O Papa Francisco enviou uma mensagem a todos os participantes do II Congresso Internacional Laudato Si e Grandes Cidades, que aconteceu entre os dias 13 e 15 de julho, no Rio de Janeiro (RJ). No texto, o Pontífice recordou a carta encíclica Laudato Si’ na qual faz referência a várias necessidades físicas que o homem de hoje tem nas grandes cidades e que necessitam ser afrontadas com respeito, responsabilidade e relação.
A abertura do evento contou com a presença do arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal Orani João Tempesta, do arcebispo emérito de Barcelona e presidente da Fundação Antoni Gaudi para as Grandes Cidades, cardeal Lluís Martínez Sistach, e do representante do Ministério do Meio Ambiente e diretor-presidente da Agência Nacional de Águas, Vicente Andreu Grillo.
De acordo com o Santo Padre, são três R que nos ajudam a atuar de forma conjunta diante dos imperativos mais essenciais de convivência: Respeito, Responsabilidade e Relação.
O evento contou com conferências presididas pelo arcebispo emérito de São Paulo e presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Cláudio Hummes. O foco das conversas foi a Laudato Si e Grandes cidades para a reflexão sobre a água, sua qualidade e tratamento, e como obtê-la com alta qualidade em cidades em desenvolvimento
O Congresso apresentou também uma mesa redonda com líderes religiosos, que contou com a participação do cardeal Orani João Tempesta e do rabino Abraham Skorka, sob a condução do professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Miguel Serpa Pereira.
Leia a íntegra da carta escrita por Papa Francisco:
A sua Eminência o Cardeal Lluis Martínez Sistach
Arcebispo emérito de Barcelona
Vaticano, 12 de junho de 2017.
Querido irmão,
O saúdo atentamente, como também a todos os que participam do evento: Congresso Internacional “Laudato si e Grandes Cidades”.
Na Carta encíclica Laudato Si’ faço referência a várias necessidades físicas que o homem de hoje tem nas grandes cidades e que necessitam ser afrontadas com Respeito, Responsabilidade e Relação. São três “R” que ajudam atuar de forma conjunta diante dos imperativos mais essenciais de nossa convivência.
O respeito é a atitude fundamental que o homem há de ter com a criação. Esta a recebemos como um dom precioso e devemos esforçar-nos para que as gerações futuras possam seguir admirando-a e desfrutando-a. Este cuidado devemos ensiná-lo e transmiti-lo. São Francisco de Assis afirmava em seu Cântico às criaturas: “Louvado sejas, meu senhor, pela irmã água, a qual é muito útil, humilde, preciosa e casta”. Nestes adjetivos se expressa a beleza e importância deste elemento, que é indispensável para a vida. Como outros elementos criados, a água potável e limpa é expressão do amor atento e providente de Deus por cada uma de suas criaturas, sendo um direito fundamental, que toda sociedade deve garantir (cf. Laudato si, 30). Quando não se lhe presta a atenção que merece, se transforma em fonte de enfermidades e sua escassez põe em perigo a vida de milhões de pessoas. É um dever de todos criar na sociedade uma consciência de respeito por nosso entorno, isto beneficia a nós e as gerações futuras.
“Cada território e governo deveria incentivar modos de atuar responsáveis em seus cidadãos para que, com criatividade, possam atuar e favorecer a criação de uma casa mais habitável e mais saudável.”
A responsabilidade diante da criação é o modo com o qual devemos atuar com ela e constitui uma de nossas tarefas primordiais. Não podemos ficar com os braços cruzados, quando advertimos uma grave diminuição da qualidade do ar ou o aumento da produção de resíduos que não são adequadamente tratados. Essas realidades são consequência de uma forma irresponsável de manipular a criação e nos chamam a exercer uma responsabilidade ativa para o bem de todos. Além disso, comprovamos uma indiferença diante da nossa casa comum e, lamentavelmente, diante de tantas tragédias e necessidades que golpeiam a nossos irmãos e irmãs. Essa passividade demonstra a “perda daquele sentido de responsabilidade pelos nossos semelhantes sobre a qual se funda toda a sociedade civil” (Laudato si, 25). Cada território e governo deveria incentivar modos de atuar responsáveis em seus cidadãos para que, com criatividade, possam atuar e favorecer a criação de uma casa mais habitável e mais saudável. Colocando cada um o pouco que lhe corresponde em sua responsabilidade, se estará ganhando muito.
Se observa nas grandes cidades, como também nas zonas rurais, uma crescente falta de relação. Com independência da causa que o produz, o fluxo constante de pessoas gera uma sociedade mais plural, multicultural, que é um bem, produz riqueza e crescimento social e pessoal; porém, também faz que esta sociedade seja cada vez mais fechada e desconfiada. A falta de raízes e o isolamento de algumas pessoas são formas de pobreza, que podem degenerar em guetos e originar violência e injustiça. Contudo, o homem está chamado a amar e ser amado, estabelecendo vínculos de pertença e laços de unidade entre todos os seus semelhantes. É importante que a sociedade trabalhe conjuntamente em âmbito político, educativo e religioso para criar relações humanas mais cálidas, que derrubem os muros que isolam e marginam. Isto se pode conseguir através de grupos, escolas, paróquias, etc., que sejam capazes de construir com sua presença uma rede de comunhão e de pertença, para favorecer uma melhor convivência e conseguir superar tantas dificuldades. Dessa maneira, “qualquer lugar deixa de ser um inferno e se converte no contexto de uma vida digna” (Laudato si, 149).
Peço a intercessão da Virgem Santa, Rainha do céu e da terra, por essas jornadas de estudo e de reflexão. Que seu conselho e guia oriente suas decisões em favor de uma ecologia integral que proteja nossa casa comum e construa uma civilização cada vez mais humana e solidária.
Por favor, lhes peço que rezem por mim e peço ao Senhor que vos abençoe.
Fonte: Canção Nova