Papa nomeia jesuíta para escritório de refugiados e migrantes

O padre jesuíta Michel Czern foi nomeado pelo Papa Francisco como um dos subsecretários da Seção para Refugiados e Migrantes, do Departamento para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral

Visando o fortalecimento da Seção para Refugiados e Migrantes, do recém-criado Departamento para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, o Papa Francisco nomeou como subsecretários o padre Michel Czern, jesuíta canadense, e o padre Fabio Baggio, scalabriniano italiano. Ao escolhê-los, Francisco optou por homens com vasta experiência no campo da justiça social, garantindo, assim, que essa seção “tenha garra” na área que ele designou como de primeira prioridade do seu pontificado.

O Vaticano anunciou as nomeações em 14 de dezembro e afirmou que o Papa Francisco nomeou-os como seus ‘colaboradores diretos’ em todas as matérias referentes a refugiados e migrantes. O mandato dos religiosos começará a partir de 1º de janeiro.

“[…] o escritório buscará ajudar o grupo de organizações católicas e agências que atuam na questão dos refugiados e migrantes ao redor do mundo. “

Em entrevista à revista América, padre Czerny enfatizou que o departamento trabalhará diretamente sob o comando do Papa naquilo que se tornou “um dos mais importantes e urgentes fenômenos de nossos tempos: a movimentação de pessoas mundo afora”. Segundo ele, dificilmente se encontra lugar no planeta que não seja atingido por esse fenômeno. “É uma realidade, embora muitos não sejam conscientes disso” afirmou.

O jesuíta descreveu o papel da seção para refugiados e migrantes como aquela “que acompanhará” as pessoas que fogem das zonas de guerra, pobreza, regiões economicamente oprimidas, zonas étnicas, bem como as que sofrem por causa de xenofobia, que está se espalhando em muitos países. Essa oficina “tocará todas as dimensões da experiência humana dessas pessoas que estão em trânsito por qualquer motivo”, disse o Papa.

Padre Czerny sublinhou o fato de que o escritório buscará ajudar o grupo de organizações católicas e agências que atuam na questão dos refugiados e migrantes ao redor do mundo. “Essas instituições têm sido responsáveis e fazem um magnífico trabalho nesse campo há muitos anos”, frisou. Ele explicou também que o serviço do departamento da seção para refugiados e migrantes está intimamente ligado ao desenvolvimento humano integral, porque este desenvolvimento “sem dúvida começa pelo encontro, pela escuta daquilo que as pessoas estão passando.”

O Papa Francisco, em sua fala aos movimentos populares reunidos em Roma (Itália), em novembro de 2016, destacou o drama dos migrantes, refugiados e desalojados. Chamou isso de “desgraça e vergonha” e disse “tratar-se de um problema para o mundo todo. Ninguém deveria ser forçado a sair da sua terra.”

Mas acrescentou que “o mal é redobrado quando, nessas terríveis circunstâncias, os migrantes caem nas mãos de traficantes de pessoas para poderem cruzar as fronteiras. E é triplicado quando, ao chegar ao país onde esperavam encontrar um futuro melhor, são tratados com desdém, explorados e mesmo escravizados. De outra forma simplesmente não são autorizados a entrar”, afirmou o Pontífice na ocasião.

Padre Czerny disse que tais situações serão as prioridades da seção para migrantes e refugiados. “Incluiremos o recrutamento fraudulento de migrantes, o tráfico humano e o contrabando e direção das raízes da migração forçada, bem como ajudaremos diversas comunidades e associações voltadas para o acolhimento dos que batem às suas portas”, explicou. Segundo o jesuíta, “o desenvolvimento humano integral deve começar com o encontro e as boas-vindas”.

Os subsecretários

Michel Czern nasceu na Checoslováquia em 1946, e entrou na Companhia de Jesus no Canadá em 1963. Foi ordenado sacerdote dez anos depois.  Após concluir o doutorado em estudos interdisciplinares na Chicago University, fundou, em Toronto (Canadá), em 1979 o Centro Jesuíta de Fé e Justiça Social. Ele foi diretor do Centro até 1989, quando, após o assassinato dos jesuítas na universidade Centro-americana de El Salvador, foi para lá e tornou-se vice-reitor da universidade e diretor de seu Instituto de Direitos Humanos (1990-1991).

Convocado a Roma (Itália) em 1992, padre Czerny serviu como secretário para a Justiça Social na Cúria de Roma pelos 10 anos seguintes. Em 2002 foi para a África como fundador e diretor da Rede Jesuíta Africana para a AIDS (AJAN), rede de apoio aos jesuítas da África que trabalham no combate à pandemia do HIV.

De 2005 a 2010, lecionou no Hekima College, na Universidade Católica da África Oriental, em Nairóbi (Quênia), onde também colaborou com a Conferência dos Bispos do país. Foi chamado de novo a Roma em 2010 e, desde então, serviu como consultor do cardeal Peter Turkson, presidente do Conselho Pontifício para Justiça e Paz, quando o Papa Francisco o nomeou Prefeito do novo Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, criado em agosto de 2016. Sua indicação pode ser vista também como reconhecimento e forte afirmação da grande contribuição que ele tem feito no Conselho para Justiça e Paz.

 

Fabio Baggio nasceu em Bassano del Grappa, no Norte da Itália, em 1965, e entrou para os Missionários Scalabrinianos de São Carlos em 1976. Professou os últimos votos em 1991 e foi ordenado sacerdote um ano depois. Em 1998, obteve o doutorado em História na Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma (Itália).

Trabalhou como pároco em Santiago do Chile de 1995 a 1997, e foi conselheiro para migrações da Conferência dos Bispos (INCAMI). Depois, até 2002, foi diretor do Departamento para Migração da Arquidiocese de Buenos Aires (Argentina). Em 1999 também trabalhou como secretário do Serviço da Propagação da Fé. De 1999 a 2010, lecionou na Universidade do Salvador, em Buenos Aires, e no Ateneu de Manilha e em Mary Hill School of Theology de Quezon City, nas Filipinas, onde foi diretor do Centro de Migração Scalabrini (SMC) e do periódico Asian Pacific Migration Journal (APMJ). Desde o ano 2000 trabalhou também como professor no International Migration Institute (SIMI), que está incorporado à Faculdade da Pontifical Urban University de Roma. Tornou-se seu presidente em 2013.

A Ordem dos Missionários Scalabrinianos de São Carlos foi fundada na Itália em 1887 para trabalhar com migrantes italianos no novo mundo. Hoje, os padres, as irmãs e as leigas missionárias servem a migrantes, refugiados e desalojados em muitos países.

Os padres Czerny e Baggio são os primeiros nomeados da seção para refugiados e migrantes, do Departamento para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral. Nos três primeiros meses de 2017, eles vão se dedicar a fazer o planejamento e a reorganização dos recursos.

 

Fonte: www.americamagazine.org

Foto do Pe. Czerny: Dianne Towalsdi, The Catholic Spirit

Foto do Papa: L’Osservatore Romano

Tradução da notícia: Pe. José Luis Fuentes Rodriguez, SJ

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