Paula Fuenzalida Olave (foto) é chilena e vive no Brasil há pouco mais de um ano. A ligação de Paula Fuenzalida Olave com o Brasil e a saudade que sente do Chile está profundamente ligada ao paladar. É por meio da comida que ela se identifica com brasileiros e chilenos. Doces têm sabor de Brasil e mariscos trazem a nostalgia de estar longe de casa.
Paula é professora de espanhol e dá aulas no Unilinguas, da Unisinos. Para ensinar o idioma procura estudar a cultura de todos os países de língua hispânica e conviver com pessoas que moram nesses lugares, assim consegue absorver um pouco das tradições de cada país e entender seus processos culturais. Em sua casa, o artesanato mostra a relação de intimidade com a cultura latino-americana.
Em entrevista para o JU Online, a professora conta que adora estar junto com seus alunos e diz que eles são sua família em Porto Alegre. “Aprendi muito da cultura brasileira através deles e eles aprenderam muito da minha cultura comigo. Essa relação é muito importante porque não basta aprender um idioma, tem que se encantar com a língua para que haja aprendizagem.”
JU – Como era sua vida antes de vir para o Brasil?
Paula – Sou pedagoga, formada em ciências da educação e também tenho uma pós-graduação em ciências, física, química e biologia pela universidade católica. Eu morava em uma cidade com poucos habitantes e sempre trabalhei no mesmo município. Fui professora e coordenadora pedagógica. Tinha uma vida tranquila e de muito trabalho sempre, muito diferente da vida em Porto Alegre.
JU – Por que você decidiu sair do Chile para morar no Brasil?
Paula – Por causa do meu marido (risos)… Eu conheci o Luciano no terremoto do Chile. Ele foi fazer a cobertura, pela rádio em que trabalha, do Terremoto do Chile, de 27 de fevereiro de 2010. Então, de uma tragédia, nasceu um amor. Meu marido chegou com outro repórter na casa em que estava abrigada do terremoto e foi assim que nos conhecemos. Depois passamos a nos falar por skype. Em maio, durante as férias ele voltou ao Chile, em julho eu vim para o Brasil, depois ele voltou para o Chile para cobrir a história dos mineiros soterrados. Em 26 de outubro de 2011 nos casamos e em dezembro vim morar no Brasil, definitivamente.
JU – Quando você resolveu dar aulas de espanhol?
Paula – Quando chegamos a um novo país temos que começar de novo do zero. Eu já tinha mais de dez anos de experiência como professora, e como professora eu não posso viver sem dar aulas. Aí pensei, como poderia sobreviver em outro país, em que eu não falo a mesma língua, com a minha profissão. Não poderia dar aulas de matemática, ciências, física, química ou biologia. Então pensei, o que posso ensinar? O espanhol, porque é minha língua. Eu queria me desenvolver, profissionalmente, na minha área, que já tinha experiência e currículo. Além de nativa na língua, tenho toda a parte pedagógica também.
JU – O que você mais gosta no Brasil e o do que mais sente falta do seu país?
Paula – O que mais gosto no Brasil são os doces. Doce de leite, nega-maluca… Essa nega-maluca me deixa louca (risos)… Negrinho, branquinho, doces, doces… E o que eu sinto saudades é de comer marisco, porque aqui se come muita carne.
JU – Qual a maior dificuldade que você sentiu na adaptação em um país com outro idioma?
Paula – A maior dificuldade para quem é imigrante é o sotaque. Muitas vezes, quando vou comprar uma coisa simples como um refrigerante demora até que eu consiga ser entendida pelos vendedores.
JU – Você costuma visitar o seu país? Pretende retornar, ou ficar morando no Brasil?
Paula – Viajo frequentemente para o Chile, a última fez foi no Natal e retornei no início de janeiro, mas senti saudade de Porto Alegre. Meus alunos riram que eu sempre dizia que o Chile era melhor, e quando estava lá senti saudades de Porto Alegre, da vida corrida, de tantas coisas… No momento não está nos planos voltar a morar no Chile, talvez quando estiver aposentada pode ser que volte. Gosto muito do Brasil, apesar da violência. O povo chileno é mais fechado, mais organizado, mais estruturado, mais seguro, mas os brasileiros são mais acolhedores, carismáticos, estão sempre contentes, felizes.
JU – Quais aspectos culturais são primordiais quando se aprende uma nova língua?
Paula – Não basta saber uma língua, é preciso conhecer a cultura do país para onde se vai viajar. Coisas simples que são fundamentais para alguns países, em outros, não tem importância. Por isso é importante que um idioma seja ensinado por um nativo da língua, mas não um nativo qualquer, um nativo que tenha conhecimentos pedagógicos.
Texto: Michelli Machado
Imagens: Rodrigo W. Blum