A Rede Jesuíta de Justiça Socioambiental (RJSA) atua como um organismo global e interdisciplinar, reunindo centros sociais, observatório, serviços especializados e instituições presentes em diferentes regiões do país, com o propósito de promover transformações estruturais na sociedade brasileira.

Mais do que a simples soma de iniciativas, a Rede se configura como um sujeito coletivo dinâmico e diverso, no qual cada obra contribui, com suas especificidades, para objetivos comuns que ultrapassam as capacidades individuais.

Centros sociais: pesquisa e incidência transformadora 

Os centros sociais atuam como motores intelectuais e articuladores da Rede, desenvolvendo ações em três frentes complementares: a incidência direta junto a populações marginalizadas, a incidência em políticas públicas e a produção e difusão de conhecimento.

O Centro de Estudos e Ação Social (Ceas), em Salvador (BA), é o mais antigo, com mais de 50 anos de atuação ininterrupta na assessoria a comunidades e movimentos sociais, tanto no campo quanto na cidade. O Centro Burnier de Fé e Justiça (CBFJ), em Cuiabá (MT), busca fortalecer o exercício da cidadania e promover a transformação social.

Na região Norte, o Centro Alternativo de Cultura (CAC), em Belém (PA), e o Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental (Sares), em Manaus (AM), trabalham diretamente com as realidades amazônicas. No Sul, o Centro de Promoção de Agentes de Transformação (Cepat), em Curitiba (PR), atua na formação de lideranças e à incidência política. 

Esses centros operam nos três níveis ou “lugares estratégicos” de incidência definidos pelo Marco da RJSA: produção e difusão de conhecimento, participação cidadã ativa nos processos de tomada de decisão da sociedade e práticas cotidianas que expressam testemunho pessoal e coletivo.

Um observatório em rede 

O Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (Olma) apoia todas as iniciativas da RJSA, atuando como um “observatório em rede” dedicado à promoção da justiça a partir da Ecologia Integral e da Teologia da Reconciliação.  

Sua função é afinar entre todas as instituições o conceito de justiça socioambiental, que abrange três dimensões: reconhecimento da dignidade humana, combate às desigualdades sociais e cuidado com os dons da criação. 

Obras sociais: atenção direta às vulnerabilidades 

As obras sociais da RJSA se caracterizam pela atenção direta a públicos específicos em situação de vulnerabilidade. O Centro Santa Fé (CSF), em São Paulo (SP), atende adolescentes diariamente por meio de atividades socioeducativas em contraturno escolar, além de desenvolver ações com famílias e comunidade do Distrito Anhanguera.  

A Obra Social Júlia Devoto (OSJD), em Feira de Santana (BA), é uma obra de educação que atende cerca de 410 crianças e possui o segundo maior Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do município em um bairro de periferia majoritariamente negro. 

Essas iniciativas combinam assistência social com perspectiva emancipatória, buscando não apenas atender necessidades imediatas, mas promover a proteção e autonomia dos sujeitos atendidos. 

Redes dentro da Rede: alcance nacional 

A RJSA abriga duas grandes redes que, por si só, constituem sistemas articulados em âmbito nacional. A Fundação Fé e Alegria (FyA) desenvolve atenção integral a crianças e adolescentes em situação de risco, com unidades distribuídas pelo país. Sua metodologia socioeducativa busca despertar o protagonismo dos jovens desde a infância com recursos de educação popular. 

A Fundação Fé e Alegria está presente em 14 estados do Brasil, com 34 centros ativos de atendimento socioeducativo e promoção social, conforme o relatório anual mais recente. Esses centros atendem diretamente a mais de 12 mil crianças, adolescentes, jovens e adultos em situação de vulnerabilidade. 

O Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR) atua na promoção e proteção da dignidade e direitos de migrantes e refugiados vulneráveis, desenvolvendo trabalho de inclusão e autonomia. O serviço estabelece múltiplas parcerias com outras entidades da Igreja e sociedade civil. Além do escritório nacional em Brasília (DF), o SJMR está presente em Belo Horizonte (MG), Boa Vista (RR), Manaus (AM) e São Leopoldo (RS), atendendo milhares de pessoas anualmente.  

Missão indigenista: presença junto aos povos originários 

A missão indigenista da Província do Brasil representa o compromisso histórico da Companhia de Jesus com os povos indígenas. Desenvolvida em parceria com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a missão mantém presença testemunhal junto às comunidades originárias e atua na incidência política em defesa de seus direitos. 

A missão indigenista integra-se à RJSA como parte da promoção da justiça socioambiental, especialmente na defesa dos territórios tradicionais e da diversidade cultural. 

Articulação que transforma realidades 

A força da RJSA reside na articulação entre essa diversidade de atores. Centros de pesquisa produzem conhecimento que subsidia a incidência política. Obras sociais oferecem experiência prática que enriquece as reflexões teóricas. O observatório conecta iniciativas locais com agendas nacionais. As redes dentro da Rede ampliam o alcance das ações. 

Como define o Marco da RJSA, trata-se de uma “nova forma de conceber o Apostolado Social”, expressando uma práxis transversal onde todas as presenças apostólicas são chamadas a ter “a marca da incidência estrutural transformadora, baseada na fé e na justiça”. 

A diversidade de estruturas, metodologias e públicos não representa fragmentação, mas riqueza que permite à Rede atuar simultaneamente em múltiplas frentes, sempre orientada pelos três vetores da justiça socioambiental: cuidado pessoal e interpessoal, cuidado da sociedade e suas políticas, e cuidado dos dons da criação. 

Essa articulação em rede permite que a RJSA alcance objetivos que transcendem as capacidades individuais de cada obra, constituindo-se verdadeiramente como um organismo global e interdisciplinar a serviço da transformação social no Brasil.