Celebrar Santo Inácio é, também, refletir sobre como se deu o processo de construção do legado deixado pelo fundador da Companhia de Jesus.
Conversão de Inácio
Nascido em uma região no norte da Espanha, em uma família da baixa nobreza, Íñigo López de Loyola dedicou bastante tempo de sua adolescência preparando-se para a carreira militar na corte. A serviço do vice-rei de Navarra, foi ferido na perna por uma bala de canhão, em Pamplona. Durante a convalescença, experimentou uma conversão interior, quando, ainda doente, interessou-se por histórias e estudos de fé e passou a buscar inspiração nas histórias de santidade.
Após o seu processo de conversão e a sistematização dos Exercícios Espirituais, Inácio estabeleceu como meta ficar, para sempre, na terra de Jesus, na Terra Santa, para ajudar as pessoas na vida espiritual. Em um primeiro momento, ele conseguiu chegar até lá, mas, devido aos perigos eminentes de guerras, foi obrigado a retornar à Europa. Inácio, então, buscou a vontade Deus a seu respeito. Dessa forma, pôde compreender que, para ajudar os outros, era necessário estudar. Foi para Barcelona e, depois, Paris, para realizar os estudos visando orientar as pessoas nos Exercícios Espirituais e poder explicar a doutrina cristã.
Durante o período na capital francesa, orientou os Exercícios Espirituais para um grupo de jovens desejosos de servir a Deus. Com esses primeiros companheiros, mais tarde, iria fundar a Companhia de Jesus. Durante a festa de Nossa Senhora da Assunção, na capela de Montmartre, em Paris, Inácio e os seis amigos fizeram os votos de colocar as suas vidas em favor dos outros, seguir Jesus Cristo pobre, ir a Jerusalém ou a Roma e colocar-se à disposição do Papa. Como não puderam cumprir a promessa de ir a Jerusalém, os que ainda não eram padres receberam a ordenação sacerdotal em Veneza.
Em Roma, Inácio recebeu uma grande graça. Nessa experiência mística, ele experimentou um profundo sentimento de alegria e consolação espiritual em que Deus confirmava e aceitava a Companhia de Jesus. Então, junto com os outros companheiros, foi se colocar à inteira disposição do Papa Paulo III. O Pontífice aprovou, oficialmente, a ordem religiosa em 27 de setembro de 1540 e começou a enviar os companheiros em missão.
Antes da dispersão nas missões recebidas do Papa, colocaram-se a questão sobre se prestariam obediência a um deles. Nessa busca do que fazer, há um itinerário espiritual que eles viveram para descobrir o que Deus queria do grupo naquele momento. Recorrem à oração e às regras da eleição dos Exercícios Espirituais, no processo de discernimento comunitário dos primeiros companheiros, que deu origem à Companhia de Jesus.
Discernimento
“A experiência do discernimento tem raízes profundas na história da Companhia.”
Pe. Arturo Sosa
Pe. Arturo Sosa nos revela que o processo da deliberação dos primeiros companheiros teve início quando eles fizeram os seus votos. “A experiência do discernimento tem raízes profundas na história da Companhia.Podemos dizer que a Companhia é fruto do discernimento feito por um grupo de homens. Tinham se conhecido na Universidade de Paris (França), onde estudaram e obtiveram seus graus acadêmicos. Resolveram servir à Igreja como ministros ordenados, mas em pobreza. Finalmente, após um processo de discernimento, tomaram a decisão de permanecerem unidos, formando uma comunidade de vida e missão. O processo de discernimento durou 40 dias, nos quais dedicaram horas à oração e à meditação, partilharam sentimentos, lembranças e desejos, ponderaram razões pró e contra e foram vendo com claridade que era vontade de Deus que, os que Deus mesmo havia reunido, se mantivessem unidos, numa comunidade de vida e missão” (Visita do Pe. Arturo Sosa ao Brasil, Discurso na Unisinos, p.77).
