Após os 40 dias da Quaresma, tempo em que somos convidados à oração, ao jejum e à esmola, damos início às celebrações da Semana Santa. Durante esse período, que começa no Domingo de Ramos, vamos entrando no clima e na vivência da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo.
No Domingo de Ramos, fazemos memória da entrada triunfal de Jesus na cidade de Jerusalém. O evangelista São Mateus (Mt 21,6-11) conta sobre essa chegada de Cristo a seus discípulos:
“Os discípulos foram e fizeram como Jesus lhes ordenara: trouxeram a jumenta e o jumentinho e puseram sobre eles as suas vestes. E ele sentou-se em cima. A numerosa multidão estendeu suas vestes pelo caminho, enquanto outros cortavam ramos das árvores e os espalhavam pelo caminho. As multidões que o precediam e os que o seguiam gritavam: ‘Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!’ E, entrando em Jerusalém, a cidade inteira agitou-se e dizia: ‘Quem é este?’ A isso as multidões respondiam: ‘Este é o profeta Jesus, o de Nazaré da Galileia.’”
Assim como milhões de cristãos, ao redor do mundo, repetem os gestos de Jesus em sua entrada triunfal em Jerusalém, também nas 40 paróquias jesuítas, espalhadas pelo País, o Domingo de Ramos é celebrado com muita devoção e participação. “A fé da nossa gente em relação à essa bênção é algo bonito de ver”, comenta padre Donizetti Tadeu Venâncio, SJ, pároco da Paróquia Santíssima Trindade, em Santa Luzia (MG).
Para padre Anísio Ribeiro da Silva, SJ, que está à frente da Paróquia Nossa Senhora de Montes Claros e São José de Anchieta, em Montes Claros (MG), “este é um momento forte de expressão de fé de nossa gente. O povo de Deus faz memória de sua história vivificando a entrada de Jesus em Jerusalém”.
Um modo inaciano de viver esse momento
Nos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, aprende-se a rezar os textos bíblicos de maneira contemplativa, fazendo-se presente na cena para, mais do que conhecê-lo, estabelecer uma relação de intimidade com a pessoa de Jesus. Nesse sentido, celebrar e viver o Domingo de Ramos “não se trata de recordar o passado, mas de ser solidário com o filho de Deus”, reflete padre Jaldemir Vitório, SJ, professor no Departamento de Teologia da FAJE (Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia). Padre Anísio complementa dizendo que “busca-se, a partir daí, uma maior comunhão com Cristo que vai à paixão”.
Nesse sentido, as paróquias jesuítas se preparam para celebrar esse momento de diversas formas. Em Fortaleza (CE), por exemplo, no início de março, a Paróquia Cristo Rei promoveu uma formação sobre A Espiritualidade da Semana Santa. A atividade foi conduzida pelo pároco, padre Raimundo Nonato Resende, SJ. “A forma didática tem sido orientada não simplesmente por uma condução nos moldes acadêmicos, pois – mais do que saber – leva-se a saborear, conforme nos ensina Santo Inácio de Loyola. Nos recentes anos, em seus diversos âmbitos de atuação, a Comunidade Paroquial vem experimentando e colhendo um amadurecimento constante, sempre em busca de se alcançar o magis, o mais, nas ações pastorais de evangelização, cidadania e de serviço”, explica.
“Este é um momento forte de expressão de fé de nossa gente. O povo de Deus faz memória de sua história vivificando a entrada de Jesus em Jerusalém”
Pe. Anísio
O jesuíta afirma que, no Domingo de Ramos, a equipe de liturgia deixa claro para a comunidade reunida que participar dessa ação litúrgica é estar disposto a caminhar com o Senhor, que se apresenta como o Messias, humilde, mas glorioso. “Vemos, na narrativa do evangelho desse dia, que Ele vai passar por momentos dolorosos, porém será glorificado”, ressalta. Padre Resende acrescenta ainda que “a reflexão, as preces e as monições [falas] levam a comunidade a pensar em Jesus, que segue entrando em nossas cidades, bairros, vilas e favelas, caminhando conosco e convidando-nos a segui-lo com humildade e disposição para doar o nosso melhor em defesa do outros. Este ano, vamos enfatizar o tema da Campanha da Fraternidade e estamos preparando um banner com os tristes dados da violência em Fortaleza”, diz.
Na Paróquia Nossa Senhora de Montes Claros e São José de Anchieta, as comunidades podem se utilizar da criatividade para vivenciar o Domingo de Ramos. “Quase sempre, as comunidades encenam, de modo criativo, as leituras ou o evangelho do dia. Não raro, fazem a caminhada rezando, cantando, e alguém monta em um jumento ou cavalo, procurando trazer presente aquele momento da vida de Jesus”, conta padre Anísio. Composta por quase 40 comunidades, entre urbanas e rurais, a paróquia realiza a celebração da Eucaristia em todas elas. Em algumas, no período da manhã, e, em outras, à tarde. Já nas comunidade rurais, que são divididas em três núcleos, há uma celebração em cada um deles, na qual se reúnem todas as comunidades do entorno.
Em Londrina (PR), na Paróquia Pessoal Nipo-Brasileira Imaculada Conceição, além da bênção de Ramos e da Santa Missa, a comunidade participa de um dia de reflexão. Segundo o pároco, padre Lino Stahl, que trabalha com a comunidade japonesa da região, boa parte da comunidade participa. “Na parte da manhã, dois períodos de palestra estimulam para oração. Após o almoço compartilhado, é acompanhada a Via Sacra. Segue-se uma assembleia para esclarecer dúvidas e também é oferecida a oportunidade para confissão. Nosso dia termina com a bênção de Ramos e a Santa Missa”, afirma.
Na Paróquia Santíssima Trindade, em Santa Luzia (MG), devido ao apoio dos padres da FAJE (Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia), durante a Semana Santa, a partir do Domingo de Ramos, cada comunidade tem o acompanhamento de um sacerdote. “Nossa paróquia funciona como rede de comunidades. Então, geralmente, as missas do Domingo de Ramos realizadas pela manhã são acompanhadas pela Bênção e Procissão de Ramos. À noite, as missas são realizadas com a bênção dos ramos na porta das igrejas”, conta padre Donizetti.
O rito, explica o jesuíta, é seguido conforme as orientações da Liturgia. Com destaque à bênção dos Ramos. Segundo padre Donizetti, a celebração do Domingo de Ramos é uma das que conta com mais participação dos fiéis. “Eles lotam as igrejas com uma variedade de ramos, sejam as folhas de palmeiras, sejam as famosas plantas medicinais, que darão vida aos diversos chás que as mulheres e mães de nossas famílias têm o hábito de fazer”, finaliza.
Abrir o coração para saborear esse momento
Como proposta, padre Vitório nos convida a reviver, com alegria e ânimo, a caminhada de entrada de Jesus em Jerusalém. Confira: