Em sua fina sabedoria humano-espiritual, Inácio recorda, em uma de suas inúmeras cartas, que – quando se conversa com alguém em nível de profundidade – deve-se descartar a pretensão de adivinhar o que a outra pessoa quer expressar. “Não adivinhe”, alerta Inácio, “e sim escute”. Com efeito, Inácio de Loyola foi um mestre da conversação: diálogo com Deus na Oração, diálogo com outras pessoas, escutando-as para melhor poder ajudar a cada qual em seu modo de ser e em suas circunstâncias.
Um dos tantos frutos brotados da abundante fonte que é a espiritualidade inaciana é a metodologia da conversação espiritual: comunicando mutuamente o que se experienciou diante do Senhor na Oração, cria-se maior comunhão e conjuntamente se discerne a vontade de Deus para as situações atuais. Praticando assim a partilha espiritual, na escuta recíproca, peregrina-se rumo ao maior bem da missão.
Uma outra maneira de buscar efetivar a inspiração inaciana consiste, recorrendo à linguagem tradicional da Companhia de Jesus, desde Inácio de Loyola e os primeiros companheiros, a “cura personalis” e a “cura apostolica”. Ou seja, o cuidado com as pessoas e o cuidado com a missão.
Ora, esse binômio traduz justamente uma das principais atribuições do Delegado da Preferência Apostólica Amazônia (Paam). Por isso é que, a cada ano, o Delegado deve realizar uma visita a cada Comunidade jesuíta sob sua responsabilidade, segundo o previsto nos Estatutos da Província do Brasil (BRA) e as delegações do Provincial ali referidas, e conversar com cada companheiro, e se encontrar com a Comunidade religiosa reunida. Outros contatos e diálogos também ocorrem, mas esses não substituem essa visita canônica anual, após a qual o Delegado deve escrever um pequeno Memorial, que é uma singela carta em que resume os principais pontos não sigilosos das conversas, e estimula os companheiros a superar as dificuldades do caminho e a avançar mais e mais no serviço ao Reino, no chão próprio da Amazônia.
Sendo esse o ano inaugural como Delegado da Paam, com tudo o que isso implica de necessidade de aprendizado nas diversas dimensões, decidi concentrar as visitas canônicas no 2º semestre.
E iniciei a série das visitas canônicas pelo Pará, onde permaneci de 29/07 a 05/08/2024, após ter participado do Encontro da Província em Itaici (que foi aberto com a Eucaristia, no final da tarde de 22/07, e se estendeu até o almoço de 25/07), e de dois outros eventos específicos: jesuítas em formação (manhã e tarde de 22/07) e Rede Diakonia (25/07, à tarde, ao meio-dia de 26/07). Indo ao Sul, aproveitei também para curta e significativa passagem junto à minha Família de origem, incluindo especialmente a Pai e Mãe idosos.
Em Belém do Pará, além de conviver e conversar com os jesuítas residentes na Cidade (padres Valério Sartor, SJ, Bruno Schizzerotto, SJ, e Adilson de Almeida Santos, SJ), e com Pe. Vanildo Pereira da Silva Filho, SJ (Pastoral Indigenista, a partir de Santarém) e Pe. Plutarco de Souza Almeida, SJ (assessoria no campo da comunicação e colaboração paroquial, em Castanhal), tive a feliz ocasião de me encontrar com membros de diferentes obras e outras iniciativas apostólicas do respectivo Núcleo Apostólico: Capela de Lourdes, suas diversas celebrações e outras atividades de cunho religioso e de serviço às pessoas empobrecidas, e intercâmbio com representantes do Conselho da Capela; Centro Alternativo de Cultura (conversa com a equipe; visita a uma Comunidade onde o CAC desenvolve um projeto educativo com crianças e adolescentes).
Além dos compromissos mais formais, a visita valeu (e muito!), pela convivência cotidiana com os companheiros jesuítas, e o compartilhar da vida com muita gente, e a conversa privada com algumas pessoas que o solicitaram ou de quem me aproximei.
Houve a oportunidade de uma entrevista com os bispos auxiliares em Belém (Antônio de Assis Ribeiro e Paolo Andreolli), bem como Dom Carlos Verzeletti, bispo da Diocese de Castanhal, cidade que tomei um dia para conhecer.
A pedido da equipe de comunicação da Capela de Lourdes, compartilhei algumas pequenas palavras sobre nossa identidade inaciana, no horizonte do mês vocacional que principiava.
Sempre no espaço da Paam, neste ano de 2024, celebrei a festa de Santo Inácio de Loyola com o Núcleo Apostólico do Pará, experiência marcante: Missa concelebrada na Capela de Lourdes, seguida de confraternização. Desde aí, bem unido a todo o corpo apostólico amazônico, jesuítas e leigas(os)!
Agradeço imensamente e de coração a tanta gente que, com carinho, me recebeu e, em especial, à Comunidade dos jesuítas de Belém, Santarém e Castanhal, cujos companheiros tão fraternalmente me acolheram e, particularmente, ao Pe. Valério, que muito se empenhou em preparar bem essa visita.
Pe. Rogério Mosimann da Silva, SJ
Delegado para a Preferência Apostólica Amazônia (Paam)