O desejo de saber mais, a sensibilidade e o senso de reflexão são algumas das características que os alunos do projeto Jovens Pensadores, do Colégio Loyola, precisam ter para participar dos encontros quinzenais do grupo. As atividades desenvolvidas são extracurriculares e incluem leituras de clássicos da literatura, de jornais e revistas, além de discussões sobre filmes e temas da atualidade. As discussões partem sempre de uma perspectiva humanística e refletem a essência da Pedagogia Inaciana.
Criado em 2009, o projeto nasceu em um contexto de inovações pedagógicas do Colégio Loyola, na época, dirigido por Sônia Magalhães. Os responsáveis por dar forma e alma ao projeto foram os professores Isabel Santana e Juliano Caram. “O nosso anseio era propiciar um espaço de discussão, de debate e de criação, para que os alunos pudessem se desenvolver e produzir para além da sala de aula”, afirma Juliano, que foi professor do Colégio Loyola entre 2009 e 2010.
“Construímos, eu e o Juliano, um formato que incluía como fonte de debates: cinema, jornal, fotografia, música e, claro, muita literatura e filosofia. Buscamos na tradição jesuíta a valorização da literatura e da cultura humanista, que nos desse uma base para um formato novo”, conta Isabel Santana, coordenadora do Projeto Jovens Pensadores.
A iniciativa é um espaço de diálogo intelectual, mas este não é o seu único diferencial. Segundo Juliano, os alunos selecionados precisam demostrar também sensibilidade. “O projeto não foi criado para uma ‘nata’ de coeficientes de inteligência, nós queríamos sim seres humanos, cuja inteligência emocional e criativa lhes possibilitasse extrapolar o ensino em sala de aula, contribuindo para que o Colégio executasse sua função formadora na perspectiva da genuína Pedagogia Inaciana, que propõe atividades diferenciadas para cada tipo de aluno”.
Para Isabel, o incentivo da diretora Sônia Magalhães, a parceria com Juliano Caram e a participação, em 2011, do jesuíta André Luís de Araújo contribuíram para o fortalecimento do Jovens Pensadores. “Tenho profunda gratidão pela Sônia e pelo Pe. Germano, atual diretor do Loyola, por terem nos proporcionado uma experiência tão inovadora e rara nos meios acadêmicos. Agradeço também ao Juliano, pois sem ele a iniciativa não existiria. Seu brilhantismo, parceria, cultura e profundidade de olhar foram fundamentais para a construção do projeto. Já o André deu novo fôlego ao Jovens Pensadores por meio de sua sensibilidade, cultura, paixão pela Literatura e pelo pensar. Todos foram imprescindíveis ao projeto e são parte marcante de sua história”, emociona-se Isabel.
Os Pensadores
Na foto, Isabel Santana (dir.), coordenadora do Jovens Pensadores, conversa com alunos que participam do projeto.
A troca de conhecimentos, a descoberta de novas formas de pensamento e a expectativa de agregar novos alunos, motivou cada vez mais os primeiros ‘jovens pensadores’ selecionados. “Era um momento bom de socialização, de troca de experiências e de construção de novas perspectivas para o grupo. Todos queriam contribuir para que o projeto avançasse e que, cada vez mais, outros colegas pudessem ser integrados ao grupo”, conta Juliano, que atuou no Jovens Pensadores entre 2009 e 2010.
Para a aluna do 2º ano do Ensino Médio, Carmen Botelho Miranda de Castro, 17 anos, a permanência um pouco maior no Colégio, por causa do projeto, não a desanima como a maioria das pessoas pode pensar. “Mesmo tendo que ficar a tarde inteira aqui, eu sempre chego em casa ainda enérgica, pensando em tudo que discutimos”, diz Carmen.
História, Filosofia, Literatura e Arte! Tudo é debatido de forma livre para que o aluno possa conhecer, mas também dizer sua opinião sobre um determinado assunto. “Adoro discutir e pensar cultura no Colégio e com outros alunos de idades e mentes diferentes da minha. Gosto de conversar com os professores que trazem ideias e as discutem sem se colocar em níveis superiores ou formais”, conclui Carmen.
Num mundo que valoriza cada vez mais a concorrência, as estatísticas e o superficial, o Jovens Pensadores traz a importância do pensar, do discutir e do refletir, pautado sempre na perspectiva do olhar humano. “O projeto é instigante e arrojado. Ele cumpre bem essa função de aguçar a investigação e o posicionamento crítico, para além dos juízos de valor e do meramente diletante”, afirma o jesuíta André.
Segundo Áurea Regina Guimarães Tomasi, mãe de Clarissa Guimarães, ex-aluna do Colégio Loyola, o projeto auxilia na formação do jovem. “Acredito que crianças e jovens que conhecem a filosofia e a utilizam para refletir sobre a sociedade e suas próprias vidas, se tornam mais preparadas para se posicionar diante de diferentes situações, como respeitar opiniões diferentes e expor seus argumentos”.
Os jovens que participam do Jovens Pensadores guardam hoje lembranças marcantes dos tempos de diálogos instigantes. Para o ex-aluno Gabriel Santana, estudante de matemática da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o projeto proporcionou a oportunidade de conhecer bons amigos e de aprofundar seus conhecimentos. “Deixei de frequentar o grupo após me formar no Loyola, mas trouxe para vida os amigos, as ideias e um crescimento cultural que fazem parte de mim”.
O estudante de Publicidade e Propaganda da PUC-Minas e ex-aluno do Loyola, Renan Gueiros de Moura Eça, ressalta a importância da iniciativa durante a formação no Ensino Médio. “No projeto, eu encontrei um importante espaço para me expressar e me identificar com meus colegas e professores. O Ensino Médio é uma fase da vida na qual precisamos de muita ajuda e paciência para nos encontrarmos e construirmos nossas identidades. Nisso, o ‘Jovens Pensadores’ foi fundamental para mim”.
A pedagoga Alexandra Gazzinelli Haddad Antônio, mãe de Thiago Gazzinelli, ex-aluno e estudante de Música da UFMG, conta que o jovem levava os assuntos debatidos no projeto para casa. “Meu filho se envolvia muito com os temas que eram tratados no Jovens Pensadores. Nos dias anteriores ao encontro, ele conversava sobre o assunto que seria discutido e preparava o material para levar. Após o encontro, ele sempre tinha alguma opinião formada”.
A cada ano, novos alunos participam do Jovens Pensadores, o que fortalece cada vez mais o desejo de formar pessoas para a vida. “Em sua obra Nossos colégios hoje e amanhã, o Pe. Pedro Arrupe, afirma: o ensino médio nos dá acesso à mente e ao coração de numerosíssimos jovens”, cita Isabel. “Eu penso que isso é muito sério e profundo, pois essa é uma idade na qual os questionamentos, dúvidas e buscas são intensos. Creio que essa percepção de Arrupe traz a essência do que é importante para o aluno no projeto”, conclui a coordenadora.