A renúncia do Papa Bento XVI será o tema do debate promovido pelo Departamento de Teologia da PUC-Rio, que será realizado nesta quarta-feira, dia 6 de março, no Salão da Pastoral. Na opinião do Diretor do Departamento, padre Leonardo Agostini (foto), a atitude do Pontífice se traduz em um gesto exemplar para que nenhum ocupante de um encargo eclesial se sinta apegado ao poder e mostra como a autoridade deve ser usada em favor daqueles que são representados por ela.
Qual a importância para a PUC-Rio de uma discussão sobre a renúncia do Papa Bento XVI?
Padre Leonardo Agostini: A PUC é uma universidade pontifícia por causa do Pontífice, que é o Bispo de Roma, o Papa Bento XVI. Sendo uma universidade pontifícia, devemos aproveitar esse momento que é histórico para a Igreja e para o mundo para dar uma resposta acadêmica, através de critérios e argumentos, aos fatos ligados à Igreja Católica.
Considerando que apenas quatro papas renunciaram, sendo o último deles há 598 anos, o que significa, no mundo contemporâneo, a renúncia de um Papa?
Agostini: Devemos considerar duas vertentes, uma interna e outra externa, no que diz respeito à Igreja. Pude observar e constatar que não houve quem, no mundo eclesiástico, não reconhecesse imediatamente a renúncia como um ato de coragem, ungido de governo eclesial, carregado de sentido espiritual, capaz de provocar a reflexão sobre o que ainda se está clamando por renovação na Igreja Católica. Precisamos olhar desse ponto de vista interno porque, a Igreja Católica, para se manter coerente com sua identidade e missão, precisa apresentar ao mundo um testemunho coerente. Bento XVI está dando um testemunho para a Igreja de que o poder que nela se exerce é diametralmente diferente do poder que se exerce fora dela. O poder da Igreja é de serviço de amor a Deus e ao próximo. Então, o gesto do Papa se traduz como um gesto exemplar para que nenhum ocupante de um encargo eclesial se sinta apegado ao poder por ele incumbido.
Quais os desafios que deverão ser enfrentados pelo próximo líder da Igreja Católica?
Agostini: Mais do que vencer desafios, eu prefiro pensar que serão trabalhadas as prioridades. Eu, pessoalmente, admito que o principal desafio – colocado em paridade com o termo prioridade – é o de que o próximo Papa seja um homem de Deus agregador, um grande promotor da comunhão eclesial. Porque as decisões não são tomadas somente pelo Papa, que certamente terá como desafio, como prioridade, promover essa comunhão eclesial interna. Prefiro enfatizar a dimensão da comunhão eclesial, porque quanto mais o clero e a Igreja forem unidos ao seu Senhor e Mestre Jesus Cristo, tanto mais a Igreja terá condição de superar as dificuldades que surgem e continuarão surgindo, porque a Igreja é, ao mesmo tempo, divina e humana. E onde está o ser humano, encontramos as fraquezas. A melhor forma de lidar com as fraquezas humanas é, sem dúvida alguma, utilizando-se do critério da comunhão e da correção fraterna. As tão sonhadas renovações não vão acontecer ditadas pelo mundo. Não é mundo que diz o que a Igreja deve ser e deve fazer.
Quais os objetivos que o Departamento de Teologia pretende atingir com esse debate?
Agostini: O debate sobre a renúncia do Papa tratará do que é premente neste momento. Queremos oferecer critérios e argumentos sólidos para o corpo docente e discente do Departamento de Teologia, porque esse debate que estamos promovendo se insere na dinâmica do início de um novo ano para o departamento. Nosso debate não tem a finalidade de ser uma ocasião para a mídia tirar suas dúvidas. Nossos debatedores não estão dando uma entrevista coletiva. É a abertura do ano acadêmico do Departamento de Teologia voltada para o corpo docente e discente, aberto aos outros docentes e discentes e a pessoas de fora da Universidade.