A dimensão humana nos processos de relocação de comunidades foi a tônica da participação do CEAS (Centro de Estudos e Ação Social) da Província BNE da Companhia de Jesus, no “Urbicentros III, Morte e vida dos centros urbanos”, evento promovido pelo programa de Doutorado Interinstitucional Novas Fronteiras (DINTER-CAPES) e realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (PPG-AU/UFBA).
Aberto na segunda-feira, dia 22 de outubro, com o painel “Cultura e Identidade”, o seminário trouxe um leque de visões sobre como as cidades reconstroem as suas imagens e os seus patrimônios, bem como a importância das práticas culturais no quadro da diversidade e da complexidade constitutivas das cidades, as representações identitárias e imaginários das cidades contemporâneas, além das práticas e representações desigualmente partilhadas pelos grupos sociais, formas de organização urbana, identidades e discursos representacionais das cidades.
José Maurício, coordenador do CEAS, trouxe ao painel a experiência política-educativa do órgão no acompanhamento de grupos populares, ressaltando o trabalho nas comunidades de Gamboa de Baixo, Pelourinho e Chácara Santo Antônio. Em uma retomada histórica, o expositor tratou de dar “carne”, como ele fez questão de ressaltar, aos processos de expulsão dessas comunidades em detrimento de uma política urbanística que privilegia o capital.
Como acompanha de perto as dificuldades dessas comunidades, que têm suas casas e histórias de vidas usurpadas por projetos que beneficiam a especulação imobiliária, Maurício chamou a atenção para a dimensão humana de ocupação da cidade, os estereótipos que são atribuídos às pessoas que vivem em comunidades populares, via de regra, desqualificando-as, e a violência do estado nos processos de desocupação e relocação.
Além de Maurício, participaram do painel Fernando Carrión Mena, Coordenador do Programa de Estudos da Cidade na Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais – Sede Equador, que fez uma explanação sobre a experiência urbanística de Quito; os centros históricos; as políticas e projetos urbanos; o desenvolvimento local, urbano e as políticas de planejamento. Luiz Fernando de Almeida, presidente do Iphan e coordenador do Programa Monumenta do Ministério da Cultura. E ainda os professoras da FAU/UFBA, Angelo Perret Serpa e Paulo Ormindo Azevedo, como debatedores.
Evento
O Urbicentros está em sua terceira edição – o primeiro foi realizado em João Pessoa (PB) em 2010. O segundo em Maceió (AL), em 2011 -, e tem a proposta de refletir sobre a lógica de abandono, fragmentação, descontinuidade e exploração especulativa que passam as áreas centrais tradicionais das cidades como forma de entender o espaço urbano, toda a cidade, enquanto “conjunto inseparável da materialidade e das ações do homem”, como afirma Milton Santos.
O encontro é um desdobramento do programa de Doutorado Interinstitucional Novas Fronteiras(DINTER-CAPES), realizado entre a UFBA e a Universidade Federal da Paraiba (UFPB).