Ainda no discurso na Unisinos, Pe. Arturo Sosa afirma que, na origem dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio, está “um caminho de discernimento que marcará, para sempre, sua vida e a de todos os que passam por essa experiência”. Inácio percebia que muitas ideias e projetos que imaginava provocavam alegria, enquanto outros geravam alegria e paz mais duradouras. Ele vai desenvolvendo, assim, uma sensibilidade aguçada na sua vida espiritual, sendo capaz de ler as mensagens de Deus, inscritas em seu coração pela ação do Espírito.
A vida de Inácio sempre foi marcada por objetivos claros, para, com base neles, buscar os meios necessários para alcançá-los. Os Exercícios Espirituais o ajudaram a corrigir, purificar e canalizar todo esse potencial para o serviço do Reino.
Suas principais características, como Superior Geral da Companhia, formaram o carisma jesuíta e foram importante diferencial para a época. São exemplos a capacidade de identificar o potencial de liderança nas outras pessoas, a ousadia em conhecer novos lugares e culturas, a sensibilidade para perceber as questões enfrentadas pela Igreja Católica de sua época e a visão para reconhecer fontes de necessidades.
O resultado da sua experiência de conversão foi a busca da vontade de Deus. A partir daí, o discernimento passou a ocupar um lugar crucial na vida de Inácio, que começou a valorizar, também, a autoconsciência.
No processo do discernimento, o Exame de Consciência é fundamental. Ele consiste em entender a relação que Deus estabelece com seus filhos. Inácio buscou manter-se atento aos próprios pensamentos e reações frente aos acontecimentos. Assim, investigando constantemente a si mesmo, pôde fazer um balanço de suas forças, suas fraquezas e seus valores; posteriormente, incentivou seus companheiros a fazerem o mesmo, sempre tendo a vontade e as moções de Deus como objetivo final.
No tempo de Inácio, falava-se muito em “decadência”. As descobertas geográficas, fruto das grandes viagens marítimas, tinham ampliado as fronteiras do mundo conhecido. Havia um grande desejo de reformas. Sentia-se a necessidade de novas instituições, mais adaptadas aos novos tempos. Estava nascendo o “mundo moderno”.
A Igreja, no tempo de Inácio, estava em decadência e, portanto, necessitava de renovação. Alguns dos primeiros companheiros de Inácio participaram no Concílio de Trento, impulsionando a chamada “Contra-reforma”, ou Reforma católica.
Inácio de Loyola contemplou o mundo do seu tempo com olhos de fé, com uma vontade imensa de colaborar com o Projeto de Deus de transformar a realidade de pecado, em direção ao Reino.
Assim, levando em consideração o trabalho realizado por Inácio no governo da Companhia, escrevendo as constituições e uma série de outros escritos orientadores, é possível afirmar que a identificação de urgências e a concentração de esforços não são novidades na Companhia de Jesus. Conforme as necessidades revelam-se, o foco dos trabalhos atualiza-se.
O Pe. Arturo Sosa, Superior Geral da Companhia de Jesus, em sua homilia na Eucaristia de encerramento da 36a Congregação Geral, dizia: “Nosso discernimento nos leva a ver este mundo com os olhos dos pobres e a colaborar com eles para fazer crescer a vida verdadeira. Convida-nos a ir às periferias e a tentar compreender como enfrentar globalmente a totalidade da crise que impede a maioria da humanidade de ter as condições mínimas de vida e põe em risco a vida sobre o planeta Terra, para abrir espaço à Boa Nova. Nosso apostolado, portanto, é necessariamente intelectual. Os olhos misericordiosos que adquirimos, ao nos identificar-nos com Cristo na cruz, nos permitem enfrentar a compreensão de tudo o que oprime os homens e mulheres de nosso mundo” (Homilia da Missa de Encerramento da 36a Congregação Geral, Igreja de Santo Inácio, Roma, 12.11.2016).
