da atualidade. Esses são os pontos fundamentais.
Qual o maior desafio do compromisso de educar na atualidade?
O maior desafio está no modelo imposto, o neoliberal, que é derrotista e massificante. Um modelo que repele qualquer tentativa de protagonismo das pessoas, pois tudo está em vista do resultado mercadológico, capitalista e imediatista. Isso impede profundamente um processo humanizador como esse que nós pretendemos.
A proposta do seminário é apresentar a Pedagogia Inaciana junto à Educação Popular Freiriana. Qual a relação entre as duas propostas?
A Pedagogia Inaciana tem sido gestada ao longo dos tempos em um nível universal, ao passo que Paulo Freire, embora tenha tido uma experiência bem ampla em outros países, está em um quadro mais circunscrito ao Brasil. Mas há muita sintonia em diversos aspectos: a consideração da pessoa, a possibilidade de mudança, a denúncia de um modelo de sociedade massificante e despersonalizadora, a necessidade de a educação ser interventora e a modificação da humanidade e da realidade. São vários pontos de apoio.
Quais as características de um bom educador?
Incialmente, o educador tem que ter consciência de sua dignidade e de sua fragilidade, a consciência de que ele é um aprendiz. Se não há essa consciência, ele vai ser um impositor, um autoritário. Segunda característica, ele tem que ter um conhecimento e apreço pela dignidade da pessoa, seja ela quem for. Em terceiro lugar, ele precisa ter um domínio sobre os processos de conhecimento: como se dá o conhecimento, como se estabelece e como se aplica para outras realidades do mundo.
O que é essencial para uma obra executar sua missão a partir da pedagogia inaciana?
Primeiro, é preciso ter essa mística fundamental da consideração da pessoa, dos valores evangélicos e da consciência de mundo. Essa mística é embasadora, é o alicerce de tudo. Em vista desses valores que devemos desenvolver esse trabalho. E o ser humano, que é imagem e semelhança de Deus, tem toda a condição de desenvolver o seu processo e a sua colaboração.
Fonte: http://www.casadajuventude.org.br/index.php?option=content&task=view&id=3502&Itemid=0