O sacerdote jesuíta holandês Frans van der Lugt que vivia há décadas na cidade de Homs, em foto de 2 de fevereiro.
O padre Frans Van der Lugt, 75 anos, foi assassinado nesta segunda-feira (7), por homens armados, na frente da residência dos jesuítas em Homs, na Síria. A notícia da morte do jesuíta holandês, que vivia há décadas na região, foi dada pela agência AP e confirmada pelo padre Alex Bassili, da Cúria provincial do Oriente Médio e do Maghreb.
O religioso se recusou a deixar o bairro onde morava para ficar junto com a população local. “Morre um homem de paz que com grande coragem permaneceu fiel numa situação extremamente perigosa e difícil para o povo sírio ao qual dedicou um longo tempo de sua vida e serviço espiritual. Onde morre o povo, morre também com ele os seus fiéis pastores”, frisou o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, padre Federico Lombardi.
“Neste momento de dor, manifestamos a nossa proximidade na oração, e também gratidão e orgulho por termos tido um confrade tão próximo aos que sofrem, que testemunhou o amor de Jesus até a morte”, disse o porta-voz do vaticano.
Há décadas na Síria
“O povo sírio me deu muito, muita amabilidade, muita inspiração e tudo o que possuo. Agora que sofre devo compartilhar sua pena e suas dificuldades”, explicou Van der Lugt à AFP, em fevereiro, através da internet. O jesuíta estava instalado na Síria desde 1966.
“Sou o único sacerdote e o único estrangeiro que resta. Mas não me sinto um estrangeiro, e sim um árabe entre os árabes”, declarou sorridente.
“Temos muito pouca comida. As pessoas nas ruas têm o rosto cansado e amarelo (…) Há fome, mas o povo também tem sede de uma vida normal. O ser humano não é apenas estômago, também tem coração, e as pessoas precisam ver seus familiares”, explicou.
Poucos dias depois, 1.400 pessoas puderam ser retiradas da parte antiga de Homs em virtude de um acordo entre o regime e os rebeldes negociado pela ONU, mas este homem de olhos vivos optou mais uma vez por ficar.
Em entrevista a Rádio Vaticano, o padre Ziad Hillal contou que Frans sempre foi um homem de paz. “Pe. Frans sempre esteve próximo às pessoas. Foi o bom pastor que nunca quis deixar o seu povo. Dedicou a sua vida não somente para os cristãos que estão aqui, mas também para os muçulmanos, por todos os sírios. É um grande exemplo para todos. Em mais ou menos dois anos que vivia em Homs, assediado, nunca falou de coisas negativas. Estava sempre sorrindo e era ele quem nos perguntava como estávamos. Foi um grande exemplo para mim, para os jesuítas aqui na Síria e para todos aqueles sírios que querem que a paz reine neste país”.
Fonte: Rádio Vaticano/ G1/ www.ihu.unisinos.br
Foto: Mohammed Abu Hamza/AFP