O grupo de capoeira Chapéu de Couro, da Unicap (Universidade Católica de Pernambuco), completou 30 anos no dia 1º de março e a cerimônia foi marcada pela emoção, já que o esse foi o primeiro grupo no Brasil vinculado a uma universidade.
O evento, prestigiado pelo Reitor, Padre Pedro Rubens, e pelo coordenador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas da Unicap, Padre Clóvis Cabral, foi um momento para relembrar a história do surgimento da capoeira no Brasil e na Unicap e para agradecer a todos que fizeram parte ou que de alguma forma apoiaram o grupo nesses 30 anos, bem como uma oportunidade para reunir os novos e antigos integrantes.
Mestre Corisco fez questão de lembrar-se do professor Armando da Costa Carvalho, que foi a primeira pessoa a abraçar a capoeira na Católica. “Ele foi o nosso primeiro padrinho”, ressaltou. Corisco também lembrou que a capoeira foi reconhecida como patrimônio da cultura brasileira em 1998.
Também estavam presentes à cerimônia os alunos da turma especial da capoeira, criada há mais de 10 anos e formada por portadores de Síndrome de Down, autistas e pessoas com dificuldade motora que, segundo Corisco, se identificam com a capoeira pelo processo histórico de luta e superação.
Em conversa com o Boletim Unicap, o professor de capoeira e assistente cultural José Olímpio Ferreira (foto), o Mestre Corisco, falou da relação universidade-capoeira e como o grupo se desenvolve dentro do espaço acadêmico.
Boletim Unicap – Como o grupo surgiu na Católica?
Mestre Corisco – No dia 28 de fevereiro de 1983, nosso grupo composto por 14 capoeiristas chegou à Universidade Católica de Pernambuco e começou a utilizar as dependências da Cogest (Coordenação Geral de Estágio) para jogar a capoeira, até então não muito vista no Recife. Fomos autorizados pelo coordenador geral de esportes da Unicap, Fernando Lapa. Nós treinávamos sem qualquer tipo de remuneração, mas com todo apoio da comunidade acadêmica. Seis meses após nossa chegada, o coordenador geral comunitário da época, Armando da Costa Carvalho, começou a formar os grupos culturais da Católica e, a partir daí, o grupo foi criado e contratado e eu passei a ser o professor de capoeira do grupo, além de assumir a função de assistente cultural.
Boletim Unicap – Como o Chapéu de Couro interage com a universidade e fora dela?
Mestre Corisco – A capoeira já está muito embutida na Católica. Quando outros grupos de capoeira vêm ao Recife, de várias regiões do Brasil, eles sempre nos procuram. Somos referência talvez porque nunca saímos daqui. Temos muitos membros do grupo hoje ao redor do mundo, como no Canadá, Suíça e Holanda. Mas o grupo de capoeira da Católica sempre manteve seu endereço dentro da própria universidade.
Boletim Unicap – Qual o grande diferencial do grupo de capoeira Chapéu de Couro?
Mestre Corisco – Acho que o grande lance é a relação da Unicap com a capoeira, que é a relação acadêmica, mas também temos nossa liberdade. A Católica sempre tenta encaixar a capoeira nos moldes acadêmicos, sejam antropológicos, psicológicos, sociais. Mas ao mesmo tempo ela nos dá espaço para promovermos a nossa cultura e não interfere na nossa atividade cultural. Não posso esquecer também do trabalho que fazemos com alunos especiais, que abriu bastante nossa visão do ensino da capoeira e expandiu nossos horizontes.
Fonte: Assessoria Unicap