“O nome de Deus é misericórdia” é o título do livro-entrevista do Papa Francisco ao vaticanista Andrea Tornielli, do jornal italiano La Stampa. Editada pela Piemme e lançada nesta terça-feira, 12 de janeiro, em 86 países, a obra tem nove capítulos e 40 perguntas, além de capa autografada pelo Pontífice. A primeira cópia do volume, em italiano, foi entregue ontem (dia 11) a Francisco, na Casa Santa Marta.
Na entrevista para o livro, concedida em julho de 2015, Bergoglio confidencia a Andrea Tornelli: “O Papa é um homem que tem necessidade da misericórdia de Deus”.
Durante o encontro com o jornalista, o Pontífice reitera ainda a sua “relação especial” com os prisioneiros. “Cada vez que passo pela porta de uma prisão para uma celebração ou para uma visita, sempre me vem este pensamento: porque eles e não eu?”, comenta Francisco, completando: “a queda deles poderia ter sido a minha, não me sinto melhor de quem tenho diante de mim”.
Como Pedro, também seus Sucessores são pecadores
“Isto pode escandalizar”, admite o Papa, “mas encontro consolo em Pedro: renegou Jesus e não obstante isto foi escolhido”. Francisco recorda que ficou muito tocado ao ler alguns textos de Paulo VI e João Paulo I. “Albino Luciani definia a si mesmo como ‘o pó’ – no sentido das próprias limitações, das próprias incapacidades que são supridas pela misericórdia de Deus. São Pedro traiu Jesus. E se os Evangelhos nos descrevem o seu pecado, a sua negação e se não obstante tudo isto Jesus lhe disse: ‘Apascenta as minhas ovelhas’, não acredito que se deva maravilhar se também os seus Sucessores descrevem a si mesmos como pecadores”, explica Bergoglio.
Em outra passagem do volume, o Pontífice afirma que pode “ler” a sua vida através do capítulo 16 de Livro do Profeta Ezequiel, no qual o Profeta “fala da vergonha”.
A vergonha é graça que nos faz sentir a misericórdia de Deus
A vergonha, sublinha o Papa, é uma graça. “Quando alguém experimenta a misericórdia de Deus, sente uma grande vergonha de si mesmo, do próprio pecado”. E ressalta: “a vergonha é uma das graças que Santo Inácio pede na confissão dos pecados diante do Cristo crucificado”. Como revela o Papa, o texto de Ezequiel “ensina a envergonhar-se, mas, com toda a tua história de miséria e de pecado, Deus permanece fiel e te levanta”.
Francisco recorda o padre Carlos Duarte Ibarra, o confessor que encontrou na sua paróquia em 21 de setembro de 1953, dia em que a Igreja celebra São Mateus: “Me senti acolhido pela misericórdia de Deus confessando-me com ele”. Uma experiência tão forte que, anos mais tarde, a vocação de São Mateus descrita nas homilias de São Beda, o Venerável, acabaria tornando-se seu lema episcopal: miserando atque elegendo (latim), que significa “olhou-o com misericórdia e escolheu-o”.
Igreja existe para permitir o encontro com a misericórdia de Deus
No livro, Francisco aprofunda a missão da Igreja no mundo. Antes de tudo, evidencia que a “Igreja condena o pecado porque deve dizer a verdade”. Ao mesmo tempo, porém, “abraça o pecador que se reconhece como tal, aproxima-se dele, fala a ele da misericórdia infinita de Deus”. O Papa salienta ainda que “Jesus perdoou até mesmo aqueles que o crucificaram e o desprezaram”. E adverte que “a Igreja não está no mundo para condenar, mas para permitir o encontro com aquele amor visceral que é a misericórdia de Deus”.
Pecadores sim, mas não aceitar o estado de corrupção
Ao longo do livro, o Papa Francisco faz novamente distinção entre pecado e corrupção. Ele observa que essa última “é o pecado que ao invés de ser reconhecido como tal e de tornar-nos humildes, é elevado à sistema, torna-se um hábito mental, um modo de vida”. “O pecador arrependido, que depois cai e recai no pecado devido à sua fraqueza, encontra novamente perdão caso reconheça-se necessitado de misericórdia. O corrupto, pelo contrário, é aquele que peca e não se arrepende, aquele que peca e finge ser cristão, e com a sua vida dupla, provoca escândalo”, diz o Pontífice.
Fontes: Rádio Vaticana e site Canção Nova