Ação de Graças pelos 79 anos da Unicap

No final da tarde de terça-feira, 27 de setembro, dia da fundação da Companhia de Jesus e aniversário da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), estudantes, professores e funcionários reuniram-se na capela do campus, para agradecer a Deus pelos 79 anos da Católica. Na homilia, o reitor Pe. Pedro Rubens Ferreira de Oliveira, SJ, ressaltou que “a Unicap tem futuro porque tem um passado de superação e uma presença atuante na história das pessoas e da região.” 

Confira a homilia na íntegra: 

Unicap rumo aos 80 anos! 

“Toda eucaristia é uma ação de graças, mas algumas trazem um motivo festivo associado e, segundo a leitura do apóstolo Paulo aos coríntios, hoje, “dou graças a Deus sempre a vosso respeito, por causa da graça que Deus vos concedeu em Cristo Jesus”. Trabalhar na Unicap é uma graça, trabalhar com cada pessoa aqui também. Celebrar 79 anos de realização do projeto universitário da Faculdade Nóbrega e 71 anos da Universidade Católica de Pernambuco é uma grande ação de graças e um convite a revisitar nossa história com memória agradecida, tomando consciência do tempo presente e refazendo a nossa aposta no futuro. A Unicap tem futuro porque tem um passado de superação e uma presença atuante na história das pessoas e da região. 

Mas, de certa forma, a nossa história começou bem antes e encontra seus primeiros traços na universidade de Paris, quando alguns estudantes sonhadores quiseram formar um grupo para anunciar a boa notícia ao mundo, sob a liderança de Inácio de Loyola. Assim, no dia 27 de setembro de 1540, o sonho ganhou corpo e foi criada, oficialmente, a Ordem dos Jesuítas, data e acontecimento que comemoramos hoje. Mais que recordar um fato antigo, porém, cabe a nós celebrar a transformação daquele projeto universal em uma realidade particular e concreta, a 1ª universidade católica do Norte e do Nordeste do Brasil, única ligada aos jesuítas nestas regiões. Por tudo isso, damos graças a Deus e às pessoas que nos precederam nesta obra e missão, agradeçamos uns aos outros. 

Nesta capela do campus, marcamos alguns encontros da comunidade universitária com Deus, colocando-nos à escuta da sua Palavra contida nas Escrituras, relacionando-a com os fatos da nossa vida presente, à luz de Jesus Cristo. Hoje, a partir dessas datas comemorativas e dessas leituras, destaco um aspecto: a importância de aprendermos com o Cristo mestre, inspirador de nossa missão educativa comum. Segundo o Evangelho que escutamos, o mestre da Galileia, realiza e propõe três ações principais: 1) agradecer e louvar a Deus pela sabedoria dos pequeninos; 2) oferecer a si mesmo como descanso do trabalho pesado; e 3) convidar a aprender dele a mansidão e a humildade. 

Essa passagem do Evangelho, porém, está entre situações contextuais bem específicas: antes temos a indiferença das pessoas (tocamos flautas para vós, e não dançastes; entoamos cantos de luto e não chorastes) e também a crítica de Jesus às cidades da Galileia por autossuficiência e orgulho. Depois: os discípulos são repreendidos pelos legalistas por não respeitarem o descanso sabático, porque estavam arrancando espigas dia de sábado…  

É diante desse contexto polêmico e crítico que Jesus enaltece três atitudes que devem ser também as nossas hoje. Depois de atualizar cada uma delas, balbuciarei uma prece, pedindo a Jesus que nos ensine a ser um grande educador, como ele foi: 

1. Entre outras coisas, a pandemia tornou mais evidente que trabalhamos com processos de aprendizagem nos quais somos educadores que precisam não apenas continuar aprendendo, mas fazer dessas inversões um método mais interativo. Graças à ação do Instituto Humanitas, sobretudo, temos feito a experiência da troca de saberes dentro do campus, consolidando a comunidade universitária mediante a maior integração entre os diversos cursos e disciplinas, mas também interagindo com organizações sociais, movimentos e instituições governamentais ou não.   

Senhor Jesus, ensina-nos a louvar e a agradecer pela sabedoria que vem dos pequeninos! Nós da academia lidamos com os processos de aprendizagem e com muitos saberes, dialogando com pensadores e pensamentos do mundo inteiro. Ensina-nos também a reconhecer outros saberes, que possamos incluir as mais diversas pessoas nos processos de aprendizagem. Que busquemos uma sabedoria que dê sabor à vida, a nossa e a de tantas pessoas que trabalham ou estudam conosco! 

2. Para muitos de nós, esse trabalho educativo é também uma missão de vida. Isso é muito bonito, mas parece que cansa ainda mais, porque estamos envolvidos nos processos, nos resultados. Além disso, em uma sociedade de tantas contradições, representamos um terceiro setor e remamos na contracorrente: uma instituição que não é pública estatal, nem privada particular, precisa da contribuição das famílias; embora com uma vocação de inclusão social, sabemos que não conseguimos atender às grandes demandas de uma sociedade marcada por desigualdades, baseada na meritocracia e plena de injustiças. 

Senhor Jesus, mestre e educador, ensina-nos a descansar e ajudar os outros a aprender a descansar. Ensina-nos a oferecer o nosso ombro amigo, o nosso colo para que outras pessoas possam aliviar o peso do trabalho, o fardo de seus problemas e preocupações… Que, enquanto educadores, não aumentemos o peso e o fardo de nossos jovens estudantes, fragilizados pela vida ou por tantas demandas e situações; que possamos, enfim, como verdadeiros pedagogos, acompanhar cada pessoa segundo o seu jeito e seu ritmo, respeitando sua maneira de pensar e de viver. 

3. Enfim, devido à formação recebida ou às nossas inseguranças, associamos o bom educador àquele que é severo e exige muito dos outros, mostrando autoridade mediante ameaças e punições. Sabemos, porém, que ser exigente não significa impor nosso ponto de vista, nem exercer a autoridade como autoritarismo e moralismo. Sabemos, enfim, que a humildade, etimologicamente, está ligada à terra, húmus; ser humilde é, portanto, ter o pé no chão e ser manso, é ter um jeito humano de educar para as exigências da vida, da profissão. 

Senhor Jesus, pedagogo da liberdade e do amor: ensina-nos a traduzir a mansidão e a humildade em nossa vida profissional… Ensina-nos a pedagogia de um coração manso que não exige mais do que aquilo que as pessoas podem dar. Ensina-nos, sobretudo a humildade realista de um educador que admite não saber tudo, que está sempre aberto a aprender com cada geração nova que chega, com as outras áreas do conhecimento, com os outros saberes, notadamente com os nossos povos originários que, entre outras sabedorias, sabem cuidar melhor que nós da casa comum. 

Enfim, ensina-nos, Senhor, a celebrar esses quase 80 anos da Unicap com uma memória agradecida e responsável pela herança recebida, com a coragem criativa de assumir nossa contribuição no presente desafiador e com esperança realista de abraçar um futuro melhor a ser construído, dia a dia, como pessoa comprometida e comunidade universitária. Amém!”

Pe. Pedro Rubens Ferreira de Oliveira, SJ 

Reitor da Universidade Católica de Pernambuco 

Fonte: Unicap 

Fotos: Adelson Alves

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