Por: Mariana Guimarães, assessora de comunicação do Centro MAGIS Amazônia
Ribeirinhos, quilombolas, indígenas, camponeses, caboclos, comunidades assentadas e pessoas da cidade. Falar de juventude amazônida sem considerar, minimamente, os complexos contextos que bordam a nossa realidade é correr o risco de repetir um discurso raso e que se pretende único. É como resumir a Amazônia em uma imagem aérea, remota e estática, pela qual se deslumbram as robustas florestas e sinuosos rios, deixando passar despercebidas as nossas cores, sabores, lendas e crenças.
Para adentrar em nossa região, é preciso, antes de tudo, estar disposta e disposto a abandonar velhos conceitos. Estar aberto ao sensível imaginário amazônida. E isso se aplica não somente às pessoas que estão de fora, mas também, e principalmente, a nós, os povos da Amazônia. E, aqui, as e os jovens têm papel fundamental.
Quando o Programa MAGIS Brasil, como Rede Inaciana de Juventude, se propõe a fazer a campanha anual com o tema Ser Mais Amazônia, há o desejo de corroborar o convite do Sínodo Especial da Amazônia. Papa Francisco e todas as pessoas que construíram esse processo nos chamam a ter um olhar mais atento às realidades da região que, tanto no aspecto ambiental quanto no social, vêm sofrendo diversas ameaças. Mas, além disso, há uma forte crença na inquietude e no potencial de liderança transformadora da juventude.
Existe certa dificuldade para que jovens de outras regiões do país entendam como suas vidas estão interligadas a esse território e suas tradições, seja pela distância geográfica, seja pela falta de interesse, ou oportunidade, em conhecer a Amazônia que foge da imagem estereotipada e exótica. Por isso, para aquelas e aqueles que se sentem animadas e animados a mergulhar em nossa região, o convite é, sobretudo, para que se deixem afetar pelas diversas relações que são tecidas com o tempo, a natureza, os animais, os territórios e as pessoas por aqui. Mais do que procurar soluções inovadoras, é preciso ser aliada e aliado aos que protegem e amam a nossa Casa Comum, cuidando, assim, do bem-estar de todas e todos, já que não é possível explicar os problemas do mundo de forma isolada.
E as juventudes amazônidas? Imagino que, assim como em diversas regiões do Brasil e do mundo, é impossível traçar um perfil único que compreenda essa complexa teia de contextos. É possível morar na periferia de uma das maiores cidades da Amazônia sem esbarrar em uma árvore, ou mesmo viver no centro comercial e não ver um traço de rio. E, ao mesmo tempo que existem jovens que sonham ir para uma cidade grande, seja no Sudeste do Brasil, seja até mesmo fora do País, para ter uma vida o mais cosmopolita possível, há muitos que sofrem por terem de deixar o seu lugar – sua comunidade ribeirinha, seu quilombo, sua aldeia – em busca de ‘melhores oportunidades’.
Tudo isso para dizer que nascer na Amazônia e se sentir pertencente a ela não é dado, inerente. Ser jovem aqui é lidar com a bruta presença da modernidade em nosso território e, constantemente, estar em contato com as nossas raízes. O nosso desafio é, então, despertar para a cultura do cuidado, estabelecendo relações mais justas e harmoniosas. É entender que somente existirá futuro se pudermos narrar o passado e o presente por meio, também, de nossos olhares e vivências. Como partilha Ailton Krenak, uma expressiva liderança indígena, se pudermos contar mais uma história, estaremos adiando o fim do mundo. Tu vens com a gente?