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Em entrevista, Pe. Emmanuel Araújo fala sobre o acompanhamento espiritual

Nos dias 2 e 3 de setembro, o Centro Loyola de Fé e Cultura PUC-Rio promove mais um encontro da Escola de Espiritualidade, desta vez com o tema A Arte do Acompanhamento Espiritual. No encontro, o padre Emmanuel Araújo pretender levar os participantes a refletir sobre este serviço aos irmãos e à Igreja. Confira mais detalhes na entrevista:

Qual o papel do acompanhamento espiritual na tradição da Igreja?

Na tradição cristã, há uma clareza de que uma pessoa que trilha os caminhos da vida no Espírito precisa da ajuda de alguém que também vive tal experiência para ser fiel àquilo que Deus vai lhe apontando a cada dia. No tempo em que os cristãos buscavam a vida no deserto para viverem com radicalidade a sua fé, sabiam que precisavam da assistência de outra pessoa de fé para trilhar os caminhos buscados no coração: trata-se dos Pais e das Mães Espirituais, pessoas que comunicam a vida no Espírito. Para Santa Teresa, o acompanhamento espiritual é uma ajuda indispensável para evitar os enganos e superar as dificuldades na busca da união com Deus: “Sempre procurei quem me dê luz” (Vida 2,8). Ela afirma que, se tivesse encontrado orientadores experientes desde o início de sua busca, teria se lançado no serviço de Deus e alcançado a união com ele muito mais cedo. São João da Cruz afirma que aquele que está sem um mestre espiritual é como a árvore do campo, isolada e sem dono, que por mais fruto que dê, estes serão sempre levados pelos que passam, antes mesmo de amadurecerem (Ditos de Luz e Amor 5). Santo Inácio também se insere nessa tradição.

E qual é o papel do acompanhante espiritual dentro da Espiritualidade Inaciana?

Podemos caracterizar o acompanhamento na tradição inaciana com um verbo muito caro a Santo Inácio: ajudar. A pessoa que acompanha a outra vai ajudar a seguir o Espírito na busca da vontade de Deus; ajudar a perceber, conhecer e discernir as moções; ajudar a crescer na liberdade, para buscar e encontrar a vontade de Deus, ordenando os afetos e desejos para ele; ajudar a purificar as motivações da oração. O acompanhante é uma testemunha e um facilitador da experiência que acontece entre a pessoa acompanhada e Deus. Ele deve buscar simplesmente ajudar a criar as condições para que tal experiência aconteça. Santo Inácio é bem claro quanto a isso ao dizer que quem acompanha não deve interferir, nem direcionar esse processo, “mas se mantenha no meio, como o fiel de uma balança, deixando agir diretamente o Criador com a criatura e a criatura com seu Criador e Senhor” (Exercícios Espirituais 15).

Qualquer pessoa pode ser acompanhante espiritual? É preciso que a pessoa tenha alguma característica específica para este serviço?

A pessoa que se sente chamada ao serviço do acompanhamento espiritual é alguém que faz uma experiência de Deus em sua vida, que tem uma vida de oração, que já foi ajudada por outros na sua vida espiritual e que procura, de algum modo, preparar-se para tal serviço. O acompanhamento é um dom que Deus dá à sua Igreja, para ajudar seus filhos e filhas a trilharem o caminho da vida no Espírito. Por isso, não é uma arte reservada a uma elite iluminada e muita gente pode descobrir-se chamada a exercê-la. Mas também não é algo aleatório, trata-se de um dom e de um chamado que brotam da experiência viva de íntima relação com Deus.

“O acompanhamento é um dom que Deus dá à sua Igreja, para ajudar seus filhos e filhas a trilharem o caminho da vida no Espírito”

E que passos deve seguir a pessoa que se sente chamada a este serviço?

O primeiro passo é acolher o chamado de Deus e dispor-se a ajudar as pessoas em sua vida espiritual. Hoje, há uma grande busca pelo acompanhamento espiritual e muitas vezes faltam pessoas dispostas a prestar esse serviço. E, como acenei na resposta anterior, a pessoa deve ter uma vida de oração tomada com seriedade, buscar ser ela mesma acompanhada por alguém e formar-se sempre mais para esse serviço ao povo de Deus.

Nesta formação que o senhor irá fazer no Centro Loyola qualquer pessoa pode participar? O que será trabalhado?

Pretendo trabalhar alguns tópicos que ajudem as pessoas a refletirem sobre o acompanhamento espiritual a partir de quatro tradições já citadas: os Padres do Deserto, Santa Teresa, São João da Cruz e Santo Inácio de Loyola. O que eles dizem sobre o acompanhamento espiritual que pode nos ajudar a prestar esse serviço com melhor qualidade ao povo de Deus hoje? Evidentemente, já estar prestando esse serviço não é um pré-requisito para participar desses dias de formação, alguém poderá se sentir chamado a ao aprofundar mais sobre seu significado.

Para participar da Escola de Espiritualidade sobre a Arte do Acompanhamento Espiritual, clique aqui e se inscreva.

 

Fonte: Centro Loyola de Fé e Cultura PUC-Rio (Rio de Janeiro/RJ)

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