Contemplando a realidade amazônica, entrevista com Ir. Deivison da Cruz Lima

Graduado em Serviço Social, irmão Deivison da Cruz Lima foi destinado ao Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados – SJMR em julho de 2018. Também realiza missão na Pastoral da Juventude, sendo assessor da Área Missionária Santa Margarida de Cortona, que pertence ao setor Dom Luiz Soares Vieira, em Manaus (AM). Sobre esse trabalho junto aos jovens em situação de vulnerabilidade social e pobreza, o jesuíta explica que “consiste em mostrar a eles que é possível vencer e mudar a realidade em que se encontram”. Em entrevista ao informativo Em Companhia, ele conta um pouco da sua história.

 

Conte-nos um pouco sobre sua história de vida.

Nasci em Belém do Pará, na Santa Casa de Misericórdia. Estou com 37 anos. Tenho três irmãos, dois homens e uma mulher. Sou o segundo dos filhos homens.

Cresci em um bairro da periferia de Belém chamado Barreiro. Cursei todo o Ensino Fundamental em instituições católicas. Do Jardim da Infância (hoje, Pré-escola) até o 4º ano, estudei na Escola Santa Filomena. Do 5º ao 8º ano, frequentei a Escola de Ensino Fundamental Salesiana do Trabalho, no bairro de Pedreira, fundada e administrada pelos padres e irmãos salesianos. Conclui essa etapa em 1998. O  Ensino Médio foi na Escola Estadual Magalhães Barata, concluído em 2003.

Como você conheceu a Companhia de Jesus?

Conheci a Companhia de Jesus em 2002, quando participava de um grupo da Igreja Católica chamado Maíra, que atuava na Capela de Lourdes, no bairro de Nazaré. Mas, somente em 2005, decidi entrar para o centro vocacional em Belém. Minha entrada deu-se no dia 12 de fevereiro daquele ano. Coincidentemente, na mesma data em que a Irmã Dorothy Stang (saiba mais no final da entrevista) foi assassinada, no Pará. Nesse dia, a frase que eu falei na missa de acolhida foi: “sangue de mártir é semente brotada”. Essa é uma frase dos primeiros cristãos.

A escolha por ser um irmão jesuíta deu-se pelo fato de que o irmão não está preso aos sacramentos. Eu posso ser missionário.

Você é graduado em Serviço Social. Como essa formação pode ajudar em sua missão na Companhia de Jesus?

A formação em Serviço Social pode me ajudar a trabalhar com os migrantes e refugiados, uma vez que o mundo está passando, hoje, por uma crise humanitária. E servir a essa demanda como irmão jesuíta e profissional de Serviço Social é poder ter um olhar de Cristo migrante para essas pessoas que tanto necessitam de acolhimento.

“[…] como religioso e assistente social, eu procuro intervir, viabilizar direitos a esses jovens e, por meio da escuta qualificada, procuro dar acesso às demandas que são apresentadas”

Em que consiste o trabalho do Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR)?

O trabalho do Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados está voltado para os seguintes princípios:

A ideia de uma só comunidade humana – inspirados pela ética cristã, cremos na dignidade intrínseca de todas as pessoas integrantes de uma mesma comunidade humana, em que não há estrangeiros.

O SJMR visa às pessoas em primeiro lugar. Fundamentados na doutrina dos Direitos Humanos, sustentamos que o limite da soberania dos estados e das fronteiras está no respeito fundamental de todas as pessoas. Perpassando pela diversidade, em que cremos na riqueza da diversidade humana e trabalhamos com todas as pessoas, sem importar sua condição ou situação.

Para nós, a justiça sempre está voltada para o serviço das pessoas migrantes em situação de maior vulnerabilidade. E ir aonde ninguém quer ir.

Por isso o trabalho do SJMR está ainda na autonomia dos migrantes, crendo que eles são sujeitos de seu próprio desenvolvimento humano. O SJMR trabalha também com outros, gerando redes de cooperação que promovem a inclusão social.

Você também atua na Área Missionária Santa Margarida de Cortona, em Manaus (AM). Quais são os desafios de fazer pastoral na periferia de uma grande cidade?

Sim, eu atuo! O meu trabalho é com os jovens da Pastoral da Juventude, sou assessor da Área Missionaria e do setor Dom Luiz Soares Vieira, em Manaus. O maior desafio está em trabalhar com uma juventude que vive em situação de vulnerabilidade social e onde o pauperismo se faz presente. Por isso o meu trabalho com esses jovens consiste em mostrar a eles que é possível vencer e mudar a realidade em que se encontram. Os desafios são muitos, como as drogas, o tráfico que está presente, a prostituição, o alcoolismo, porque, como religioso e assistente social, eu procuro intervir, viabilizar direitos a esses jovens e, por meio da escuta qualificada, procuro dar acesso às demandas que são apresentadas.

 

DOROTHY STANG

Nascida nos Estados Unidos e naturalizada brasileira, Dorothy Stang pertencia à congregação católica internacional Irmãs de Nossa Senhora de Namur, que desenvolve trabalho pastoral nos cinco continentes. Em 1966, irmã Dorothy chegou ao Brasil, onde, por meio da sua atividade pastoral e missionária, dedicou-se em favor dos empobrecidos. Por sua atuação, recebeu diversas ameaças de morte, mas não se deixava intimidar. No dia 12 de fevereiro de 2005, aos 73 anos de idade, foi assassinada com sete tiros a 53 quilômetros da sede do município de Anapu (Pará).

 

Essa entrevista foi publicada na 48ª Edição do informativo Em Companhia (Setembro 2018). Quer ler a edição completa? Então, clique aqui!

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