A Companhia de Jesus soma forças à proposta feita à Organização Mundial de Saúde (OMS) por parte da Índia e da África do Sul para acabar com a pandemia. Em carta divulgada nesta segunda-feira (10), o Secretariado de Justiça Social e Ecologia (SJES, na sigla internacional) dos jesuítas afirmou a adesão e o apoio à quebra temporária de patentes das vacinas e ao perdão da dívida dos países pobres para que possam combater, com eficiência, a covid-19.
A carta, que exige justiça na distribuição universal e igualitária de vacinas para a covid-19, é assinada pelo secretário da SJES, Xavier Jeyaraj, SJ, e por todos os presidentes das conferências de províncias no mundo. O objetivo da proposta feita à OMS é “garantir que todos os países, independentemente de sua riqueza, tenham acesso a tecnologias médicas que salvem vidas”.
Os jesuítas se referendam na encíclica Fratelli tutti, do Papa Francisco, na Comissão covid-19 do Vaticano e na declaração de líderes religiosos de 27 de abril para a sua tomada de posição. Eles ainda apontaram para o risco global de alguns países ricos monopolizarem a imunização, como o Reino Unido e os Estados Unidos, que adquiriram até três vacinas por pessoa: “O acúmulo excessivo de vacinas pelos países ricos ameaça ainda mais a vida das pessoas em todo o mundo, contribuindo para o dobro de mortes do que se as vacinas fossem distribuídas de acordo com um modelo equitativo e populacional”, afirma o documento.
A carta da Companhia também cita seu Superior Geral, Pe. Arturo Sosa, que apela ao reconhecimento de sermos uma só humanidade, e um só corpo: “Podemos superar a crise quando nos conscientizamos da importância de garantir o bem comum e levar a sério nossa própria responsabilidade individual”, disse o jesuíta.
Leia a íntegra da carta:
A Companhia de Jesus pede justiça na distribuição universal e igualitária de vacinas para a Covid-19
À medida que as campanhas de vacinação contra a Covid-19 se aceleram nos países mais ricos do mundo, a Companhia de Jesus une-se aos apelos por esforços concretos para garantir uma estrutura justa e equitativa na distribuição das vacinas. Atualmente, 87% das vacinas administradas foram para países de alta ou média renda, enquanto os países de baixa renda receberam apenas 0,2% das vacinas disponíveis. No momento, mais de 3,2 milhões de pessoas morreram por causa da Covid-19 no mundo.
Na encíclica Fratelli tutti, o papa Francisco nos convida a perceber que estamos todos no mesmo barco, mas destaca as desigualdades existentes exacerbadas pela pandemia da Covid-19. Francisco destaca como as nações do mundo não têm cooperado para garantir uma distribuição justa de recursos, especialmente entre nossos irmãos e irmãs mais desfavorecidos. Também nos exorta a garantirmos que todas as pessoas tenham igual acesso à assistência.
O padre Arturo Sosa, superior-geral da Companhia de Jesus, afirma: “A Covid-19 está nos mostrando que somos uma só humanidade e a forma como podemos superar a crise é nos conscientizarmos da importância de garantir o bem comum e levar a sério nossa própria responsabilidade individual. Somente podemos viver como um corpo só”.
A Comissão Covid-19 do Vaticano, bem como a Declaração de líderes religiosos, de 27 de abril, desencorajou fortemente o nacionalismo das vacinas, rejeitando a exploração comercial inerente às disputas sobre direitos de patente e apelando a uma solidariedade humana mais profunda na luta contra o vírus.
Nós, como instituições da Companhia de Jesus, comprometidos com a defesa da dignidade de todas as pessoas, especialmente das comunidades marginalizadas e vulneráveis ao redor do mundo, acrescentamos nossa voz à de muitas pessoas e grupos da Igreja e da sociedade civil que defendem a equidade e a justiça na produção e distribuição de vacinas.
O acúmulo excessivo de vacinas pelos países ricos ameaça ainda mais a vida das pessoas em todo o mundo, contribuindo para o dobrar o número de mortes em comparação à realidade que teríamos, caso as vacinas fossem distribuídas de acordo com um modelo equitativo e populacional. Países como o Reino Unido e os Estados Unidos adquiriram até três vacinas por pessoa.
Para promover um maior acesso às vacinas, a África do Sul e a Índia pediram à Organização Mundial do Comércio (OMC) que renunciassem temporariamente a certos direitos de patente sobre todos os produtos médicos relacionados à Covid-19 para garantir que todos os países, independentemente de sua riqueza, tenham acesso a tecnologias médicas que salvem vidas. A proposta atraiu o apoio significativo de países de baixa e média renda e é um passo crucial para a remoção de barreiras relacionadas à propriedade intelectual, permitindo a rápida expansão da produção de vacinas, principalmente em países que já possuem grandes empresas farmacêuticas. De acordo com as Preferências apostólicas universais, que nos chamam a caminhar com os excluídos em uma missão de justiça e reconciliação, a Companhia de Jesus apoia plenamente esta proposta.
Saudamos a decisão do presidente Biden de apoiar a derrogação das patentes. Saudamos também os comentários da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, quando aponta que a União Europeia está pronta para discutir a derrogação. Mas a gravidade da situação em países como a Índia nos lembra que devemos agir com urgência. Qualquer atraso se traduzirá em mais sofrimento e mortes para as pessoas, especialmente os mais pobres e marginalizados.
A Companhia de Jesus apoia as seguintes ações:
Instar os países que ainda bloqueiam a isenção temporária dos direitos de patente a apoiá-la, a expandir e acelerar a produção e distribuição de tecnologias, medicamentos e vacinas que salvam vidas;
Incentivar todos os países a priorizar os mais vulneráveis entre seus cidadãos na distribuição de vacinas;
Exortar os países ricos a preencher as lacunas de financiamento da iniciativa Covax e compartilhar vacinas excedentes de seus próprios estoques;
Instar as instituições financeiras internacionais e credores privados a cancelar as dívidas de países de baixa e média renda para que possam responder e se recuperar da pandemia.
A Companhia de Jesus tem o compromisso de participar de atividades de defesa social e política em nível local, nacional e internacional com organizações relacionadas para garantir que todas as pessoas, independentemente do local de residência, tenham acesso à vacina da Covid-19. Ninguém estará seguro contra o vírus até que todos estejam seguros, por isso ressaltamos a necessidade de maior justiça e solidariedade no enfrentamento deste problema global.
10 de maio de 2021
Xavier Jeyaraj, SJ
Secretário Roma, Secretaria de Justiça Social e Ecologia
Subscrevem:
Roberto Jaramillo, SJ
Presidente de la Conferencia de Provinciales Jesuitas de América Latina (CPAL)
Agbonkhianmegue E. Orobator, SJ
Presidente de la Conferencia de Provinciales Jesuitas de África Madagascar (JCAM)
Antonio F. Moreno, SJ
Presidente de la Conferencia de Provinciales Jesuitas de Asia Pacífico (JCAP)
Timothy P. Kesicki, SJ
Presidente de la Conferencia de Provinciales Jesuitas de Canadá y Estados Unidos de América (JCCU)
Franck Janin, SJ
Presidente de la Conferencia de Provinciales Jesuitas de Europa (JCEP)
Jerome Stanislaus D’ Souza, SJ
Presidente de la Conferencia de Provinciales Jesuitas del Sur de Asia (JCSA)
Acesse aqui o documento original.
Fonte: Dom Total