Inácio de Loyola buscava preparar todos os membros para atuarem em qualquer contexto em que identificassem almas necessitando de ajuda.
Após estabelecer a Companhia de Jesus e estar à frente dessa ordem religiosa, Inácio de Loyola buscava preparar todos os membros para atuarem em qualquer contexto em que identificassem almas necessitando de ajuda. Para tanto, foi necessário desenvolver uma boa preparação intelectual, sólida, na formação dos jesuítas, que os ajudasse a crescer na integração pessoal. Nesse sentido, o Papa Francisco, quando falou aos jesuítas na 36a Congregação Geral, disse, “Meu conselho é que tudo o que os jovens estudam e experimentam em seu contato com diversos contextos seja submetido também a um discernimento pessoal e comunitário e seja levado à oração. Deve haver estudo acadêmico, contato com realidades, não só periféricas, mas também limítrofes na periferia, oração e discernimento pessoal e comunitário. Se uma comunidade de estudantes faz tudo isto, eu fico tranquilo. Quando falta alguma destas coisas, começo a me preocupar. Se falta estudo, podem-se falar besteiras ou idealizar, às vezes, situações de modo simplista. Se falta contexto real e objetivo, acompanhado por quem conhece o ambiente, podem dar-se idealismos idiotas. Se falta oração e discernimento, evidentemente podemos ser muito bons sociólogos ou politólogos, mas não teremos a audácia evangélica e a cruz evangélica que devemos levar” (Tener coraje y audacia profética. Diálogo do Papa Francisco com os jesuítas reunidos na 36a Congregação Geral, 2016).
Assim, com base na perspectiva do discernimento, tornaram-se comuns as missões de evangelização, em que os jesuítas viajavam aos lugares que a maior parte da sociedade não conhecia ou até se negava a ir. Essas viagens visavam assistir a população, fosse mostrando os caminhos para Deus, fosse garantindo e lutando por alguns direitos básicos.
As missões passaram a permitir que houvesse um acompanhamento aprofundado dos trabalhos sociais. Em seu modo de proceder, “Loyola e seus colegas estavam convencidos, por exemplo, de que nosso melhor desempenho ocorre em ambientes que nos incentivam, nos apoiam, carregados de positividade (até aí tudo bem) e, assim, incentivaram seus seguidores a criarem ambientes repletos de mais amor do que medo”, escreveu Chris Lowney, em seu livro Liderança Heroica.
Hoje, a Companhia de Jesus somos nós, leigos, jesuítas, colaboradores e parceiros de missão. Atualmente, são cerca de 16 mil jesuítas atuando em torno de 100 países dos cinco continentes. Ao longo da história da Companhia, ela tem colaborado com a transformação da sociedade por meio da espiritualidade, da educação, da promoção social, do diálogo intercultural e inter-religioso, do apostolado intelectual, do serviço da fé e da promoção da justiça.
As Preferências
Uma das orientações emanadas da Congregação Geral 36 foi o pedido ao Superior Geral, Pe. Arturo Sosa, que revisasse as prioridades, ou preferências, apostólicas da Companhia de Jesus. Por vontade do próprio Padre Geral, foi envolvido um amplo espectro de pessoas nesse processo, incluindo os jesuítas e também seus companheiros e companheiras na missão, leigos e religiosos de todo o mundo. Para isso, foi usado o método da conversação espiritual. Jesuítas, grupos de amigos e benfeitores foram convidados a discernir as necessidades do mundo, os apelos do Espírito e os caminhos para a Companhia de Jesus servir melhor.
Cada Província Jesuíta teve que preparar um relatório com o resultado do trabalho realizado. Então, esses relatórios foram levados para as Conferências dos Provinciais das seis regiões do mundo em que os jesuítas estão presentes. No início de janeiro de 2019, juntamente com os Conselheiros regulares do Padre Sosa, os Presidentes das seis Conferências Jesuítas participaram do Conselho Ampliado do Padre Geral, a fim de avançar no discernimento. Eles elaboraram propostas que o Padre Geral apresentou ao Papa Francisco em 17 de janeiro.
O Santo Padre, depois de fazer seu próprio discernimento, deu, oficialmente, ao Superior Geral e a toda a Companhia de Jesus, as preferências apostólicas universais para o período de 2019 a 2029.
“As preferências apostólicas universais […] antes de tudo foram a resposta da Companhia às necessidades da Igreja […] Elas expressaram e devem expressar de maneira concreta, como corpo apostólico universal, a nossa disponibilidade para trabalhar sob a bandeira da cruz, para servir somente ao Senhor e à Igreja, sua Noiva, sob o Romano Pontífice. As preferências apostólicas nos colocam, assim, na tensão de buscar o bem mais universal como fim das múltiplas atividades apostólicas realizadas pela Companhia […]” (Carta do Pe. Geral Arturo Sosa, 3 de outubro de 2017).
As quatro Preferências Apostólicas Universais, que fazem referência aos Exercícios Espirituais (EE), à caminhada ao lado dos descartados do mundo, ao acompanhamento dos jovens e ao cuidado com a casa comum, são frutos desse, já citado, modo de proceder jesuíta, da herança deixada por Inácio e seus companheiros (conferir o editorial desta edição).
“É vital entender os desejos e a paixão por trás das Preferências Apostólicas Universais. Queremos alcançar as pessoas, queremos compartilhar esperança, queremos inspirar. Queremos contribuir para a cura de tantas feridas de pessoas e da terra. Queremos ser um fator de libertação e reconciliação. Essa é a missão que nós, como jesuítas, compartilhamos com aqueles que estão associados em nossos diferentes apostolados”, compartilhou o Padre Geral da Companhia de Jesus Arturo Sosa.
A primeira preferência, Mostrar o caminho para Deus através dos Exercícios Espirituais e do discernimento, assume a importância da presença dos EE elaborados por Inácio de Loyola e se relaciona com a eleição apostólica da Província do Brasil, que também tem como preferência “a redescoberta e o aprofundamento da experiência transformadora da fé, por meio da partilha da espiritualidade inaciana”. O padre jesuíta Alfredo Sampaio Costa, Secretário para a Colaboração, Fé e Espiritualidade, explicou que “A escolha feita pela Companhia nesta primeira Preferência Apostólica confirma o lugar privilegiado que a experiência dos Exercícios Espirituais ocupa na nossa Missão apostólica. Ela é o fundamento de tudo, o que nos inspira, anima e orienta nas nossas opções e no nosso modo concreto de servir à Igreja. Com sabedoria, a Companhia une experiência dos Exercícios e Discernimento, evidenciando que a finalidade última dos Exercícios é o serviço amoroso às necessidades mais prementes no nosso mundo e da Igreja”.
Pe. Alfredo ressalta a possibilidade de adaptação dos EE a diferentes realidades e capacidades, para que todos possam usufruir e crescer na familiaridade com Deus. Ele afirmou que “É uma preocupação constante do Governo da Companhia garantir um bom nível de vida espiritual nas nossas comunidades religiosas jesuítas e zelar, por meio de uma ‘cura personalis e apostólica’ ”.
É um desafio constante, nas diversas instâncias de decisão nas nossas Obras apostólicas, procurar garantir as condições para que o processo de tomada de decisões seja realmente um “discernimento espiritual”. Sabemos que não é nada fácil, no mundo complexo e diversificado em que vivemos, também no aspecto das crenças religiosas, que todos tenham a liberdade, o desprendimento, a atitude orante, saibam buscar o consenso. O discernimento, seja pessoal, seja comunitário, exige a ousadia de deixar-se conduzir pelo Espírito e grande liberdade interior. A Província é consciente desses desafios e tem buscado caminhar para alcançar maior desprendimento “do próprio amor, querer e interesse” (Cf. EE 169), que marca a condição necessária para todo discernimento espiritual.
