Leonardo Sakamoto fala de ódio nas redes sociais em palestra na Unisinos

Leonardo Sakamoto, jornalista, doutor em Ciência Política e professor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), participou do evento Comunicação e debate na Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos). A palestra, homônima ao seu livro O que aprendi sendo xingado na internet foi realizada no dia 14 de setembro e reuniu 700 pessoas.

Sakamoto iniciou o encontro comentando sobre o ocorrido no Queermuseu, no Santander Cultural de Porto Alegre (RS). Para ele, o encerramento da mostra não foi uma questão de arte, mas de poder. “E principalmente uma questão de poder de quem não queria ver a exposição sendo mostrada, pois aquilo diz respeito à capacidade de você controlar um grupo de pessoas, e controlar o medo desse grupo”, comentou.

Em seguida, ele falou sobre os discursos de ódio que a internet reproduz. Segundo o jornalista, isso acontece porque a rede social é um lugar “aconchegante”, assim como a ignorância. “A saída para isso não é o silêncio, mas o debate. É preciso debater em casa, nas escolas, nos bares, em todos os lugares”, completou. De acordo com suas experiências, ele descobriu com os xingamentos que a parte invisível da rede é um relevante formador de opinião no Brasil. Normalmente, as informações falsas são compartilhadas porque as pessoas querem acreditar naquilo. “As pessoas, ao concordarem com uma notícia, tendem a acreditar nela, sem nem ao menos pesquisar antes.”

Sakamoto comentou também sobre boatos que circulam na internet. Afirmou que o rumor vai mais longe que o desmentido. Para isso, usou como exemplo um caso próprio no qual um jornal de Minas Gerais publicou uma matéria que o atribuía a afirmação de que os “aposentados são inúteis”. A frase não havia sido proferida por ele e também não havia ocorrido a entrevista, mas foi suficiente para que recebesse inúmeros xingamentos, que não ficaram apenas na internet. Para ele, nesses casos, a responsabilidade é do acusado, e não do acusador. O ônus da prova é sempre do acusado.  “A resposta não importa, o que importa é que foi contra o Sakamoto”, explicou.

Ele ainda citou que um dos problemas das redes sociais são os algoritmos, que tendem a transformar tudo em um “local quentinho”, mostrando apenas postagens com conteúdo do qual a pessoa concorda. “Os algoritmos criaram uma bolha, as opiniões de um grupo validam determinado pensamento, mesmo que ele esteja equivocado”, alertou.

O cientista político constatou que as pessoas têm a tendência a se calarem diante do preconceito como, por exemplo, em uma postagem no Facebook. Para ele, se as pessoas, ao invés do silêncio, optassem por discordar do post preconceituoso, muitos desses usuários se sentiriam menos à vontade para seguir compartilhando esse tipo de pensamento.

Se o debate público fosse mais qualificado, as pessoas se sentiriam mais motivadas a se informar melhor. Muitos usuários de redes sociais compartilham informações apenas para ganhar curtidas, sem se importar se o conteúdo compartilhado é verdade ou não. Para mudar isso, “a escola tem papel central para o futuro dos debates nas redes sociais”, comentou.

Sakamoto se mostrou preocupado com a população brasileira que não foi educada para diferenças, mas sim, para uma pasteurização. Dessa forma, segundo ele, o que é diferente, costuma ser rejeitado. Ele afirmou que “no Brasil, não fomos educados para o debate público. Nós não sabemos debater, não sabemos chegar a um consenso”. Continuou dizendo que se chegou a um ponto de falar que os direitos humanos querem calar o direito à liberdade de expressão. Mas ele tem fé na potência das gerações atuais.  “Eu acho que é possível mudar e fazer a revolução que a gente precisa”, completou.

Fonte: Unisinos (Porto Alegre/RS)

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