Realizada na Unicap (Universidade Católica de Pernambuco), no dia 11 de agosto, e organizada pela CUT-PE (Central Única dos Trabalhadores de Pernambuco) em parceria com o Instituto Humanitas Unicap, sindicatos e movimentos sociais, a palestra A retomada da Democracia no projeto de nação reuniu nomes importantes no cenário da esquerda de Pernambuco. Convidado principal, o ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, abordou temas como o cenário político nacional e as perspectivas para 2018.
A palestra teve tom de conversa a partir das provocações feitas pelos membros da mesa. Entre eles, o presidente da CUT-PE Carlos Veras; o professor Manoel Moraes (representando o Instituto Humanitas Unicap); a deputada estadual Teresa Leitão (PT); a vereadora do Recife Marília Arraes (PT); o presidente do Partido dos Trabalhadores de Pernambuco Bruno Ribeiro; o presidente do Sinteepe (Sindicato dos Trabalhadores nos Estabelecimentos de Ensino de Pernambuco), Heleno Araújo; o 2º secretário da Adufepe (Associação dos Docentes da UFPE) Gilberto Gonçalves Rodrigues; e a professora do curso de Direito da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) Liana Cirne.
Haddad começou fazendo críticas ao governo de Michel Temer. “Este governo está implantando uma agenda que não foi discutida com a população. Como um governo que se coloca democrático pode impor ao país uma agenda tão regressiva como essa que vem sendo imposta a todos nós pelo Temer”. Ele também criticou a proposta de parlamentarismo e da mudança no sistema de votação para deputados, o chamado distritão. “Temos que ter a clareza de que o governo da democracia, que é o da maioria, não pode impedir a minoria de participar. Por trás de todo o debate democrático existe um pressuposto, o de que a minoria pode estar certa. A minoria hoje pode ser a maioria amanhã, e assim por diante”.
Na avaliação de Haddad, a atual crise econômica é consequência da crise política. Entre as razões da instabilidade no Brasil, ele considera que os interesses internacionais têm uma influência sobre o atual cenário. Ele acredita que exista uma correlação entre a instabilidade política e riqueza nacional. O ex-prefeito de São Paulo citou a descoberta do Pré-sal, a criação de um banco internacional do Brics, as relações entre América Latina e Oriente Médio, a presença brasileira na África, os avanços na discussão energética como fatores que fizeram o Brasil “incomodar” no cenário internacional.
“A economia internacional é uma guerra. Os estados nacionais brigam para defender suas empresas. O Pré-sal é um ativo muito estratégico. O apetite do mundo pelo Brasil já era grande com a Amazônia, imaginem com o Pré-sal. São coisas que devem ser levadas em consideração, mas sem paranoia”, afirmou Haddad. Ele comentou ainda sobre os avanços na educação na gestão Lula, por meio da interiorização das universidades federais e dos institutos federais, a criação do Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego) e do Prouni (Programa Universidade para Todos). Segundo ele, o número de estudantes matriculados no ensino superior saltou de três milhões para oito milhões: “São conquistas que exigem trabalho, dinheiro e vontade política”.
A partir desse viés, Haddad voltou a criticar o que ele chamou de esvaziamento das discussões e dos fóruns de Educação. “As lideranças do país na área da Educação não têm nem onde se encontrar mais, o governo não chama para discutir. Isso é para esvaziar, para tirar poder, para evitar que as pessoas discutam”. O ex-ministro da Educação afirmou ainda que a sociedade precisa estar atenta e não deixar para discutir o país somente às vésperas da eleição. “Podemos sair piores do que entramos. A eleição não é só o resultado fechado em si. É resultado de um processo”.
Os convidados lançaram provocações sobre a gestão de contas públicas, meio ambiente e a relação com as minorias e o Nordeste. Haddad disse que deixou a Prefeitura de São Paulo com as contas saneadas e que o município recebeu o então inédito grau de investimento. Ele destacou ainda que as ações de mobilidade têm relação direta com a sustentabilidade na medida em que se incentiva o transporte público. O petista ressaltou que em sua gestão a cidade de São Paulo “voltou a ter zona rural” e que os povos indígenas passaram a ter duas reservas demarcadas na área do município.
Instituto Humanitas
Em outro momento da conversa, o professor Manoel Moraes se dirigiu a Haddad citando a luta pelos Direitos Humanos a partir da vivência de Dom Helder Câmara. Ele entregou a carta elaborada pelos jesuítas sobre o atual cenário nacional. Moraes falou também sobre a Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) que pretende retomar terras indígenas e de movimentos quilombolas. “Nós, enquanto Instituto Humanitas, convidamos você a participar dessa campanha, em nome desse legado de Dom Helder e do que foi a luta do nosso irmão Dom Evaristo Arns. A vida deve ser o norte do Estado e não o mercado. Essa tem que ser a nossa luta, por dignidade, por justiça e por paz”, afirmou o professor.
Fonte: Unicap (Recife/PE)