Um ex-coronel salvadorenho, Inocente Montano Morales, foi condenado na última sexta-feira (11/9), pela Justiça Espanhola a 133 anos e quatro meses de prisão, pena pelo assassinato de cinco jesuítas espanhóis em novembro de 1989. O crime ocorreu durante a guerra civil em El Salvador, conflito que durou 12 anos.
Entre as vítimas, estava o reitor da Universidade Centro-Americana (UCA), Pe. Ignacio Ellacuría, um dos ideólogos da Teologia da Libertação.
Segundo denúncia à época, a morte dos jesuítas ocorreu em um contexto de polarização intensa entre o governo militar de El Salvador e a Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), em que os padres se posicionaram como mediadores entre as duas partes para um processo de diálogo. Porém, em virtude de sua afinidade com a Teologia da Libertação, foram acusados de incitar os camponeses a “uma conspiração comunista internacional a serviço do Kremlin”.
A decisão de assassinar Pe. Ellacuría e os demais jesuítas foi tomada por um grupo de oficiais de elite chamado La Tandona, ao qual Montano Morales pertencia na condição de vice-ministro da Segurança Pública. O ex-coronel foi extraditado pelos Estados Unidos, em 2017, e desde então aguardava o julgamento.
O réu também foi considerado culpado por outros três assassinatos: do jesuíta salvadorenho, Joaquín López, da cozinheira Julia Ramos e de sua filha Celina Ramos, ocorridos na mesma circunstância, mas não pode ser condenado por estes crimes, visto que não foi extraditado pelos Estados Unidos por causa deles, como explicou o tribunal.
Em comunicado enviado à agência de notícias do Vaticano, a Província espanhola dos jesuítas expressou satisfação pela sentença relativa aos “mártires da UCA”, como são conhecidos. Congratulando-se com as organizações de direitos humanos e os familiares das vítimas, que moveram o processo na Espanha. O Superior Provincial, Pe. Antonio España, fez votos de que a sentença “facilite o trabalho da justiça em El Salvador”, promovendo o reconhecimento às vítimas, a reconciliação do país e a paz.
O religioso acrescentou que “a Companhia de Jesus na América Central e a UCA continuarão trabalhando, como fizeram até agora, por um julgamento justo em El Salvador, conforme anunciado na declaração conjunta emitida em 7 de junho”.
Por fim, recordou que os jesuítas expressaram sua disponibilidade em perdoar aqueles que planejaram e cometeram este crime horrendo, “mas é necessário primeiro que se reconheçam os fatos, a verdade seja esclarecida e identificadas as correspondentes responsabilidades”.
A Universidade Centro-Americana também se manifestou por meio de comunicado e fez votos que esta decisão ajude a consciência nacional e a justiça salvadorenha “a dar passos concretos em direção à verdade e à justiça, não só no caso dos jesuítas, mas também em todos os casos pendentes de graves violações dos direitos humanos”.
* Com informações do Vatican News