
A Rede Jesuíta de Justiça Socioambiental (RJSA) celebra a nomeação de Suelem Velasco, analista de projetos do Centro Alternativo de Cultura (CAC), em Belém (PA), como uma das representantes da Província dos Jesuítas do Brasil (BRA) no Grupo de Gênero e Igualdade da Conferência de Provinciais Jesuítas da América Latina e do Caribe (Cpal). Além dela, também foram nomeados Andreia Serrato e Pe. Elio Estanislau Gasda, SJ.
A escolha reconhece não apenas a trajetória pessoal de Suelem, mulher negra, amazônida, vinda de uma periferia e formada em universidade pública, mas também o trabalho desenvolvido pelo CAC no fortalecimento de coletivos de mulheres em territórios amazônicos.
“Me sinto grata pela lembrança, convite e confiança do Pe. Jean Fábio, SJ, em meu trabalho e representação na RJSA”, afirma Suelem agradecendo o secretário para a Justiça Socioambiental da BRA. “Sendo de um centro social do Norte do país, destaco o reconhecimento da Amazônia Paraense nessa escolha, levando junto comigo outros nomes, cores, lutas, desafios e conquistas.”
Justiça socioambiental é justiça de gênero
Para Suelem, essas dimensões são inseparáveis. “Não podemos falar de justiça socioambiental sem discutir as questões de gênero”, defende. “O racismo ambiental é real e afeta a vida das mulheres de forma desproporcional, e não qualquer mulher, mas em especial as mulheres negras, quilombolas, indígenas, periféricas, ribeirinhas.”
Essa compreensão orienta o trabalho cotidiano no CAC, onde Suelem acompanha especialmente o programa voltado às mulheres. “Nosso projeto com as mulheres vai além da economia solidária, perpassa afetos, conhecimentos, expectativas, defesas de seus corpos-territórios”, explica. O Centro atua há cerca de cinco anos fortalecendo a geração de renda de diversos grupos em quatro cidades do Pará, sempre articulando formação política com o reconhecimento das especificidades de cada coletivo.
Corpos-territórios e diversidade de vivências
Suelem ressalta a importância de reconhecer que “mulher é presença, o corpo comunica; não podemos dissociar o território-espaço do território que se é”. Por isso, o CAC leva em conta as realidades diversas dentro de um mesmo estado. “As mulheres dos Coletivos de Barcarena não são as mesmas do Coletivo da ilha de Caratateua, em Belém”, exemplifica Suelem. “Podemos sim encontrar muitos pontos de convergências entre elas, mas também temos muitas questões particulares, de seus locais, de suas vivências nas dinâmicas de vida, de onde os pés pisam, do que as afeta enquanto procura de saúde, educação, bem viver.”

Essa atenção cuidadosa às conexões de raça, classe, território e gênero permite que o CAC contribua para fortalecer as pautas de gênero dentro da RJSA, fazendo-se presente em espaços de discussão, buscando parcerias e articulando projetos conjuntos, como a iniciativa Soma dos Quintais das Mulheres da Amazônia, desenvolvida pelo Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental (Sares) onde Suelem também colabora como assessora.
Representatividade
Sobre sua nomeação para o Grupo de Gênero e Igualdade da Cpal, Suelem enfatiza: “Queria reforçar que sou uma, mas não sou só. Estou representante junto a uma comissão nacional, com outras mulheres e homens que já vêm desenvolvendo esse trabalho há mais tempo e que estamos sempre abertos a novas discussões, questões e sugestões.”
Essa compreensão de caminhar em rede ressoa profundamente com os valores da RJSA. “Ser uma mulher que representa outras mulheres, dentro de uma instituição tão diversa, com várias obras e frentes é de grande responsabilidade”, reconhece.
Sonhos e horizontes: mulheres que decidem
Ao olhar para o futuro, Suelem projeta novos horizontes. Em participação recente em uma live sobre a pós-COP30, promovida pelo Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (Olma), ela ressaltou “a importância de fortalecimento das habilidades e lideranças femininas, a garantia da participação de mulheres em papéis de governança, visto que somos sempre as mais afetadas quando se trata de crises ambientais e sociais, mas não somos nós a maioria nos espaços de decisões.”

“Ser ouvidas não somente para falar sobre e assegurar uma diversidade, mas que sejamos também quem decide, representa e faz a diferença nos diversos espaços e ambientes.” Este é o horizonte que Suelem carrega em sua representação, conectando o chão da Amazônia paraense às articulações latino-americanas, as histórias das mulheres dos coletivos aos espaços de governança da Companhia de Jesus.
A nomeação de Suelem Velasco fortalece a presença da RJSA nas articulações internacionais da Companhia e reafirma o compromisso da Província dos Jesuítas do Brasil com uma justiça socioambiental que reconheça, valorize e fortaleça as lideranças femininas em toda sua diversidade.
Sobre o CAC
O Centro Alternativo de Cultura (CAC), em Belém (PA), integra a Rede Jesuíta de Justiça Socioambiental e desenvolve trabalhos de educação popular com crianças e adolescentes, fortalecimento de coletivos de mulheres e defesa de territórios amazônicos.
Sobre a RJSA
A Rede Jesuíta de Justiça Socioambiental reúne saberes, práticas e presenças que, em diferentes territórios, se dedicam a cuidar da vida em sua totalidade. Articula centros de formação e pesquisa, obras sociais, frentes apostólicas e serviços que atuam no Brasil enfrentando desigualdades e promovendo dignidade, sempre com atenção às pessoas em maior vulnerabilidade e ao cuidado com a Casa Comum por meio da Ecologia Integral. Inspirada pela espiritualidade inaciana, a RJSA caminha de forma integrada, somando forças para a justiça socioambiental e cultivando relações que restauram, protegem e transformam.




