O jesuíta José de Anchieta, o Apóstolo do Brasil, foi proclamado santo na manhã desta quinta-feira (3), no Vaticano. Em audiência com o cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação das Causas dos Santos, o papa Francisco assinou o decreto que oficializa a canonização de Anchieta. O documento reconhece a figura e a grandeza do missionário que chegou ao Brasil em 1553.
São José de Anchieta é o primeiro santo de 2014 e o segundo jesuíta a ser canonizado pelo papa Francisco. Antes dele, em dezembro do ano passado foi a vez de Pedro Fabro. O primeiro pedido de canonização foi feito há exatos 417 anos. Já o último ocorreu em outubro passado, por iniciativa da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Em dezembro, o Presidente da CNBB, o cardeal Raymundo Damasceno Assis recebeu um telefonema pessoal do Santo Padre, respondendo positivamente ao pedido.
Em 1982, em comemoração da beatificação de José de Anchieta, o pintor de origem friulana José Ciotti (1898-1991) fez para o Colégio Pio Brasileiro, em Roma, um retrato de Anchieta. O artista retomou vários motivos iconográficos clássicos: o apóstolo, o milagreiro, o devoto de Nossa Senhora, o poeta. Na parte inferior da pintura, é possível ver também a antiga residência, hoje santuário, onde o bem-aventurado Anchieta faleceu.
“A santidade do grande homem de Deus foi reconhecida”, declarou logo após a assinatura do decreto o Vice-Postulador da Causa, padre Cesar Augusto dos Santos, que também é responsável pelo Programa Brasileiro da Rádio Vaticano.
No entanto, a canonização de José de Anchieta se insere num contexto mais amplo, de reconhecimento da santidade de outros dois evangelizadores da América: a irmã Maria da Encarnação (1599-1672), fundadora do mosteiro das Ursulinas na cidade de Québec e o bispo de Québec, dom Francisco de Laval (1623-1708), ambos de origem francesa, que viveram no Canadá.
Não se trata de um caso, pois os três novos santos foram beatificados juntos pelo papa João Paulo II, em 22 de junho de 1980. Naquela mesma cerimônia, também foram beatificados Pedro de Betancur e a jovem indígena Catarina Tekakwitha – ambos já canonizados. Portanto, faltava o reconhecimento dos outros três – o que aconteceu na manhã desta quinta-feira.
Anchieta e os Papas
A importância de Anchieta e seu papel fundamental para a evangelização do Brasil já eram conhecidos pelos pontífices. Na sua cerimônia de beatificação, João Paulo II se referiu a Anchieta como “um incansável e genial missionário”:
“Seu zelo ardente o move a realizar inúmeras viagens, cobrindo distâncias imensas no meio de grandes perigos. Mas a oração contínua, a mortificação constante, a caridade fervente, a bondade paternal, a união íntima com Deus, a devoção filial à Virgem Santíssima — que ele celebra em um longo poema de elegantes versos latinos —, dão a este grande filho de Santo Inácio uma força sobre-humana, especialmente quando deve defender contras as injustiças dos colonizadores os seus irmãos indígenas. Para eles compõe um catecismo, adaptado à sua mentalidade e que contribuiu grandemente para a sua cristianização. Por tudo isto ele bem mereceu o título de Apóstolo do Brasil.”
Por sua vez, o papa Bento XVI, na mensagem para a 28ª Jornada Mundial da Juventude, apresentou o sacerdote jesuíta como um modelo para os jovens: “Penso, por exemplo, no beato José de Anchieta, jovem jesuíta espanhol do século XVI, que partiu em missão para o Brasil quando tinha menos de vinte anos e se tornou um grande apóstolo do Novo Mundo”.
Anteriormente, em discurso aos Bispos dos Regionais Norte 1 e Noroeste, em visita ad Limina Apostolorum, em outubro de 2010, Bento XVI disse: “Ao pensar nos desafios que esta proposta de renovação missionária supõe para vós, Prelados brasileiros, vem-me à mente a figura do beato José de Anchieta. Com efeito a sua incansável e generosíssima atividade apostólica, não isenta de graves perigos, que fez com que a Palavra de Deus se propagasse tanto entre os índios quanto entre os portugueses – razão pela qual desde o momento de sua morte recebeu o epíteto de Apóstolo do Brasil – pode servir de modelo para ajudar as vossas Igrejas particulares a encontrar os caminhos para empreender a formação dos discípulos missionários no espírito da Conferência de Aparecida.”
Já Francisco escolheu a praia de Copacabana, na missa pela 28ª JMJ no Rio de Janeiro, para falar do sacerdote jesuíta, com estas palavras: “A Igreja precisa de vocês, do entusiasmo, da criatividade e da alegria que lhes caracterizam! Um grande Apóstolo do Brasil, o Bem-aventurado José de Anchieta, partiu em missão quando tinha apenas dezenove anos! Sabem qual é o melhor instrumento para evangelizar os jovens? Outro jovem! Este é o caminho a ser percorrido por vocês!”.
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