Convidado a participar da palestra Fé no Clima, organizada pelo Iser (Instituto de Estudos da Religião), o padre Josafá Carlos de Siqueira, reforçou a ideia da importância da conscientização ecológica com as mudanças climáticas no planeta. A conversa, realizada no Museu do Meio Ambiente, no dia 22 de agosto, contou com a presença de 12 líderes religiosos de diferentes crenças.
No evento, o reitor da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) destacou ser preciso que os brasileiros tomem consciência da responsabilidade perante as mudanças climáticas. Ele também salientou a relação entre religião e meio ambiente como uma saída para propagar a conscientização ecológica.
Autor de livros como A flora do campus da PUC-Rio e Ética socioambiental, padre Josafá ressaltou a adesão dos ideais ecológicos a partir da encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, para aproximar a fé cristã dos “cuidados com a casa comum”. Convidado para debater sobre a poluição do ar, o reitor da PUC-Rio atentou para a falta de uma visão ética diante do meio ambiente, uma vez que não é apenas uma preocupação científica.
“A preocupação ética é um clamor das religiões, da sociedade e da ciência”
Pe. Josafá
“O clima é um bem comum de todos e para todos. A encíclica coloca isso como uma questão preocupante, porque a sociedade científica fala de apenas uma mudança comum, mas não é. A preocupação ética é um clamor das religiões, da sociedade e da ciência. Para mim, isso é lindo, porque une três grandes preocupações”, ressaltou o jesuíta.
Além disso, padre Josafá sugeriu a reflexão como uma forma de retroceder os problemas. “A sociedade precisa reparar no modo de vida. Se não mudarmos o nosso comportamento, os problemas do meio ambiente irão aumentar progressivamente. Uma solução é repensar no sistema de produção e de consumo”, afirmou.
Segundo ele, outro problema, na esfera da mudança climática, são os ‘refugiados ecológicos’. O termo foi definido pela ONU (Organização das Nações Unidas) para as pessoas que foram forçadas a deixar suas terras por causa da degradação da natureza. Autor de mais de 50 artigos científicos e de 13 livros sobre o meio ambiente, o jesuíta alertou sobre o problema. “O aumento do número de refugiados ecológicos é uma preocupação das religiões. Faço uma pergunta: como criar condições para os refugiados ecológicos? Segundo o Papa Francisco, há uma passividade perante esse tema. Nós temos que pensar em soluções”, comentou.
Um estudo recente da OMS (Organização Mundial da Saúde) apontou que quase 3,8 milhões de pessoas morrem, anualmente, por doenças originadas pela poluição do ar. Dessa forma, padre Josafá afirmou que o individualismo é uma das causas desse problema. “A poluição do ar é um problema de falta de visão integrada do mundo. Não é só um problema tecnológico e científico. A degradação ambiental está intimamente atrelada a degradação social. Nós estamos vivendo a era do individualismo e esquecemos que há pessoas ao nosso redor. O mesmo acontece com a natureza, porque eu percebo que ninguém para um minuto do seu dia para observar a obra do Criador, ou seja, isso é muito raro”, concluiu.
Jornalista aponta a Igreja Católica como local de iniciativas ecológicas
Sônia Bridi, jornalista e escritora de livros como Diário do Clima (editora Globo Livros, 2012), também foi uma das palestrantes do debate. Para ela, utilizar a igreja como meio de socialização é uma oportunidade de dar início a atividades ecologicamente corretas.
“A igreja é um local ideal, porque você passa a conhecer pessoas que estão sempre em contato, ou seja, começa a ter referências. Isso é importante para, por exemplo, começar a montar grupos de carona. Sabemos que o transporte público não chega a todos os lugares do Rio de Janeiro. Assim como, cada um usar carros próprios não faz bem ao meio ambiente. Por isso, você ter confiança e segurança é importante para conseguir firmar esse tipo de iniciativa e a igreja é o local que provem esses dois fatores”, afirmou.
Sônia relatou os bastidores da série Terra, que tempo é esse? do Fantástico, no qual usou as viagens pelo mundo em busca de respostas para as alterações climáticas. Para ela, o replantio de arvores e a produção de uma horta comunitária são formas de reduzir os níveis de poluição no ar atmosférico. “É preciso incentivar o replantio, porque eles deixam o ar mais puro, além de refrescarem o ambiente. Com tanto uso de aparelhos que ainda liberam os gases CFC, plantar árvores é uma forma de reduzir esses impactos. Além disso, a horta comunitária e a compostagem são formas sustentáveis de manter o verde na cidade e ainda reduzir o custo dos alimentos”, comentou.
Fonte: Jornal da PUC-Rio