As formas destacadas por Pe. Alfredo como exemplos de trabalho concreto foram a participação no Conselho para a Missão, com a busca de incessantes diálogos e escuta das necessidades; a procura por criar parcerias e projetos comuns com outros delegados e secretários; o exercício das conversações espirituais; os cursos de formação CAPS, ECOE e EFOE, que insistem na formação de pessoas para o diálogo, a colaboração, a escuta e o serviço apostólico; e a publicação do livro sobre a Mística Inaciana, Encarnados no mundo com os olhos fixos em Jesus, feita pela editora Loyola, este ano.
A segunda preferência trata sobre Caminhar com os pobres, os descartados do mundo, os vulneráveis em sua dignidade em uma missão de reconciliação e justiça. De acordo com Pe. Agnaldo Pereira de Oliveira Junior, diretor nacional do Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados Brasil (SJMR), essa Preferência reflete uma percepção sobre os ensinamentos divinos. “As pessoas mais vulneráveis sempre estiveram no centro do cuidado e da ternura de Deus. No Antigo Testamento, eram os órfãos, as viúvas e os estrangeiros. No Novo Testamento, Jesus acolheu todas aquelas pessoas que estavam descartadas, jogadas à margem da sociedade, como as mulheres, as crianças, os enfermos, os pecadores, os impuros etc. E, hoje, são muitas as vítimas da “economia da exclusão”, que mata, como nos afirma Papa Francisco (EG 53)”, disse o jesuíta.
Há também uma relação estabelecida com a segunda opção preferencial da Província do Brasil ― A Superação do abismo da desigualdade socioeconômica e suas graves implicações sociais, culturais e ambientais. “Enquanto as preferências universais apontam para a importância de acompanhar as pessoas, as vítimas, os sofredores (com tantos rostos concretos) por meio da reconciliação e da justiça, a opção preferencial da BRA aponta para o combate das causas que promovem vítimas e sofrimento, como a pobreza, a desigualdade, a destruição da casa comum”, explica pe. Agnaldo.
O SJMR, que lida com uma das faces da marginalização social, é um exemplo de trabalho concreto da segunda preferência. Os escritórios do serviço ficam, atualmente, em Belo Horizonte (MG), Boa Vista (RR), Brasília (DF), Manaus (AM) e Porto Alegre (RS) e têm, como foco, cinco áreas de atuação: proteção, inserção laboral, incidência, integração e serviço pastoral.
Pe. Agnaldo também ressaltou a importância de trabalhar em longo prazo, junto ao poder público e a sociedade em geral, “buscamos acolher e acompanhar as pessoas que necessitam proteção internacional, nos empenhamos em responder à emergência humanitária que, por exemplo, hoje, está colocada em nossa fronteira com a Venezuela, mas também estamos atentos para não ficarmos na resposta à emergência, pois se faz necessário uma atuação em busca de políticas públicas que possam garantir direitos mais duradouros”.
A terceira preferência nos pede para Acompanhar os jovens na criação de um futuro promissor. Essa prioridade também se conecta com as Preferências da Província do Brasil, que propõe o trabalho junto às juventudes, ajudando-as na construção de seu projeto de realização pessoal como dom e serviço aos demais, na promoção e defesa da vida. Pe. Jonas Caprini, SJ, trabalha diretamente com a área, na condição de Secretário para Juventude e Vocações. “Quando a nova Província foi criada, em 2014, a Companhia também desejou criar um modo de trabalhar diferenciado, capacitar melhor o trabalho com a juventude. Para uma nova Província, nós temos que dar também uma nova roupagem, um novo impulso. Então, foi pensado, gestado, mapeado, e, depois de um bom período de trabalho, criado e lançado o Programa Magis Brasil, que, na Província dos Jesuítas, é a rede inaciana de juventude, que se dedica e se ocupa com o trabalho com a juventude”, contou Pe. Jonas.
