Walef, em primeiro plano, com o pai: troca de experiência para inovação na biomedicina
Os olhos de Walef Robert Ivo Carvalho, de 18 anos, brilham ao mostrar a evolução de seu famoso invento na garagem de casa, em Santa Rita do Sapucaí (MG), onde mora com o pai, parte importante nesse trabalho. Walef mesmo testa o aparelho. Arruma os cintos em volta das pernas e do corpo, simulando estar preso a uma cadeira de rodas. Aos poucos, o projeto de nome complicado, “Cadeira Ortostática Dinâmica”, o deixa em pé de novo. Com o toque em um botão, o aparelho vai para frente, para trás e para os lados. O equipamento promete o movimento que um acidente tirou da vida de muitos.
“Você tem uma vida sem dificuldades e, de uma hora para outra, você se vê limitado”, comenta em tom reflexivo. “A minha ideia é ver isso aqui em supermercados, para que o cadeirante tenha liberdade de pegar um produto em uma prateleira mais alta se ele quiser. Um professor nessas condições poderia se levantar para escrever no quadro. Essas pequenas conquistas mudam a qualidade de vida, fazem diferença para a autoestima”, diz o jovem.
A ideia nasceu quando Walef era aluno da ETE FMC (Escola Técnica de Eletrônica Francisco Moreira da Costa), em Santa Rita do Sapucaí. O projeto da Cadeira Ortostática Dinâmica foi desenvolvido por Walef e seus colegas para a PROJETE 2012 (Feira de Projetos Futuristas da ETE). A invenção logo ganhou destaque, conquistando o segundo lugar na categoria engenharia na Febrace 2013 (Feira Brasileira de Ciência e Engenharia), a partir de então teve acesso a importantes feiras nacionais.
O pai de Walef foi quem o inspirou a realizar o projeto. Há oito anos, Leandro Aparecido de Carvalho, chegou a perder todos os movimentos do corpo, após um acidente. “Era véspera do Natal de 2006”, recorda-se Leandro, hoje com 35 anos. “A gente tinha chegado da missa. Estava quente e eu fui dar um mergulho na piscina. Caí de cabeça e daí por diante não me lembro de mais nada.” O acidente deixou Leandro apenas com os movimentos da cabeça.
Na época, ajudado pelos três irmãos, também serralheiros, uma estrutura com roldanas foi improvisada para que Leandro conseguisse ficar alguns momentos fora da cadeira. Na sequência vieram as sessões de fisioterapia no CDTTA (Centro de Desenvolvimento e Transferência de Tecnologia Assistiva), pertencente ao Inatel, em Santa Rita do Sapucaí, e a recuperação gradativa dos movimentos que, hoje, lhe permitem circular pela cidade com a ajuda de um andador.
Se um provável tetraplégico não acreditou em limites, por que Walef acreditaria? É esse sentimento que move as pesquisas do jovem. Walef, hoje estudante de engenharia biomédica, continua a aperfeiçoar o projeto, e segundo ele, várias melhorias já foram desenvolvidas como inserção de um motor mais potente com capacidade para levantar até 500 quilos, indicador de bateria, e um sistema de controle por sensores para movimentação.
O jovem se recorda da ideia de realizar o projeto. “Eu fui para a ETE FMC para conhecer os cursos. E lá, eu descobri que tínhamos que desenvolver algum projeto na área tecnológica, foi nesse momento que pensei pela primeira vez na cadeira”, afirma Walef.
Fonte: G1 (Daniela Ayres) | ETE FMC
Foto: G1/ Daniela Ayres