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Dia Mundial do Meio-ambiente 

(Pe. Rogério Mosimann da Silva, SJ, delegado para a Preferência Apostólica Amazônia) 

No dia 05 de junho celebramos o dia Dia Mundial do Meio-ambiente e o Dia da Ecologia. Infelizmente, como costuma acontecer em casos semelhantes, muito mais do que uma data comemorativa, trata-se antes de um alerta, uma chamada de atenção para algo que está falho na sociedade, uma convocatória à ação, na esperança de que em breve tempo não seja mais necessário um dia específico para lembrar determinado tema, porque já se passou a viver essa dimensão todos os dias. 

O Evangelho guarda uma palavra de Jesus segundo a qual “o sábado foi feito para o ser humano, e não o ser humano para o sábado” (Mc 2, 27). Segue-se o episódio em que Jesus chama uma pessoa marginalizada para o centro, e interroga aqueles que o queriam acusar: “É permitido fazer o bem ou o mal no sábado? Salvar uma vida ou matar?” (cf. Mc 3, 1-5). 

Com efeito, fazer o Bem, salvar (criar laços de comunhão com Deus e entre nós), promover a vida, eis aí o projeto original da Criação. 

Um dos principais teólogos cristãos de nossa época, Jürgen Moltmann, em seu livro (“Deus na Criação – doutrina ecológica da Criação”) desenvolve uma profunda reflexão sobre o sentido bíblico do sábado: Deus não criou a humanidade para dominar as demais criaturas, destruindo nossa Casa Comum, através da produção indiscriminada de bens materiais, em vista do acúmulo e do lucro. Ao contrário, o sábado é a destinação final da Criação, a comunhão universal e plena a que o ser humano é chamado a ir construindo desde já, embora sempre parcialmente, ao longo da História. 

Um termo que resume essa vocação humana fundamental é o cuidado: o mútuo cuidado humano, o cuidado com as pessoas mais frágeis e vulneráveis, o cuidado com nossa Casa Comum. 

A ecologia é questão de grande relevância e atualidade! Francisco no-lo recorda nos documentos Laudato Si’ (2015) e Laudate Deum (2023). Este último surge como veemente apelo à conversão ecológica, ante o estágio a que já chegou a crise climática no planeta. 

É espantoso ver como há gente e grupos que, contra todas as evidências (só em nosso País, neste ano: seca no Norte, inundações sem precedentes no Sul), ainda sustentam teses negacionistas. 

E o pior é que a Natureza tocou já seu limite de regeneração e, para as próximas décadas há previsão de fenômenos climáticos extremos nas diferentes regiões do planeta. 

Buscando responder a essa urgência, a Companhia de Jesus assumiu, como uma das quatro Preferências Apostólicas Universais, justamente “colaborar com o cuidado com nossa Casa Comum”. 

Porém, a mesma Companhia reconhece que avançamos menos do que deveríamos: “não encontramos o modo nem mudado nossa vida-missão para colaborar no cuidado da Casa Comum de uma forma criativa e eficiente” (De Statu Societatis, cap. V; p. 95). 

Nos próximos dias a Equipe Itinerante participará de um evento internacional em Manresa, Catalunha (Espanha), onde apresentará uma reflexão sobre a 3ª Semana dos Exercícios Espirituais de S. Inácio de Loyola, em chave amazônica (posteriormente será publicado o texto). Partindo da experiência efetiva no chão amazônida, bem como da fé trinitária (unidade, diversidade, relação), expõem como o ser humano é parte da criação, criatura entre as demais criaturas, chamada a cuidar do belo jardim que nos é oferecido por Deus (Gn 2, 8.15). Os povos originários e ribeirinhos cuidam e nos ensinam a cuidar, ajudando-nos a descartar a interpretação errônea que vê o ser humano como senhor absoluto da obra da Criação, arvorando-se ao direito de depredar suas criaturas-irmãs e escravizar e matar seu próprio semelhante. 

É certo que a responsabilidade recai sobre todas/os nós, mas cabe aos poderosos desse mundo assumir o quinhão mais significativo pelo “des-cuido” ao meio-ambiente (fica assim refutada a falácia de inculpar os pequenos, os Pobres deste mundo). 

Levando em conta essa verdade, nossas Comunidades jesuítas e as obras a cargo da Companhia de Jesus são chamadas a aportar seu testemunho antecipador (Paulo Freire já nos convocava ao esforço de testemunhar hoje, a nível micro, o que almejamos para o conjunto da sociedade no futuro) 

Valha nossa ação pedagógica, para educar a outras pessoas e aos diversos setores da sociedade na qual estamos inseridos no sentido de sensibilizar à problemática ambiental. 

Que não falte, contudo, nossa própria conversão ecológica, pessoal, comunitária, institucional, como Companhia de Jesus (jesuítas e quem mais busca servir o Reino com inspiração no carisma inaciano), pondo em prática, em nosso dia-a-dia ações simples tantas vezes simples que colaboram para o Bem e a Vida em nossa Casa Comum. 

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