Pesquisa descobre relíquias jesuítas das Missões

Duas esculturas católicas de elevado valor histórico passaram mais de dois anos guardadas no porão da Catedral Metropolitana de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Uma imagem de Santo Antônio e outra de Nosso Senhor dos Passos, ambas pertencentes a reduções jesuíticas, faziam parte da reserva técnica, uma pequena sala onde ficam guardados objetos que não fazem parte do acervo do Museu Sacro da igreja.

Depois de quatro meses de pesquisas, um professor e doutor em Teologia comprovou a autenticidade das obras de mais de três séculos, que estão entre as mais importantes descobertas da época das Missões no Rio Grande do Sul.

A escultura de Santo Antônio é que mais surpreendeu o professor Édison Hüttner, coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Arte Sacra Jesuítico-Guarani da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Com um 1m14cm de altura e 34 quilos, a imagem foi esculpida em resistente madeira de cedro pelo italiano José Brasanelli, um dos artistas mais renomadas dos séculos 17 e 18.

A data de criação da escultura se situa entre 1696 e 1706, ou seja, no período do Brasil Colonial e cerca de três décadas antes da formação oficial do Rio Grande do Sul, em 1737. Possivelmente, teve origem em uma oficina de arte sacra missioneira na região onde, hoje, fica o município de São Borja, na fronteira da Argentina.

Pela importância do entalhe, o trabalho de Brasanelli, de origem jesuíta, representa para o Estado peso semelhante ao de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, para a história de Minas Gerais durante o Império. “O Santo Antônio é uma das grandes artes missioneiras do Estado”, afirma Hüttner, que em maio confirmou que o museu de Santa Maria conserva, também, o sino missioneiro mais antigo do Estado, com 333 anos. Clique aqui e saiba mais.

Apesar da idade, o santo está muito bem conservado. As cores, contudo, sofreram alguma repintura ao longo dos anos, especialmente o rosto, em formato quase infantil. Esse detalhe da face da escultura ainda é desconhecido, e talvez tenha seguido uma tendência da arte europeia daquele período.

Imagem foi encontrada em estrada

Já a imagem de Nosso Senhor dos Passos tem 80 cm de altura e pesa quase 10 quilos. A obra, de artista desconhecido, provavelmente um artesão amador, foi esculpida em cedro no século 18. Segundo Hüttner, pode ter sido feita por um índio guarani.

A imagem, que resistiu aos anos, mostra Cristo curvado e teria sido usada em algum ritual religioso. Nas costas, ele carregava uma cruz de madeira que não existe mais. A pequena escultura está bem desgastada, com braços presos ao corpo por cravos (espécie de prego de ferro).

A escultura chegou às mãos da direção do Museu Sacro há cerca de quatro anos. A responsável técnica do museu, Neila da Silva Guterres, conta que a obra foi achada abandonada às margens da Estrada do Perau, sob sol e chuva – o que acelerou o processo de deterioração da madeira.

Fonte: Diário de Santa Maria

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