
“Nós estamos aqui na cidade de Belém (PA), durante todo este mês de novembro… Não se trata apenas de cumprir agenda, mas de refletir, dialogar, propor e negociar”, afirmou o jornalista e missionário digital Ronnaldh Oliveira, apresentador do Missão COP30, programa diário da Rádio Amar e Servir durante a Cúpula do Clima e a COP30.
Ao contextualizar o momento, Ronnaldh lembrou que a Cúpula do Clima foi convocada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e reúne 143 delegações, em um encontro prévio à abertura oficial da COP. Segundo ele, Lula afirmou em plenária que “esta é a COP da verdade”, um chamado a levar a sério o tempo que “está se esgotando”.
“O objetivo é global e também local”
Convidada da estreia, Suzana Moreira (Suzy), doutoranda em Teologia pela PUC-Rio e integrante do Movimento Laudato Si’ e do Cebitepal (Celam), explicou o papel da Cúpula no processo da ONU iniciado no Brasil, na Rio-92:
“A Cúpula do Clima é basicamente o grupo dos representantes das nações que se reúnem para discutir as questões do clima… O espaço azul é onde os representantes das nações se encontram para negociar; a zona verde acolhe movimentos, ONGs e sociedade civil. Apesar de ser internacional, tudo repercute a nível local.”
Para ela, o encontro no coração da Amazônia é simbólico e estratégico:
“Essa cúpula está sendo chamada a cúpula da adaptação… São mais de 140 delegações tentando dialogar. É um processo complexo. Mas sabemos que as coisas podem mudar.
“Nós já vivemos um novo clima”
Paulo Castro, engenheiro ambiental, mestre e professor na Universidade Federal do Pampa, além de doutorando em Teologia PUC-RS, trouxe o diagnóstico científico:
“Nós precisamos ouvir o que a floresta tem a dizer… A crise ambiental é uma manifestação do que o planeta está sofrendo. Não é mais um processo de mudança, já é um novo clima. Nós já alteramos essa atmosfera.”
Ele citou o histórico de cooperação internacional para mostrar que resultados são possíveis:
“Houve resultado quando os países se mobilizaram e aprovaram o Protocolo de Montreal para frear a degradação da camada de ozônio. Agora o foco é o acúmulo de carbono na atmosfera.”
Entre os pontos críticos, destacou a preservação florestal e a urgência de financiamento:
“É essencial aprovar o Fundo de Financiamento das Florestas Tropicais… Nós precisamos preservar as florestas para não aumentar ainda mais a quantidade de carbono na atmosfera.”
Em linguagem didática, explicou o ciclo do carbono:
“Quando a árvore cresce, fixa CO₂ pela fotossíntese; quando é degradada ou queimada, libera carbono. Já os combustíveis fósseis retiram carbono geologicamente armazenado e o lançam na atmosfera, super concentrando.”
Paulo também alertou para a crise dos plásticos:
“Pesquisas recentes detectaram microplástico no sangue, no coração e no cérebro humano… Produzir menos resíduos e descartar corretamente é cuidado com a vida do planeta e com a vida humana.”
Conversão ecológica: fé que vira prática
Sob o ponto de vista teológico, Suzy articulou ciência, política e espiritualidade a partir da Doutrina Social da Igreja e do método ver–julgar–agir:
“A teologia também é ciência e tem método… O Papa Francisco costura na Laudato Si’ o olhar para a realidade, o discernimento à luz da fé e a passagem à ação. A raiz humana da crise está na nossa desconexão com Deus e com a criação.”
Para ela, unir essas dimensões passa por uma conversão ecológica que brota do encontro com Cristo:
“Não tem como salvar uma alma fora do corpo… Vivemos num corpo que depende da terra. Jesus é a nossa âncora: Ele nos move a mudar estilos de vida e a agir juntos.”
Suzy também recordou os quatro sonhos do Papa Francisco para a Amazônia — eclesial, social, cultural e ecológico e destacou a força da sinodalidade:
“É caminhar juntos. No multilateralismo da COP e, para nós, na sinodalidade da Igreja. Somos chamados a cuidar juntos da casa comum.”
Presença católica histórica na COP30
Segundo Suzy, esta será “a maior presença católica de todas as COPs”, com número recorde de cardeais e uma articulação nacional construída ao longo de dois anos:
“Igreja Rumo à COP30 uniu organismos, instituições e movimentos, realizou pré-COPs em todas as regiões do país e agora chega a Belém com uma agenda recheada.”
Ela convidou quem não está em Belém a acompanhar pelas redes e a engajar-se localmente:
“Busquem as informações… Discernir como, nas nossas paróquias e comunidades, podemos fazer parte dessa jornada de esperança pela casa comum.”
Esperança ativa e responsabilidades compartilhadas
Num tom pastoral, Paulo retomou a chave espiritual:
“Não podemos cair no alarmismo. Precisamos alimentar o coração com esperança… Quando eu cuido da criação, eu cuido da vida; quando degrado a criação, degrado a vida humana.”
Para ele, a resposta une níveis pessoal, comunitário, institucional e global:
“É necessário o meu esforço, o das instituições e o da cooperação internacional.”
Serviço, rede e missão comum
Ao encerrar, Ronaldh reforçou a missão compartilhada e a programação contínua:
“A missão não é minha, é de todos nós… Seguimos até 21 de novembro, com cobertura pela Rádio Amar e Servir (aplicativos iOS, Android e Alexa), Jesuítas Brasil, EcoJesuít, TVs e rádios parceiras.”
Suzy deixou um convite: “Que a gente se apaixone por Jesus Cristo e reconheça a criação como chamado a cuidar do dom de Deus.”
Paulo concluiu: “É um momento de alegria por ver povos e nações pensando um mundo melhor para todos nós.”
Assista o programa na Integra: https://www.youtube.com/watch?v=IGxD1lsPdBI




