As palavras que surgiram quando soube que Jorge Cela tinha partido para a casa do Pai foram: “grande senhor, grande jesuíta, grande mestre”. E com elas uma imensa gratidão pelo presente que Deus nos concedeu ao nos dar Jorge como companheiro e amigo.
Ele nasceu em 1941, na cidade de Havana (Cuba), e estudou no Colégio Belén até o ano do triunfo da revolução (1959), quando entrou no noviciado. Fez o segundo ano de noviciado e o juniorado em Los Teques (Venezuela) de 1960 a 1963; Estudou filosofia em Alcalá de Henares (Espanha) e deu aulas em Miami (EUA) e Santo Domingo (República Dominicana). Estudou teologia em Toronto (Canadá) e foi ordenado sacerdote em 1970, em Porto Rico. Obteve o título de mestre em Antropologia pela Universidade de Illinois e um diploma em Pastoral do Cuidado pelo Instituto Lumen Vitae, em Bruxelas (Bélgica).
De 1973 a 2003, Pe. Jorge trabalhou nas paróquias dos bairros Guachupita e Guandules, em Santo Domingo. Foi professor da Universidade Autônoma de Santo Domingo, do Seminário Santo Tomás de Aquino e do Instituto Filosófico Pedro Francisco Bonó. Dirigiu a ONG Ciudad Alternativa (1988-1992) e o Centro de Estudos Sociais Pe. Juan Montalvo, SJ, (1993-2003). Foi diretor da revista Estudios Sociales e, posteriormente, coordenador do Setor Social na Assistência ao Norte da América Latina.
Nomeado diretor de Fé e Alegria da República Dominicana em 2003, foi então coordenador Internacional da Federação Internacional até 2010, quando assumiu como Superior Regional em Cuba. Em 2012, foi nomeado presidente da Conferência dos Provinciais Jesuítas na América Latina e Caribe (CPAL), cargo que ocupou até 2017, quando voltou a Cuba para continuar entregando sua vida – até o dia de hoje – ao serviço dos pobres como diretor dos Centros Loyola.
Pe. Jorge era um verdadeiro devoto dos pobres e da educação. Apaixonado por Jesus, seu amigo e mestre, sempre o encontrou numa relação íntima e amorosa com as pessoas ‘da vizinhança’ nas quais encontrou o rosto do crucificado / ressuscitado:
“… Exclusão e pobreza não são percentagens; são rostos, histórias, nomes, pessoas específicas. Devemos aprender que as análises que fazemos (por vezes demasiado pessimistas) não correspondem à realidade do compromisso, da generosidade e da ternura que existe no meio dos pobres; uma realidade que não se expressa em estruturas formais, mas que está presente e que a desperdiçamos porque não a olhamos quando focamos apenas nas estruturas. Redescobrir isso dá esperança! Faz com que se veja essa realidade não só em sua miséria, mas em sua potencialidade ”(entrevista julho / 2016 Teleantillas)
Ao mesmo tempo, um grande rigor analítico aliado à sua preparação e capacidade intelectual o levaram a dar grandes contribuições no mundo da educação popular, especialmente durante o serviço em Fé e Alegria, e, posteriormente, como presidente da CPAL. Ele soube colocar suas intuições por escrito de forma breve, mas com especial lucidez. Jorge foi, mais do que um teórico, um educador em si. A sua forma de proceder foi educativa, o contato com ele educou-nos. Ele fez as pessoas crescerem, ele confiou nelas; ele acreditava na liderança compartilhada, recusava-se a assumir papéis individuais de liderança; Não tinha pressa em esperar que cada um pudesse compreender e, por fim, dar o seu melhor; ele era exigente e disciplinado, mas magnânimo e compreensivo. Ele sabia ouvir de forma cuidadosa e pacientemente os propósitos dos outros e resgatar o melhor deles para construir juntos a partir daí. Teve o mesmo respeito e atenção quando falava com uma pessoa simples e despreparada como quando se sentava com personalidades para discutir políticas públicas e grandes projetos. Ele era um homem que tinha um lugar em sua cabeça e em seu coração – e ao mesmo tempo – as preocupações de pessoas específicas e as necessidades da Companhia, da Igreja e do mundo em que vivia.
Que esta seja uma forma simples de agradecer a Deus – em nome de todos os membros da Companhia de Jesus na CPAL – pela presença e serviço de Jorge Cela no dia da sua última Páscoa. Que ela interceda pela Companhia e pelos pobres do céu.
Roberto Jaramillo, SJ
Presidente da CPAL