Os sons tradicionais do povo Warao, habitantes do delta do rio Amacuro no alto Orinoco (Venezuela), mesclam-se com cânticos em português, espanhol e a própria língua materna. Em Cuiabá (MT), cerca de 250 desses indígenas refugiados aguardam a criação de uma aldeia própria, ansiando por uma vida digna, especialmente durante as festividades natalinas.
Segundo o Pe. Aloir Pacini, SJ, antropólogo e membro da Pastoral Indígena, a comunidade Warao, majoritariamente católica, busca viver o Natal sob a perspectiva cristã em diáspora. Entretanto, as celebrações são marcadas pelos desafios enfrentados por esses refugiados. Discriminação, falta de trabalho e condições precárias de habitação persistem, apesar dos esforços de solidariedade em Cuiabá.
A fragilidade se aprofunda durante o Natal, revelando uma realidade de desamparo e incertezas. A carência de estruturas adequadas, como moradia, escola e cuidados médicos, ressalta a urgência de uma aldeia Warao urbana, um refúgio que mantenha vivas suas tradições e ofereça autonomia para gerir seus recursos.
A esperança, no entanto, não se esvai. A solidariedade floresce por meio de redes de apoio que fornecem alimentos, vestuário e assistência médica. O desejo de proporcionar uma vida mais digna aos Warao tem impulsionado ações conjuntas entre diferentes instâncias da sociedade, religiosas e acadêmicas, visando criar uma comunidade própria para esses indígenas, é o que explica o Pe. Aloir: “Estamos em busca de um local amplo o bastante para abrigar aproximadamente 50 casas, permitindo que as pessoas deixem de pagar aluguel, proporcionando um alívio imediato. Além disso, procuramos outras comodidades essenciais para uma vida plena, como uma capela, uma escola, um posto de saúde etc. Estamos prestes a receber mais grupos de parentes, visando formar uma aldeia Warao urbana, e estamos determinados a encontrar um lugar que proporcione uma vida digna, onde possam viver em maior proximidade, apoiando-se mutuamente como uma célula de sua etnia nessa região de Cuiabá. Almejamos instituições que preservem e fortaleçam sua identidade única, sem exigir que abandonem o seu modo de ser Warao”.
Dentro desse contexto, histórias e experiências especiais do Natal Warao emergem, como a narrativa de Rabel Aquiles Rivero sobre a origem celestial dos Warao na Terra, destacando a estrela da manhã como símbolo natalino.
Além disso, a prática de cura espiritual exercida por Evelio Rivero Estrella, um pajé, evidencia a necessidade de diálogo entre saberes tradicionais e a biomedicina para preservar a saúde física, mental e espiritual desses refugiados.