Articulação Afro Brasil SJ: ações concretas na luta antirracista

Em 2019, jesuítas e colaboradores negros se reuniram para refletir sobre a questão étnico-racial na Província do Brasil, partilhando a vida e a missão como um novo quilombo que, posteriormente, passou a se reconhecer como Articulação Afro Brasil SJ.  Desde então, vem sendo um espaço de aproximação entre diversas pessoas que estão vinculadas à missão da Companhia de Jesus no país, com o intuito de favorecer o encontro, a partilha de vida e missão, a formação e reflexão sobre a questão étnico-racial e a luta contra o racismo na sociedade e em nossas instituições.

Um ano depois, em 2020, no contexto da pandemia da Covid-19, iniciou-se um itinerário formativo, a partir de rodas de conversas mensais, que abordaram temas, como a formação do movimento negro no Brasil, o racismo estrutural, juventude negra, epistemicídio e epistemologia negra, representação negra na política, os impactos psicossociais do racismo para população negra, espiritualidade e religiosidade afro-brasileira, educação para relações étnico raciais etc. O espaço das rodas de conversa, além de favorecer a reflexão e formação, consagrou-se nestes últimos três anos como um lugar de escuta, apoio, solidariedade e fortalecimento para as pessoas negras que também fazem a missão da Companhia de Jesus.

Com a perspectiva de ser uma articulação que fortalece, visibiliza os diversos núcleos e iniciativas sobre a temática nas obras jesuítas no país, a Articulação Afro tem sido uma rede diversa, com ampla representação de pessoas, obras e missão da Província, centros sociais, colégios, universidades, espaços MAGIS, paróquias e centros de espiritualidade. A Articulação está em sintonia com as orientações da Província, de configurar cada vez mais a missão para uma cooperação em rede e entre redes.

Para além de uma incidência de formação, reflexão e luta contra o racismo na sociedade brasileira e nas instituições da Província, a Articulação Afro Brasil – SJ também está presente no grupo Cpal Afro, do qual participam Centros e obras da Companhia que discutem questões sobre o racismo e a desigualdade racial na América Latina. O protagonismo e a autonomia de cada obra e missão da Companhia na luta antirracista a fim de enfrentamento das violências são fundamentais nesse cenário político brasileiro e, para a Articulação Afro, fortalecer, contribuir e visibilizar essas ações é prioridade. 

Em outubro de 2022 aconteceu o 1º Encontro Nacional da Articulação Afro Brasil – SJ, em Fortaleza (CE), com participação das diversas redes que fazem a missão da Companhia no Brasil. Neste encontro, além de partilhas, foi pensada uma agenda institucional de ações e atividades que visem a superação de todas as formas de discriminação racial nas obras e frentes apostólicas. Vale reforçar que a Articulação Afro Brasil – SJ não é uma obra ou ação institucional da Província, mas um grupo em que participam pessoas negras e outros indivíduos comprometidos com a luta antirracista, por adesão pessoal, ao mesmo tempo que são apoiadas pelas instituições onde atuam. 

Pe. Isaías Gomes da Silva, SJ, membro da Articulação Afro Brasil SJ, avalia de maneira muito positiva a caminhada realizada até aqui. “Nestes cinco anos, conseguimos articular diversas pessoas, ações e projetos que trabalham diariamente nas mais diversas frentes para a Companhia no Brasil, desde paróquias, escolas e centros sociais até universidades. Nos encontros virtuais e presenciais, tivemos a oportunidade de criar locais de resistência e cuidado. Como os quilombos, agregando como princípios a diversidade, a fraternidade e o diálogo cultural e inter-religioso. Apesar das resistências estruturais, ganhamos cada vez mais espaço para colocar a questão étnico-racial na agenda, no planejamento estratégico da nossa missão, nas políticas institucionais e no exercício da nossa espiritualidade”, explica ele.

 

* Texto editado do artigo publicado na edição especial do Em Companhia, de dezembro de 2022 e escrito por Nélia Nascimento, do Ceas (Salvador/BA), Pe. Isaías Gomes, SJ, e Márcio Danilo, do Santo Inácio (Fortaleza/CE).

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