O jesuíta Francisco Xavier, em uma de suas cartas enquanto missionário atuante no Extremo Oriente, no século XVI, manifestava uma grande ansiedade com relação às universidades europeias devido a sua acomodação e pouca eficácia frente aos desafios urgentes da humanidade. No seu ardor missionário cristão, ele escrevia que tinha vontade de retornar à Europa e, “se fazendo de louco”, andar pelos corredores dessas universidades para, aos gritos, denunciar a sua insensibilidade e indiferença e o carreirismo egoísta, com a mera busca de títulos, dos seus estudantes.
Quatro séculos depois, Ignacio Ellacuria, também jesuíta, reitor da Universidade Centroamericana José Simeón Cañas – UCA, de San Salvador, falando da função da universidade, assim se expressou: “O sentido último da universidade e o que ela é dentro de sua realidade total deve ser medido a partir do critério de sua incidência na realidade histórica, na qual ela se dá e à qual ela serve.” (Ellacuria, 1999, p.50). O foco da universidade, para ele, é a própria realidade na qual ela está inserida e sobre a qual ela deve incidir em vista da transformação. Segundo este jesuíta, considerando a realidade concreta de seu país, “o objetivo onde se concretiza o horizonte e a finalidade da atividade universitária é a transformação estrutural da sociedade.” (Ellacuria, 1999, p.64).
Outros exemplos poderiam ser arrolados… Não foi novidade, que, em inícios de 2008, a Congregação Geral XXXV da ordem dos jesuítas conclamasse a todas as suas instituições de ensino superior e órgãos de pesquisa para que os seus estudos e investigações científicas produzissem “efetivos resultados práticos em benefício da sociedade e do meio ambiente”. A sinalização dada no mesmo texto foi na direção do enriquecimento mútuo entre aqueles que estão na pesquisa acadêmica e aqueles que estão na militância prática. (CG.XXXV, d.3, n.35).
Hoje, existem muitos sinais e iniciativas que demonstram o avanço na consciência das universidades, sobretudo, no contexto latino-americano, no sentido de que elas só preencherão a sua função acadêmica, de forma genuína, na medida em que se empenharem na busca de soluções e alternativas de superação para os graves problemas de desigualdades e degradações que colocam em risco o equilíbrio e a sustentabilidade social e ambiental. Reconhecendo-se em um ambiente que dá, claramente, a sua contribuição científica e técnica na busca de respostas aos problemas enfrentados, os estudantes se sentirão também mais instigados para um preparo profissional excelente e engajado. Nas palavras do jesuíta Luiz Ugalde, ex-reitor da Universidade Católica Andrés Bello — UCAB, Caracas, os profissionais preparados por nossas universidades devem dar conta dos quatro “C”, isto é: devem ser Conscientes, Competentes, Compassivos e Comprometidos.
Tendo presente esse horizonte de desafio, a Unisinos vem, historicamente, buscando as melhores formas para dar a sua contribuição. Nessa sua busca permanente, fez-se recentemente (2007) uma opção focando a ação social da universidade em três ênfases prioritárias. Partiu-se do horizonte amplo das nossas relações com o meio ambiente, focando ao mesmo tempo as relações de trabalho, para, na perspectiva de um envolvimento humano radical, centrar a atenção no horizonte cotidiano das relações entre os seres humanos. É a busca da sustentabilidade social e ambiental, que passa pelo cuidado com a vida em todas as suas circunstâncias, a atenção às condições de trabalho e combate à pobreza e, no centro de tudo, estando o convívio humano, focado na superação dos preconceitos e discriminações étnico-raciais. Entende-se que as três sensibilidades, assim salientadas, têm as melhores condições de mobilizar os processos de produção de conhecimento e de formação profissional numa direção que mexe com aspectos que são vitais para a sustentabilidade do planeta terra.
É neste horizonte que se movem e orientam as atividades principais dos projetos sociais que representam uma das dimensões da Extensão Universitária ou da Responsabilidade Social Universitária. Temos a convicção de que o aluno que se envolve em um projeto social, é contemplado por uma formação ampla e transdisciplinar. Nesse processo, a universidade desempenha a sua missão, fazendo-se próxima do dia a dia da comunidade. O diferencial está nesse cotidiano, onde professores, alunos, técnicos e funcionários exercem a relação pessoal do contato da universidade com a comunidade, podendo contribuir, com mais facilidade, para a construção de conhecimento concreto e transformador. É, sem dúvida, espaço com grande potencial acelerador de uma formação integral e comprometida com a sustentabilidade social e ambiental.
Pe. José Ivo Follmann, vice reitor da Unisinos