Começou na manhã do dia 18 de março, segunda-feira, a 10ª programação de Páscoa do IHU (Instituto Humanitas Unisinos). O professor André Wenin (foto), da Universidade Católica de Louvain da Bélgica, refletiu sobre o início do mundo e o jeito que ele é descrito no livro inicial da bíblia, o Gênesis.
“Os quatro primeiros capítulos de Gênesis são textos de natureza particular, que poderiam ser qualificados como míticos”, afirma Wenin. Segundo ele, os textos estudados são relatos, que muitas vezes, são enigmáticos e completa: “Esses textos não nos dão certezas, eles não são teologia, são relatos que falam de questões teológicas”.
Desmembrando o texto, percebe-se todo o cuidado que se teve na criação do mundo. “No primeiro dia, Deus controi uma primeira obra. Cria uma alternância entre luz e trevas, dia e noite. No segundo dia, Ele vai se ocupar em separar o abismo das águas. No terceiro dia, separa a terra seca do mar. No quarto dia, surgem as luminárias, que também vão criar os calendários da humanidade. No quinto dia, a criação dos animais e no sexto, a humanidade”.
A questão que fica no ar é: se Deus terminou tudo em seis dias, porque Ele ainda fez o sétimo dia para descansar? Wenin explica: “Em hebraico está escrito que ele termina e descansa no sétimo dia”. A possível resposta pode ser interpretada pelo que não foi dito. “Deus não diz que ‘estava bom’ depois que criou o homem. Ou seja, o ser humano não estava pronto e até hoje não está: somos incabados, em constante progresso”, pontua.
A criação do mundo é, segundo o professor, concebida de maneira lógica e equilibrada e pode ser dividida assim: nos primeiros três dias, Deus estabelece um quadro imóvel que não evolui: Ele monta o mundo. A partir do quarto dia, começa a ornamentação da terra, com a criação das coisas que se movem. Para entender a existência do sétimo dia, Wenin explica que Deus se afasta de sua obra para que ela esteja completa. Isso porque Deus “dá a vida de maneira generosa: de mão aberta. Ele não controla; pelo contrário, liberta”. Assim, ele conclui a criação deixando o livre arbítrio para cada ser.
Exemplificando, o professor compara esse ‘afastamento’ de Deus com o desenvolvimento de uma criança: “Para crescer, ela precisa ser olhada com admiração. Ela precisa de um espaço do olhar do outro, que ela se sinta considerada, admirada”. Assim Deus fez: parou, se afastou e admirou sua obra. “Ele coloca um ponto final do seu domínio como recurso do seu poder. Ele é mais forte que o seu próprio poder”, afirma Wenin. Assim como Deus se auto-limita, o ser humano, que é feito à imagem dEle, tem essa capacidade: “Deus sugere ao homem que é possível dominar o animal sem matá-lo. E isso é justamente colocar um limite em seu domínio, que foi concedido por Deus”.
Fonte: IHU