O Programa MAGIS atua em cinco eixos, baseados em experiências de Santo Inácio, que objetivam auxiliar na formação dos jovens como pessoas humanas e, depois, como cristãos. Os eixos são: os Exercícios Espirituais, o voluntariado, a pedagogia da formação, a justiça socioambiental e o trabalho com as vocações e projetos de vida.
As Preferências Apostólicas Universais estão em consonância, também, com os valores da Igreja Católica. “Com o Sínodo para a Juventude, convocado pelo Papa Francisco, um dos apelos foi ouvir o grito dos jovens. Por isso a convocação foi feita não apenas para Jovens católicos, mas também para não católicos, jovens de várias partes do mundo. O Papa disse assim: ‘Discernimento Vocacional não é querer trazer jovem para as nossas congregações, é ajudar o jovem a conhecer-se e a encontrar o seu lugar no mundo’”, afirmou Pe. Jonas, que completou citando Pedro Arrupe, dizendo “Nós não podemos ficar dando respostas velhas a problemas atuais”.
Outra iniciativa destacada por Pe. Jonas foi a pós-graduação em Juventude, organizada pelo MAGIS Brasil em parceria com a Faculdade Jesuíta (FAJE), em Belo Horizonte (MG), e com a rede brasileira de centros e institutos de juventude. “Ela é algo bem contextualizado e aprofundado para compreender a realidade juvenil do mundo contemporâneo. Como compreender, ouvir os jovens nesse embalo, a que, às vezes, o adulto não vai. O pedido do Sínodo da Juventude é para que caminhemos com os jovens, e não para os jovens”.
Colaborar no cuidado da Casa Comum é a quarta preferência, quem nos explica sobre ela é Pe. David Romero, SJ, que confirma a linha da Encíclica Laudato Si’. “A Companhia de Jesus está unida com a Igreja nesta luta urgente para preservar a criação e promover uma ecologia integral. Nesse sentido, a Companhia está em sintonia com a Igreja diante da atual crise ambiental, que está afetando particularmente os pobres e vulneráveis. Essa Preferência incentiva a participação dos cristãos e de todas as pessoas de boa vontade porque ‘estamos todos no mesmo barco’”, disse o jesuíta, que, atualmente, ocupa o cargo de delegado para a Preferência Apostólica Amazônia.
Pe. David ressaltou o cuidado com a Amazônia, também previsto na eleição das preferências da Província, que posicionam a região como área geográfica preferencial para a realização das missões evangelizadoras. Ele completou pontuando que, a preservação da Amazônia exige uma atenção especial, pois é necessária por se tratar de um território precioso para o equilíbrio do ecossistema do planeta, mas que todo o planeta Terra precisa desse cuidado. “A Igreja em saída abraça toda a humanidade no empenho de cuidar da Mãe Terra”, completou.
Sobre a consciência no cuidado com a Casa Comum, Pe. David pontuou avanços nas obras e serviços da Companhia, desde os secretariados e delegados até os coordenadores dos Núcleos Apostólicos. “Muitas iniciativas brotaram em diversos setores do país, incluindo o uso de energia solar, programa de lixo zero, campanha para evitar o uso de descartáveis etc. A Preferência Apostólica Amazônia tem acolhido com alegria muitos visitantes dos colégios, Noviciado, Filosofado e Teologado”. Ele também destacou o papel dos meios de comunicação social na partilha e na conscientização, dando destaque para o informativo PAAM In Foco, que é preparado mensalmente para comunicar as diversas atividades e acontecimentos que os jesuítas realizam no território amazônico.
O discernimento para saber as prioridades que Deus apontava para a Companhia priorizar seus esforços de evangelização, vivenciado e incentivado por Inácio, continua a guiar e a inspirar o trabalho dos jesuítas até os dias de hoje.
Esta matéria foi publicada na 56ª Edição do informativo Em Companhia (Junho e Julho 2019). Quer ler a edição completa? Então, clique aqui!