Neste ano, temos muito o que celebrar no âmbito do movimento negro no Brasil, 50 anos do 20 de novembro, meio século da afirmação de que “o nosso dia é o 20 de novembro, dia da Consciência Negra”, dia do martírio de Zumbi dos Palmares. Celebramos também os 25 anos de peregrinação da Pastoral Afro-Brasileira ao Santuário de Aparecida, em Romaria para a casa da nossa Mãe negra. E os 40 anos da Missa dos Quilombos, celebrada no pátio do Carmo em Recife, pelos nossos grandes Dons, entre eles dom Helder Câmara, dom José Maria Pires e dom Pedro Casaldáliga.
Nesta ocasião, dom José, o Dom Zumbi, em sua homilia afirmava: “Estamos presenciando hoje e aqui os sinais de uma nova aurora que vem despertar a Igreja de Jesus Cristo. No passado, ela não amaldiçoou o pelourinho, não abençoou os quilombos, não excomungou os exércitos que se organizaram para combatê-los e destruí-los. A Igreja não estava com os negros e hoje parece que começa a estar. Começa a nos querer bem”.
Um novo ar parecia tomar conta da Igreja, um espírito pós Concílio Vaticano II, que passou a reconhecer a atuação de Deus no mundo, nas culturas, nas religiões e nos mais diversos povos. Em Santo Domingo (República Dominicana), na Conferência dos Bispos (1992), temos um reconhecimento do pecado da colonização e da escravidão, e um desejo de reparação, colaborando na superação do racismo e das desigualdades. A Igreja dá passos ao assumir seus “antigos” pecados. Para além do discurso e do desejo, temos, no decorrer das décadas, caminhos percorridos de perdão e reconciliação. Porém, falta muito diante de tamanha desigualdade e violência que marcam nossa história e que ainda vivemos.
Há aproximadamente dois anos, a Companhia de Jesus apresentou suas Preferências Apostólicas Universais, orientações para a atuação dos jesuítas no mundo. Uma das quatro preferências é: “Caminhar junto aos pobres, os descartados pelo mundo, os vulnerados em sua dignidade, numa missão de reconciliação e justiça”. Em nosso contexto brasileiro sabemos que os mais vulneráveis são a população negra, que, junto aos povos indígenas, é a que mais sofre com a desigualdade social e econômica. Considerando nosso histórico e o tempo presente, no ano 2019, jesuítas e colaboradores(as) negros(as) se reúnem para refletir sobre a questão étnico-racial na Província do Brasil, partilhando a vida e a missão como um novo quilombo que, posteriormente passou a se reconhecer como Articulação Afro Brasil SJ.
Esta Articulação tem sido um espaço de aproximação entre jesuítas, colaboradores(as) negros(as) e outras pessoas que fazem a missão da Companhia de Jesus no país, tendo como pauta a questão étnico-racial e a luta contra o racismo na sociedade e em nossas instituições. Vincula-se à Rede de Promoção da Justiça Socioambiental da Província dos Jesuítas do Brasil. Desse lugar, procura ajudar na articulação da missão e reflexão acerca das relações raciais em nosso país. No pouco tempo de existência, a Articulação Afro Brasil SJ tem começado a ocupar um espaço de representatividade na Província, somando-se aos diversos lugares que já trabalham com a temática.
Acreditamos hoje que esta articulação em torno deste tema é uma resposta aos sinais dos tempos, desde uma escuta atenta e generosa do Espírito, que grita em nossa experiência por justiça, como um sopro novo, antirracista e profundamente evangélico. Portanto, isso tem a ver com reparação e reconciliação, é desde estas perspectivas que desejamos colaborar com a missão da Companhia de Jesus no Brasil, e assim sendo, ajudar na luta contra o racismo e a desigualdade em nossa sociedade. Viva Zumbi!
Articulação Afro Brasil SJ
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