Localizada na fronteira com o Peru, Assis Brasil (Acre) tem sido há anos um importante ponto de referência para migrantes que buscam oportunidades em terras brasileiras. Foi assim, em 2010, quando um terremoto arrasou o Haiti e milhares de haitianos fizeram da cidade a porta de entrada para desbravarem o território nacional. Nos últimos dias, o município acreano voltou aos noticiários: cerca de 400 migrantes, em sua maioria haitianos, estão sendo impedidos de deixar o Brasil, para, novamente, tentarem uma vida melhor em seu próprio país de origem ou em outra nação.
Como medida de combate ao novo coronavírus, o governo do Peru fechou sua fronteira com o Brasil, impedindo a entrada de cidadãos não residentes no país. Para pressionar uma mudança de postura das autoridades peruanas, os migrantes fecharam a Ponte da Integração, bloqueando totalmente a ligação entre Brasil e Peru, inclusive para veículos.
A situação ficou ainda mais tensa na região quando, no último dia 16 de fevereiro, um grupo de migrantes tentou entrar à força no Peru. “Depois de passar quatro dias debaixo de chuva e dormindo embaixo de plásticos em uma situação precária, arrombaram a barreira policial e entraram em Iñapari (cidade no Peru). A reação posterior foi triste e violenta: cacetadas, bombas de gás, pessoas feridas, inclusive gestantes e crianças. Um grupo foi empurrado pela avenida em direção à ponte, sendo devolvido ao Brasil, e os demais foram trazidos em transportes do município peruano”, relatou o padre Francisco Almenar Burriel. Conhecido como Pe. Paco, o jesuíta tem acompanhado de perto a situação dos migrantes: “Nós nos tornamos presentes ao tumulto, tentando diminuir a violência e estimulando o respeito mútuo. E, junto com o gabinete do prefeito de Assis Brasil, estamos fornecendo comida, água e lonas para se cobrirem. Estou com eles na ponte, pois quero ver como estão e acompanhá-los no que eu puder”.
Pe. Paco fez um apelo à solidariedade pelos migrantes que estão em Assis Brasil e que precisam ser ajudados. E finalizou pedindo: “Continuem rezando e ‘cutucando’ no que puderem desde os seus lugares em favor dos migrantes de qualquer lugar ou origem”. Eles são consequência do nosso mundo desigual, individualista e desumano”.