Entre os dias 9 e 11 de outubro, com o objetivo de compartilhar experiências de trabalho no campo social, aconteceu uma reunião entre o superior da Plataforma Apostólica Nordeste 2 (estrutura que constitui a Província dos Jesuítas do Brasil –BRA), padre Alexandre Raimundo de Souza, o secretário executivo do OLMA (Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida), Luiz Felipe Lacerda, o delegado do Apostolado Social da CPAL (Conferência dos Provinciais Jesuítas da América Latina), padre Roberto Jaramillo, e a equipe do CEAS (Centro de Estudos e Ação Social).
Na ocasião, a equipe do CEAS expôs os trabalhos realizados pela Equipe Rural, que atua no acompanhamento de agricultores familiares e no apoio as práticas de agricultura sustentáveis no interior da Bahia, e pela formação política de jovens que vivem no campo. A Equipe Urbana apresentou os avanços já consolidados no apoio técnico, jurídico e conceitual aos movimentos sociais de Salvador (BA) e na formação sociopolítica de jovens e mulheres do contexto urbano. Tratou-se ainda do empenho da equipe em enfrentar o desafio de reativar a biblioteca do CEAS e a Casa de Memória Popular (CAMPO), que possui um precioso acervo de livros, periódicos e documentos, totalizando 10 mil títulos, além de documentação exclusiva sobre a memória de movimentos populares.
“Foi possível nos aprofundarmos no trabalho que cada uma das instituições realiza, reforçando nosso pensar e agir em rede”
Luiz Felipe Lacerda
Lacerda falou sobre a criação da Província dos Jesuítas do Brasil – BRA e o nascimento do OLMA nesse contexto. O secretário executivo do Observatório Nacional apresentou a missão e as estratégias de ação do OLMA, falou sobre as linhas de trabalho relacionadas a Amazônia, Juventudes, Migrantes e Refugiados, Educação Popular, assim como outras temáticas que derivam das próprias Preferências Apostólicas da Província BRA. Ao final, enfatizou que o maior desejo e o maior propósito do OLMA é colocar-se a serviço dos centros sociais, obras, núcleos e institutos no sentido de fortalecer a promoção da justiça socioambiental e as redes de cooperação sobre ações já desenvolvidas nas bases.
Por fim, padre Roberto Jaramillo apresentou os programas sobre Direitos Humanos, Moradia, Advocacy e apoio a agricultura familiar desenvolvidos pela CPAL social. Sua fala deu ênfase a um convite, que se estende a todos os centros sociais do Brasil, para participarem de uma especialização em Incidência Política e Direitos Civis, Políticos e Sociais que terá início em 2017 e busca além de capacitar a rede, fortalecer as lutas conjuntas entre os centros sociais da América Latina. Ao término, tratou também de temas específicos para a organização do Encontro de Centros Sociais da América Latina, tradicionalmente promovido pela CPAL e que, no próximo ano, ocorrerá em Salvador.
Para Lacerda, do OLMA, o encontro proporcionou conhecimento mútuo. “Foi possível nos aprofundarmos no trabalho que cada uma das instituições realiza, reforçando nosso pensar e agir em rede”, afirma.
EM AÇÃO
Após a reunião, os participantes tiveram a oportunidade de conhecer as iniciativas apoiadas pelo CEAS. Na ocasião, eles visitaram dois espaços de ocupação urbana protagonizadas pelo Movimento dos Sem Teto da Bahia (MSTB), que, em todo o estado, mobiliza cerca de cinco mil famílias organizadas entre ocupações populares, programas habitacionais como Minha Casa, Minha Vida e núcleos organizados em bairros populares.
A primeira visita ocorreu na Ocupação Quilombo Manoel Faustino, que existe há oito meses, abrangendo 62 famílias. Miralva Alves, que há 11 anos faz parte do movimento, e Rita Ferreira, que participa do MSTB há sete anos, recepcionaram os visitantes. “Essas mulheres, negras, guerreiras, educadoras e lideranças do movimento de luta pela moradia, em Salvador, compartilharam conosco os árduos desafios dessa missão, sem perder o sorriso e a mensagem de esperança”, conta padre Alexandre Raimundo.
Rita ensina que “a moradia é um primeiro passo, mas a luta é bem maior, pois é preciso pensar no deslocamento das pessoas reassentadas”. Segundo ela, “não adianta dar casa e tirar as pessoas de perto do sustento. ”
Miralva informa que quando promovem uma nova ocupação, colocam no território o nome de um ou uma liderança negra. “Desta forma damos motivo para a curiosidade dos jovens e vamos assim, conscientizando e trazendo a história de nossas lutas para eles”, explica.
“Após essa reunião e as visitas realizadas, todos saem mais conscientes dos desafios em busca da superação dos abismos das desigualdades no campo social. Estamos ainda mais animados para seguirmos articulando em rede sonhos, projetos e lutas”
Catarina Lopes
Segundo Lacerda, as duas lideranças foram enfáticas ao relatar a contribuição que o CEAS aporta ao movimento. De acordo com Rita e Miralva, ofertando articulação em rede, cursos de capacitação, formação política e apoio jurídico, o CEAS é o principal organismo de apoio do Movimento em Salvador. “A instituição se manteve firme e constante ao lado delas quando outras instituições se afastaram da luta por motivos políticos”, explica Lacerda.
A segunda comunidade visitada foi a ocupação Paraíso, que existe a sete anos e recebe acompanhamento do CEAS há seis anos, abarcando 110 famílias. “Após essa reunião e as visitas realizadas, todos saem mais conscientes dos desafios em busca da superação dos abismos das desigualdades no campo social. Estamos ainda mais animados para seguirmos articulando em rede sonhos, projetos e lutas”, conclui Catarina Lopes, secretária executiva do CEAS.
Fonte: OLMA (Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida)