Quando o celular tocou, Yuri não quis atender. Culpa do DDD. O número de São Paulo o fez pensar que aquela seria mais uma ligação de telemarketing. Mas não. Se pudesse prever as boas notícias, sequer esperaria o segundo toque. Sorte que a decisão já havia sido tomada – o telefonema, afinal, era só para avisar que ele, Yuri Ebenriter (foto), ganhara o Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão.
“Eu nem estava esperando a ligação”, conta o aluno do sexto semestre de Jornalismo da Unisinos classificado entre os quatro vencedores da competição. “Tanto é que foi a [professora] Carravetta quem teve que entrar em contato comigo para confirmar a classificação”.
A professora, no caso, é Luiza Carravetta, orientadora de Yuri no concurso. Famoso entre estudantes de comunicação, o jovem jornalista aposta na criatividade de futuros profissionais da área ao dar a eles a oportunidade de pensar e produzir uma grande pauta. Todo o processo é acompanhado de perto por um docente da instituição de ensino do participante e um mentor designado pelo Instituto Vladimir Herzog, criador e organizador do Prêmio.
Duas foram as sugestões de pautas propostas pela organização do concurso. A escolhida por Yuri é o que ele chama de “um pouco mais provocativa” e começa pelo seguinte questionamento: após uma década de políticas de ação afirmativa, o que os jovens negros, que ingressam no mercado de trabalho, contam sobre discriminação e superação?
Partindo desse tema, o primeiro desafio de Yuri foi entregar um projeto de pauta detalhado sobre o processo de produção, incluindo a indicação de canal onde, eventualmente, o material seria veiculado. Ele escolheu TV. “Sempre tive interesse por cinema. Por isso, quis fazer um documentário – para sentir de perto como funcionam os mecanismos de gravação”, diz. Ele só não pensou que teria tanto trabalho. Depois das duas etapas de seleção, os quatro projetos selecionados receberam aval para serem colocados em prática. “Do trabalho original ficou apenas o esqueleto”, relata.
Para desenvolver a pauta, Yuri passou por lugares que nem imaginava existir e conheceu muitas histórias. “É incrível pensar que em pleno século XXI ainda temos casos semelhantes ao de escravidão. Sem falar no acesso restrito à saúde, educação e transporte público a que os quilombos estão submetidos”, conta. Apesar disso, a conclusão do estudante é positiva. Ele percebeu que as políticas adotadas estão, sim, surtindo efeito para os jovens de hoje.
Trabalho
Para a docente que acompanha o aluno, a pauta tem sido igualmente gratificante. “Além de conviver com os jovens quilombolas para entender a sua realidade, as entrevistas com negros que venceram o preconceito e chegaram à superação trouxeram experiências significativas para o Yuri”, diz Luiza. “Orientar o trabalho dele faz parte da minha atividade acadêmica como professora, mas vê-lo crescer como profissional e como ser humano ratifica a assertiva de que a aprendizagem é para a vida”.
As gravações ainda não terminaram. Segundo Yuri, o clima não favoreceu a captação das imagens e algumas externas tiveram de ser remarcadas, mas tudo estará pronto no próximo dia 30, data de entrega do material. Depois disso, começa a disputa pelo topo. Das quatro reportagens produzidas, uma será eleita a melhor, e o autor ganhará uma viagem de estudos para conhecer o Museu do Apartheid, em Joanesburgo.
Seja qual for o resultado, o que fica é a experiência. “Todos os alunos, independente do curso, devem aproveitar ao máximo as ferramentas que a universidade oferece. Existem bolsas de intercâmbio, concursos, palestras e laboratórios que possibilitam ao estudante o enriquecimento intelectual. Cabe a cada um buscar o seu espaço”, finaliza Yuri.
Fonte: Unisinos