O papa Francisco e o patriarca Kirill, da Igreja Russa Ortodoxa, fizeram uma reunião histórica no último dia 12, no Aeroporto Internacional José Martí, em Havana (Cuba). No encontro, eles assinaram uma declaração conjunta, na presença de Raúl Castro.
O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, afirmou que o encontro foi “um momento histórico e uma grande alegria para o papa”. Ele acrescentou que a reunião foi “muito cordial” e que eles chegaram a “uma meta”, que é “o ponto de partida de um caminho de unidade e compreensão, que não é fácil, mas muito valioso”.
Em pronunciamento após a reunião, Kirill afirmou que o encontro com o papa permitiu “entender e sentir” a posição do outro e que os dois estão de acordo quanto à possibilidade de católicos e ortodoxos cooperarem na defesa do cristianismo. As duas autoridades pediram uma ação imediata da comunidade internacional para proteger os cristãos do Oriente Médio.
“Em muitos países do Oriente Médio e do norte da África, famílias inteiras, vilarejos e cidades de nossos irmãos e irmãs em Cristo estão sendo completamente exterminados”, afirmaram na declaração conjunta. “Nós esperamos que nosso encontro contribua para o restabelecimento desta unidade desejada por Deus.”
“Nós falamos como irmãos, temos o mesmo batismo, somos bispos”, disse Francisco. “Falamos das nossas Igrejas e concordamos que a unidade se faz a caminhar”.
“Durante duas horas tivemos uma discussão aberta, com pleno entendimento da responsabilidade de nossas igrejas com nosso povo crente, o futuro do cristianismo e o futuro da civilização humana”, disse Kirill. “Os resultados da conversa permitem assegurar que atualmente as duas igrejas podem cooperar defendendo os cristãos de todo o mundo, e com plena responsabilidade, trabalhando juntas”, afirmou o patriarca.
Francisco iniciou os trabalhos mesmo antes de o encontro começar. Perguntado a bordo do voo para Havana sobre quando iria à Rússia ou à China, o pontífice falou: “A Rússia e a China, eu as carrego aqui”, pondo as mãos sobre o coração.
Planejado há anos, o encontro é um importante passo para a reaproximação após uma cisão de mil anos que dividiu o cristianismo. As igrejas Católica Apostólica Romana e Católica Apostólica Ortodoxa se separaram durante o Grande Cisma do Oriente, em 1054, quando os líderes das igrejas em Roma e Constantinopla excomungaram-se mutuamente.
Conheça os pontos-chave da declaração conjunta:
• Um reconhecimento de que “estamos divididos por feridas causadas por conflitos de um passado distante ou recente, por divergências – herdadas dos nossos antepassados”.
• Profunda preocupação pelos cristãos que são vítimas de perseguição. Os dois líderes disseram: “Em muitos países do Oriente Médio e do Norte da África, os nossos irmãos e irmãs em Cristo veem exterminadas as suas famílias, aldeias e cidades inteiras. As suas igrejas são barbaramente devastadas e saqueadas; os seus objetos sagrados profanados, os seus monumentos destruídos”.
• Um apelo a um maior diálogo inter-religioso: “As diferenças na compreensão das verdades religiosas não devem impedir que pessoas de crenças diversas vivam em paz e harmonia”, afirmaram.
• Uma preocupação com a hostilidade secular à religião: “Constatamos que a transformação de alguns países em sociedades secularizadas, alheias a qualquer referência a Deus e à sua verdade, constitui uma grave ameaça à liberdade religiosa. É fonte de inquietação para nós a limitação atual dos direitos dos cristãos, se não mesmo a sua discriminação”.
• Uma defesa dos imigrantes e refugiados: “Não podemos ficar indiferentes à sorte de milhões de migrantes e refugiados que batem à porta dos países ricos”, disseram.
• Um convite à “prudência, à solidariedade social e à atividade de construir a paz” na Ucrânia.
México
Após o encontro, o papa Francisco seguiu para o México, onde fica até o dia 18 de fevereiro. No país, o pontífice se encontrará com o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, além disso, irá realizar missas para indígenas, um encontro com famílias, visita a uma prisão e homílias.
Um dos destaques da viagem deve ser sua missa de encerramento, na tarde de 17 de fevereiro, em Ciudad Juárez. Na ocasião, ele deve expressar sua solidariedade aos migrantes que tentam cruzar a fronteira com os Estados Unidos. A expectativa é de que 200 mil mexicanos e 50 mil texanos se reúnam para a benção do papa.
Fonte| g1.globo.com/ www.ihu.unisinos.br
Foto| Ismael Francisco/ Cubadebate